Por Miguel Lucena
Dizia um político de Sergipe, com a sinceridade que só os matutos canalhas conseguem disfarçar: “Tem gente que só sabe meter a língua por trás; quero ver é meter pela frente!” A frase, de duplo corte e tripla malícia, servia tanto para denunciar os fofoqueiros como para se esquivar dos próprios pecados.
Na política, língua solta é arma. Uns metem pelas costas e se dizem amigos; outros, mais corajosos ou mais burros, metem pela frente e se queimam. O sujeito de Sergipe metia a língua nos microfones, nos discursos, nas promessas. E quando pegava mal, dizia: “Foi mal interpretado.”
No fundo, a língua é o órgão mais musculoso da hipocrisia. Vai onde o dono não tem coragem de ir com o corpo todo. E, na política, vale mais uma boa língua do que uma ficha limpa.