Aldemario Araujo Castro
Advogado
Mestre em Direito
Procurador da Fazenda Nacional
Brasília, 17 de abril de 2022
http://www.aldemario.adv.br
No “Livro do Espíritos”, de Alan Kardec, a pergunta 625 foi apresentada (aos espíritos) nos seguintes termos: “qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?”.
A resposta foi dada em uma palavra: “Jesus”.
Existe uma “pergunta corolário”, a partir da anterior e sua resposta: Jesus é modelo ou guia de quê?
Respondo eu, sem concurso dos espíritos consultados por Kardec. Jesus é o modelo ou guia da mais importante e revolucionária pauta moral para a evolução do ser humano e da sociedade humana.
A essência (ou a síntese) do pensamento de Jesus Cristo está registrada na Bíblia (Marcos 12:30,31): “amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”.
Essa é a revolução proposta pelo Cristo: a revolução do amor. Em suma, a renúncia consciente de todos os sentimentos e práticas destrutivas ou negativas. Nada de vingança, de ódio, de violência, de egoísmo, de orgulho, de discriminação, de injustiça, etc, etc, etc.
Essa revolução é um processo, um caminho, uma estrada (permanente). São testes diários, de todos os tipos e intensidades, a serem enfrentados nesta e em outras vidas (para aquelas e aqueles que admitem a reencarnação como ferramenta necessária para a evolução espiritual). Existe, inclusive, uma máxima da prática cristã (a “regra de ouro”) que orienta cada passo, cada ato, cada conduta, cada comportamento na trilha da vida: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lucas 6:31).
Perceba a radical transformação pessoal e social proposta por Jesus. Não é fazer aos outros o que fizeram conosco. Também não é dar o que os outros merecem.
A moral cristã também contém o “desafio de ouro” no plano visceralmente prático. O exercício do perdão talvez seja a mais forte e a mais sublime demonstração de amor. Também é a maior revelação do estádio de evolução espiritual.
Primeiro, Jesus respondeu a Pedro: “Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete”. A pergunta: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete?” (Mateus 18:21-22). Mas a primeira fala da cruz é absolutamente desconcertante. Está em Lucas 23:34: “Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem”. Essa frase foi pronunciada por alguém crucificado e depois de ter sofrido as maiores ofensas morais e torturas físicas imagináveis.
Não se perca de vista que a moral cristã possui inequivocamente duas dimensões: a pessoal e a social. Não existe espírito evoluído ou em evolução, praticante do amor e do perdão, isolado na ilha de Crusoé. O projeto de felicidade é, ao mesmo tempo, individual e coletivo. Não existe amor em meio às violências, discriminações, desigualdades socioeconômicas, misérias e fomes.
Kardec perguntou: “É lei da natureza a desigualdade das condições sociais?” (questão 806). A resposta dos espíritos foi a seguinte: “Não; é obra do homem e não de Deus”. Jesus foi mais categórico: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mateus 19:24).
Na minha modesta interpretação, a fala de Jesus está dirigida a todo e qualquer sistema ou modelo de organização socioeconômica, independentemente do “ismo” de estimação, e seus instrumentos de realização na forma de “vontades políticas” voltadas para dominações e opressões.