Incerteza com vacina e risco fiscal retardam retomada econômica em 2021

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O embaraço do governo federal em lidar com a pandemia do novo coronavírus e com o recrudescimento da crise fiscal são as principais ameaças à retomada da economia em 2021, apesar do carrego estatístico impulsionado pela alta de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano passado.

Os dois vetores já começam a pressionar o otimismo dos analistas, que passam a enxergar dados menos robustos do que no início do ano. Economistas e entidades consultadas pelo Banco Central estimam crescimento de 3,3% em 2021, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 1º. Há um mês, a projeção apontava avanço de 3,5%.

A conta da falta de habilidade para consolidar o ritmo de imunização já deve ser cobrada neste primeiro trimestre com a retração das atividades na comparação com o período anterior. A letargia na vacinação em massa em meio ao pior momento da pandemia arrisca expandir o desempenho negativo para os meses de abril, maio e junho, levando o Brasil novamente a uma recessão técnica, fenômeno que caracteriza dois trimestres seguidos de contração econômica.

Já o risco de descontrole da dívida pública voltou a dar as caras no fim de janeiro, quando o avanço dos números de infectados e mortos pela Covid-19 começou a pressionar o governo para a retomada do auxílio emergencial. O novo gasto sem pilares fundamentais para a sustentação do crescimento cíclico, como as agendas de reformas e privatização, aumenta a percepção de irresponsabilidade da classe política com os cofres públicos.

Analistas ouvidos pela Jovem Pan apontam como as crises econômica e sanitária se retroalimentam. A necessidade do aumento dos gastos para frear o avanço da pandemia, que por sua vez é agravada pela omissão do próprio governo federal em prover vacinas — e pelas ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que especialistas em saúde classificam como negacionistas —, é um exemplo. A correlação entre essas duas frentes também é exposta com a ausência de uma coordenação da agenda de reformas e como isso cria um cenário para a erosão da atividade econômica.

Sem o auxílio emergencial, a crise financeira força as pessoas a saírem de casa para buscar alguma fonte de renda, contribuindo ainda mais para o avanço da Covid-19. Independentemente da situação, o resultado tolhe a capacidade do país se recuperar após o tombo de 4,1% do PIB registrado no ano passado.

“Até se pode comemorar que a queda veio bem menor do que o esperado seis meses atrás. Mas, infelizmente, o que vemos na área política, tanto com a pandemia, quanto na crise fiscal, vai na direção para derrubar o PIB em 2021. Celebrar os resultados nesse contexto é olhar para o retrovisor com nuvens sisudas à frente”, afirma Carlos Kawall, diretor do ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional. Para o economista, o cenário sem grandes expectativas dá margem para crescimento entre 2% e 2,5% em 2021.

Alexandre Schwartsman, consultor econômico e ex-diretor do Banco Central, projeta alta do PIB para algo em torno de 2,8% a 3,2%, puxado pelo impulso acima do esperado registrado no quatro trimestre do ano passado. Apesar do número positivo, o analista é enfático ao afirmar que o princípio para qualquer plano de recuperação é a imunização massiva dos brasileiros. “Sem resolver a questão sanitária, não vai resolver a questão econômica”, diz.

Os indicativos emitidos até então, no entanto, não apontam para esta direção. Dados do site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, mostram que, pouco mais de dois meses e meio entre o início da vacinação no país, em 17 de janeiro, até esta quinta-feira, 4, somente 4,5% da população foi imunizada. “A visão é péssima. Nós temos basicamente duas vacinas, que são ok, mas há muito problema na logística. Quanto tempo irá levar para vacinar 100% da população? Se não acelerar isso, não resolve o problema”, diz Schwartsman.

No campo fiscal, o temor é representado pela retomada do auxílio emergencial sem que medidas de austeridade sejam chanceladas pelo Congresso.

Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, que abre espaço no orçamento para o benefício, será debatida pela Câmara dos Deputados na próxima quarta-feira, 10, após passar pelo Senado na semana passada.

Apesar de desidratada com a retirada de pontos que poderiam diminuir a pressão sobre os gastos públicos no curto prazo, como a desindexação de gastos obrigatórios com saúde e educação, a aprovação do texto, com gatilhos para a redução de custos e o limite de R$ 44 bilhões para o auxílio emergencial, pode ser considerada uma vitória para o governo federal.

O Executivo aguarda a PEC ser aprovada também pelos deputados para então publicar a medida provisória que autoriza a retomada do auxílio. A expectativa é que as novas rodadas sejam de R$ 250 para a maior parte dos beneficiados e de R$ 375 para mulheres responsáveis pelo orçamento doméstico. A primeira parcela deve ser distribuída ainda neste mês, com pagamentos previstos até junho para 44 milhões de brasileiros. No ano passado, o benefício consumiu mais de R$ 320 bilhões, com distribuição de parcelas que variaram de R$ 300 a R$ 1,2 mil, para cerca de 67 milhões de pessoas.

 

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