Por Miguel Lucena
Drummond não pergunta por perguntar. Sua poesia é uma súplica contra a ausência. “Por que Deus permite que as mães vão-se embora?” – pergunta ele, e com isso desafia o tempo, Deus e a morte. A mãe, para o poeta, não cabe na lógica do efêmero. É luz que não apaga, mesmo diante das tempestades do mundo. A morte, diz ele, é para os que passam sem deixar vestígio. Mas mãe é vestígio que grita, que embala, que consola.
A poesia eterniza o afeto materno na memória, na pele enrugada, no silêncio cheio de lembrança. É protesto doce e desesperado contra a finitude. Drummond queria um decreto universal: mãe não morre nunca.
E quem já perdeu a sua entende: não há luto que apague a presença. Mãe vive no cheiro do café, na toalha bem dobrada, no conselho repetido. Morre o corpo, mas não a função.
Porque, no fim, Drummond acerta ao imaginar um mundo mais justo, onde:
“Mãe ficará para sempre junto do seu filho /
E ele, velho embora, será pequenino /
Feito grão de milho.”