Oposição pressiona por CPMI do INSS, mas governo e Centrão tentam barrar investigação
A oposição protocolou nesta segunda-feira (12) um pedido para criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) com o objetivo de investigar a fraude bilionária no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O requerimento, liderado pela deputada Coronel Fernanda (PL-MT) e pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), conta com 259 assinaturas de parlamentares – número superior ao mínimo necessário – e prevê uma comissão composta por 30 membros, sendo 15 deputados e 15 senadores.
O custo estimado para a instalação da CPMI é de R$ 200 mil. No documento, os proponentes destacam a gravidade das denúncias, citam a demissão do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e pedem apuração rigorosa para corrigir falhas no sistema de controle e fiscalização.
Apesar de ser uma proposta da oposição, o requerimento ganhou apoio inesperado de parlamentares alinhados ao governo, como Tabata Amaral (PSB-SP). O PSB, que comanda dois ministérios no governo Lula, forneceu ao menos seis assinaturas, incluindo a do senador Flávio Arns (PR).
Entretanto, a abertura da CPMI enfrenta resistência dentro do próprio Congresso. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sob influência do Palácio do Planalto, sinaliza que pode engavetar o pedido. A movimentação tem respaldo de líderes do Centrão, que temem que as investigações atinjam não apenas o atual governo, mas também gestões passadas e parlamentares envolvidos com entidades que promoviam descontos irregulares em aposentadorias.
Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), os desvios investigados pela Polícia Federal ultrapassam R$ 6,3 bilhões. A prática, envolvendo cobranças indevidas de associações sobre aposentadorias e pensões, teria começado em 2016. Na última semana, seis servidores do INSS foram afastados, incluindo Stefanutto, demitido por ordem direta do presidente Lula.
O escândalo também levou à saída do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, acusado de omitir os desvios. Apesar de negar envolvimento, foi substituído por seu aliado Wolney Queiroz, num movimento que gerou críticas sobre a continuidade da influência do PDT no comando da pasta.
Na Câmara, parlamentares tentam pressionar o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) a autorizar uma CPI exclusiva sobre o tema. Motta, porém, também age para conter o avanço, alegando que há ao menos 12 pedidos anteriores aguardando análise.
A tentativa de abafamento da investigação por parte do governo e seus aliados contrasta com a gravidade do esquema revelado, sinalizando mais uma vez o impasse entre a necessidade de transparência e a lógica de proteção política nos bastidores de Brasília.