Como é do conhecimento da psicanálise, a mãe representa a primeira figura de apego e objeto amoroso para o ser nascente; e cada criança que nasce — para a filósofa Hannah Arendt — representa o sentido de renovação da humanidade e é sempre uma esperança. Aqui, a mãe constitui um elo fundamental para o desenvolvimento psíquico e emocional do ser nascente. A relação mãe-filho é vista como essencial para o desenvolvimento saudável, sendo a mãe a principal fonte de amor e segurança. A qualidade dessa relação pode afetar significativamente o desenvolvimento emocional e psíquico da criança.
De acordo com Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, a mãe é a primeira figura de apego e exerce uma função crucial no desenvolvimento psíquico e emocional da criança, considerando que a relação mãe-filho é o primeiro modelo de relacionamento que a criança internaliza, influenciando, por sua vez, as futuras relações na vida adulta — consigo mesma, com o outro e com o mundo. A qualidade dessa relação afeta a construção do “eu” da criança, sua capacidade de lidar com a frustração e a organização da sua vida psíquica diante do mundo; daí a importância da figura materna — para além da lógica do capital — ao acentuar o complexo de Édipo, tão bem analisado por Freud.
Winnicott, renomado psicanalista, destaca que a mãe, sem precisar ser perfeita, deve ser suficientemente boa para atender às necessidades do bebê, permitindo-lhe um desenvolvimento saudável, sem gerar dependência. Em Lacan, a função materna atua como mediação da lei, que a criança internaliza como um “traço paterno”.
Entretanto, por estar ligada diretamente ao ato natural de gerar a vida, a mãe será sempre objeto de aceitação e adoração. Que o digam nossas poetisas — Florbela Espanca e Cora Coralina.
Mãezinha
Andam em mim fantasmas, sombras, ais…//
Coisas que eu sinto em mim, que eu sinto agora//
Névoas de dantes, dum longínquo outrora//
Castelos d’oiro em mundos irreais…//
Gotas d’água tombando… Roseirais//
A desfolhar-se em mim como quem chora…//
— E um ano vale um dia ou uma hora//
Se tu me vais fugindo mais e mais!…//
Ó meu Amor, meu seio é como um berço!//
Ondula brandamente… brandamente…//
Num ritmo escultural d’onda ou de verso!//
No mundo – quem te vê?! Ele é enorme!…//
Amor, sou tua mãe! Vá… docemente…//
Pousa a cabeça… fecha os olhos… dorme…
Mãe
Renovadora/
e reveladora do mundo//
A humanidade se renova no teu ventre//.
Cria teus filhos/
não os entregues à creche//
Creche é fria, impessoal//
Nunca será um lar/
para teu filho//
Ele, pequenino, precisa de ti//
Não o desligues da tua força materna.
*José Gadêlha Loureiro, professor de História e Secretário Geral da ADEEP-DF (Associação de Diretores e Ex-diretores das Escolas Públicas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal). Siga-nos – Instagran: @prof.gadelhadf