Importância da Odontologia na prevenção de doenças provocadas pela obesidade mórbida infantil

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

 

 

 

De acordo com análises da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Desiderata, que atua para promoção da saúde de crianças e adolescentes, cerca de 40 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade e 340 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos apresentam sobrepeso ou obesidade e, se as tendências atuais continuarem, haverá mais crianças e adolescentes com obesidade do que com desnutrição moderada e grave até 2022.

 

 

No Brasil, os índices de sobrepeso refletem os índices mundiais e têm impacto nefasto em diversas áreas do desenvolvimento infantojuvenil, tais como maior probabilidade de obesidade na vida adulta, desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes, acréscimo de doenças mentais e redução de níveis de escolaridade.

 

 

É importante destacar o quanto a boca desempenha um papel fundamental na saúde em geral. O órgão desenvolve funções variadas e complexas: nutrição, hidratação, fala, comunicação, estética, além do significado psicoemocional.

 

 

O profissional de Odontopediatria, por atuar primeiramente prestando orientações sobre os riscos do consumo de alimentos com potencial cariogênico, os cuidados com a higiene bucal e incentivo ao aleitamento materno, com ênfase no período de aleitamento materno exclusivo, ocupa papel importante na conscientização acerca de hábitos alimentares adequados para a infância.

 

 

A fim de compreender melhor a atuação do odontopediatra neste contexto, bem como a prevenção de doenças, entrevistamos a Profa. Dra. Eliana Mitsue Takeshita Nakagawa, que é professora adjunto na disciplina de Odontopediatria do Curso de Odontologia da Universidade de Brasília – UnB.

 

 

CRO-DF: Podemos afirmar que o odontopediatra é um promotor da saúde integral na infância e atua enquanto auxiliar na prevenção da obesidade infantil?

 

 

Sim. Como o atendimento do odontopediatra se estende desde o nascimento até a adolescência, sua atuação na identificação de crianças em risco ou com obesidade é de extrema importância. Crianças e adolescentes obesos tendem a ser obesos na fase adulta, acarretando problemas de saúde. Portanto, o odontopediatra é capaz de contribuir na prevenção da obesidade infantil por meio de  orientações sobre dieta e saúde bucal e realizar o encaminhamento adequado para o médico pediatra ou para nutricionistas, já que, dependendo da faixa etária, os pais acabam deixando de levar seus filhos às consultas médicas preventivas e de acompanhamento.

 

 

CRO-DF: Como a obesidade mórbida pode afetar a saúde bucal na infância?

 

Crianças com obesidade mórbida apresentam uma dieta alterada rica em gorduras e carboidratos que, associada a outros fatores, podem promover o desenvolvimento de alterações bucais prevalentes durante a infância, como cárie dentária, erosão e gengivite. O consumo excessivo de açúcar e bebidas ácidas açucaradas é um dos fatores causais comuns a essas alterações bucais e à obesidade.

 

 

CRO-DF: Quais doenças é possível identificar com maior frequência em consultório?

 

 

Como citado anteriormente, as principais alterações bucais identificadas são cárie dentária, erosão e gengivite. Porém, estudos na literatura são controversos. Alguns demonstram uma associação positiva e outros, negativa com a obesidade infantil, ou seja, dependendo da população da qual a criança faz parte, nem sempre as obesas apresentam alta prevalência de alterações bucais. Apesar de a dieta rica em açúcares ser fator causal de ambas as alterações, outros fatores como higiene bucal precária, nível socioeconômico e hábitos culturais também podem influenciar.

 

 

CRO-DF: Há algum fator comportamental ou ambiental que dificulta a adesão das crianças ao tratamento?

 

 

Uma das principais dificuldades para a adesão ao tratamento é a conscientização tanto da criança como dos pais. Apesar do avanço na divulgação de informações por mídias sociais, ainda há a crença cultural de que os dentes decíduos são temporários e serão substituídos pelos dentes permanentes. Porém, sabemos a importância dos dentes decíduos, pois estão envolvidos nas funções mastigatória, estética, com o desenvolvimento da oclusão e guia de erupção para os dentes permanentes. Além disso, sabe-se que a presença de alterações bucais não tratadas, principalmente a cárie dentária, tem um impacto negativo na qualidade de vida das crianças e dos pais.

 

Portanto, há necessidade de alterações comportamentais que dependem da colaboração de ambos. São necessárias mudanças nos hábitos alimentares, tanto na quantidade como na qualidade dos alimentos consumidos, nos hábitos de higiene bucal (escovação, uso de dentifrício fluoretado e fio dental), no incentivo à realização de atividades físicas e ao menor tempo de uso de telas, ou seja, no incentivo aos hábitos saudáveis. Outras dificuldades que o odontopediatra enfrenta estão relacionadas ao constrangimento das crianças ou dos pais na abordagem do assunto, além da aceitação das orientações no manejo da obesidade, dadas pelo odontopediatra.

 

A promoção da saúde nos primeiros anos de vida da criança contribui para a maior sobrevida e para a qualidade de vida. Muito mais que uma questão estética, a obesidade é uma doença e precisa ser levada a sério. A fim de garantir uma abordagem integral, é importante a atuação multiprofissional na qual diferentes especialidades devem trabalhar em conjunto: pediatras, odontopediatras, nutricionistas e enfermeiros. Todos focados em orientar, de forma adequada, a família e promover a nutrição infantil, de modo que se obtenham saúde oral, adequado crescimento e desenvolvimento infantil.

 

Mais lidas

O forasteiro, o slogan “Galvão” e o ataque...
Fecomércio-DF celebra a força do setor com...
Bolsonaro deixa UTI em meio a pressão do STF
...