Nova seção do Mapa Nacional da Violência de Gênero revela mais de 1.500 casos de violência contra brasileiras no exterior em 2023, com destaque para a Itália e dados alarmantes sobre violência vicária
Em 2023, mais de 1.500 mulheres brasileiras que residem no exterior registraram casos de violência de gênero nos consulados brasileiros, conforme os dados mais recentes do Mapa Nacional da Violência de Gênero. Esta nova atualização da plataforma, viabilizada pelo Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV), do Senado Federal, e apoiada pelo Instituto Natura e Gênero e Número, revela informações inéditas sobre a situação de violência contra brasileiras fora do Brasil.
A plataforma, que completou um ano, agora disponibiliza dados sistematizados sobre as ocorrências nos consulados e embaixadas brasileiras em 186 repartições consulares, incluindo embaixadas e vice-consulados. A colaboração entre o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Senado Federal possibilitou o acesso a essas informações, que são vitais para o enfrentamento da violência de gênero.
Violência vicária: a realidade global
Uma das descobertas mais alarmantes foi que 58% dos casos registrados foram de violência vicária, um tipo de violência onde a mulher é agredida por meio de terceiros, como filhos ou familiares. Esse tipo de agressão, frequentemente não discutido, foi responsável por 904 registros em 2023. A violência vicária inclui disputas de guarda e subtração de menores, que somaram 808 e 96 casos, respectivamente, com destaque para países como Portugal e Alemanha, que possuem grandes comunidades brasileiras.
Itália no topo do ranking
A Itália lidera o ranking dos países com o maior número de casos de violência contra mulheres brasileiras no exterior, com 350 registros em 2023. Em seguida estão os Estados Unidos com 240, Reino Unido com 188, Portugal com 127 e Espanha com 94. O estudo também destaca países com menor número de brasileiros, mas que ainda assim apresentam casos significativos, como o Egito e a Irlanda, com 64 e 50 registros, respectivamente.
Desafios no acesso a informações e ajuda consular
Apesar do avanço nas informações disponibilizadas, o Mapa Nacional da Violência de Gênero indica que 48,8% das repartições consulares não registraram nenhum caso de violência em 2023, o que pode refletir uma falta de informação sobre como as mulheres podem solicitar ajuda ou até mesmo a subnotificação dos casos.
“A falta de informação adequada nos consulados sobre a possibilidade de denunciar violência doméstica impede muitas mulheres de buscar apoio. A criação de redes de apoio para brasileiras no exterior é crucial para garantir seus direitos e dignidade”, afirma Elga Lopes, diretora da Secretaria de Transparência do Senado Federal.
O papel da sociedade e dos órgãos públicos
A iniciativa de coletar e compartilhar esses dados é fundamental para a criação de políticas públicas mais eficazes e para o fortalecimento da rede de apoio a brasileiras vivendo fora do país. Além disso, o Mapa Nacional da Violência de Gênero, lançado em 2023, continua a ser uma ferramenta crucial para visibilizar a violência contra as mulheres, seja dentro ou fora do Brasil.
“A transparência e a qualidade dos dados são essenciais para que nenhuma brasileira seja deixada para trás”, afirma Vitória Régia da Silva, presidente da Gênero e Número, destacando a importância dessa nova atualização do Mapa.