Lei Zé da Peia

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Foto: Ilustração

 

Por Miguel Lucena

 

 

Mesmo com o olho ainda latejando da pequena cirurgia que fiz de manhã, resolvi encarar o dia como se nada tivesse acontecido. Fui ao banco, passei na papelaria e, por volta do meio-dia, entrei no Chico Pança, o tradicional self-service da 415 Sul. Enquanto escolhia entre a carne de panela e a tilápia empanada, já sentia uns olhares de soslaio vindo da mesa ao lado. Era um grupo de adolescentes uniformizados, provavelmente de um desses colégios importantes da Asa Sul.

Sentei, comecei a comer devagar, tentando não pensar no incômodo do curativo no rosto, quando ouvi a pérola:
— Isso aí devia virar caso de Lei Zé da Peia! Homem também apanha, pô!

Risadinhas. Ironias. Um outro emendou:
— Igual o tiozão ali, ó…

Foi quando percebi que, além da tilápia, eu era o prato do dia. Entendi também que, embora ainda imberbes, aqueles jovens já reproduziam, com fervor precoce, o velho machismo embutido em embalagem de piada. Transformavam a dor, mesmo que clínica, em deboche, e ainda queriam moldar uma “lei de proteção” para si — não por justiça, mas por escárnio.

Terminei meu prato, deixei o Chico Pança com o olho ainda inchado — e o espírito mais ainda.

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