Os guerreiros, alunos e alunas do Centro de Ensino Médio nº 09 que conquistaram o sonho de ingressar na Universidade de Brasília (UnB), por meio do PAS, tiveram a oportunidade de falar como vivenciaram a trajetória, que contou com o apoio de professores, da coordenação e da direção de escola. Confira mais abaixo o que pensam e as experiências dos futuros universitários.
O portal Tudo OK Notícias entrevistou alguns dos alunos e um dos responsáveis pelo êxito da jornada, o professor e diretor da escola José Gadelha Loureiro. Incentivador e defensor da escola pública, o docente compartilhou alguns pontos a serem analisados em prol da melhoria do ensino público.
Numa sala de aula do CEM nº 09, a conversa fluiu ao longo de quase uma hora. Em uma intervenção do professor Gadelha, ele contou que sempre defendeu, quando o tema é o modelo de escola pública, as diretrizes de Darcy Ribeiro – educador, escritor, primeiro reitor da UnB, ex-ministro da Educação, senador, entre outros atributos.
Desse modo, de acordo com o professor, é possível se tirar da rua uma criança e um adolescente, principalmente, naquela fase dos 12, 13 anos, em que o menino quer ser homem e a menina já acha que é mulher.
“Primeira coisa, a escola é quem tira. Não é vale gás, vale isso, vale aquilo, que resolve problemas sociais. É o tempo dentro da escola. O ensino médio para vocês, seria assim. Terminada a aula na escola, vocês sairiam para fazer ensino técnico. Aprender uma profissão”, declarou Gadelha.
Ele tem convicção de que ninguém substitui o papel do pai e da mãe. Trata-se daqueles que primeiro apresentam o mundo para seus filhos. E, depois, é o professor que faz a mediação, a separação entre público e privado.

“O que estamos vendo, hoje, é cada dia mais menino mais mimado, adolescente mais prostrado. Precisa estar preparado para os embates da vida. Na universidade é onde se sente o choque das desigualdades do país. E como se mostra? É com o empenho, com o estudo desnivelado. Aí você vai ver muitas desistências. São pessoas que eram crianças mimadas, não viram os embates da vida.”
Os alunos falam
Os alunos do CEM nº 09 conforme iam respondendo às indagações, fizeram colocações mostrando a realidade vivenciada na escola referência. Quais foram os incentivadores, sempre em primeiro lugar a família, nesse caso. Depois de explicarem qual o curso que frequentarão na UnB, de forma crítica, expuseram o que foi positivo e as deficiências ainda a serem corrigidas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) na escola pública. Uma afirmação que chamou a atenção é que alunos de escola pública são marginalizados. Expressão compartilhada por muitos alunos ouvidos pelo Tudo Ok Notícias.
Alana Kailane de Souza Ismael
Cursará Farmácia na UnB, teve como referência em sua vida a família. “As pessoas que sempre incentivaram em tudo o que está acontecendo na minha vida”, disse. “Em primeiro lugar Deus e depois minha família.” Para ela, a escola pública tem papel importante na vida do cidadão. No entanto, é preciso incentivar mais os alunos para que eles pensem o que querem ser na vida. “Está faltando essa conversa para incentivar a pessoa a pensar na escolha da profissão correta”.
Beatriz Vitória

Passou na prova do PAS estudará Enfermagem na UnB, com início dia 7 de janeiro. Ela tem como maior sonho ser uma boa profissional. Também “conseguir terminar esse curso com esse entusiasmo com que estou começando.”
No futuro, se especializará, quer fazer pós-graduação. Para Beatriz, os estudantes de escola pública são marginalizados não pela escola, mas pelos demais. Muitas vezes o governo deixa a gente de fora, de qualquer jeito, não dá assistência”. Ela disse que é favor da quota racial. “Primeiro pela reparação histórica. Segundo porque os negros são descriminalizados. São vistos de uma maneira diferente da gente. Apesar de não serem, ainda tem muita gente que tem esse preconceito. Muitas vezes a sociedade vai dificultar para ele. Então é importante que tenha essa quota.
Osvaldo Caio Mendes Pacheco
O sonho dele era cursar Medicina. Passou no PAS para estudar nessa área na UnB. Sobre o ensino público, ele acha que a escola é essencial “porque é na escola que somos apresentados aos projetos de prova, tipo Enem, PAS. Na escola temos uma visão de futuro”.
Para ele é importante planejar além do Ensino Médio. Além disso, ocorre a preparação para encarar o PAS. “Graças à escola que temos o preparo para fazer essas provas. Claro que a gente precisa estudar por fora, mas a escola é essencial”, frisou. É importante o apoio necessário dos professores para realizar o sonho, que, inclusive, é o da família também.
“Na escola, temos bastante apoio, mas ainda não o suficiente. Nós, da escola pública, somos marginalizados socialmente. Acaba que falta uma estrutura, tanto financeira, quanto de apoio psicológico. Para que seja possível deixar os alunos mais tranquilos nessas questões das provas.”
A família é como se fosse a base, “se não fosse a família nenhum de nós estaríamos aqui. Ele teve apoio da família, tanto financeiro, como por meio de palavras de motivação: “Ei, você vai conseguir, vai dar certo. Eu acho que o incentivo familiar é tudo.”
Sobre o governo, ele entende que falta “bastante investimento”. Tanto em estrutura quanto em uma carga horária maior. Um ensino de melhor qualidade. “Os professores são ótimos aqui na escola, mas ainda assim falta um preparo que pode ser melhor. Eu acho que sempre pode melhorar.”
Maria Júlia Dávila Oliveira
Passou na UnB e irá cursar Administração. Na opinião dela, “um dos gargalos é o verdadeiro empenho das políticas públicas, os projetos e o apoio aos alunos.”
Segundo Maria Júlia, deveriam ser oferecidos mais cursos profissionalizantes, a fim de viabilizar uma melhor colocação no mercado.
Paulo Henrique Rocha dos Santos
Engenharia da Computação, área bastante concorrida, atualmente, foi o curso que este aluno escolheu na prova do PAS e que irá cursar na UnB. Está com 19 anos. Mais um aluno que lembrou do apoio da família. “Meu pai e minha mãe me incentivaram financeiramente com cursos e tudo. E o pessoal da escola também nos ajudou a chegar nessa posição.”
Para Paulo Henrique, que está bastante motivado e realizado pela sua conquista, cursar a UnB “será uma experiência muito boa e que vai somar na minha vida”, enfatizou ele.
O estudante informou que estagiava no Projeto Menor Aprendiz, e, na época, ele estava no CEM nº 9 de Ceilândia. “Era um pouco mais puxado, porque tinha que fazer essa conciliação entre estudos e trabalho. Com um pouquinho mais de dedicação, toda a pessoa consegue conciliar os dois.”
Quanto à coordenação da escola, ele avaliou que o pessoal ajudou muito. “O diretor Gadelha – inclusive, tem a visão de unir toda comunidade escolar em prol dos projetos e da preparação para o PAS e para o Enem.
Paulo apontou algumas deficiências em relação ao laboratório de informática da escola. “Os computadores são obsoletos e a biblioteca precisa de ampliação. Seria algo muito bom para os estudantes”, declarou ele.
Indagado sobre o futuro, Paulo disse que espera conseguir ajudar a população de uma forma geral. “Na minha área de tecnologia, eu espero que consiga criar algo que venha a ajudar na área da saúde, salvando vidas.”
Maria Clara de Carvalho
Enfermagem foi o curso que ela esperava e conseguiu garantir sua vaga na UnB. O sonho dela é cuidar das pessoas porque sempre gostou muito da área da saúde.
“Toda vez que eu pensava em uma graduação, sempre foi na área da saúde. Eu acho que foi a área que mais me cativou.”
A pandemia do Covid-19 foi o que a comoveu: “Comecei a trabalhar no Hospital Anchieta no meio da pandemia. Lá dentro, eu tive uma base prática, tive uma perspectiva maior do que é a enfermagem. E aí foi quando a profissão me cativou por completo.”
Maria Clara declarou que o conhecimento é importante e que estudou sempre em escola pública. “Minha base foi a família e a escola – sempre incentivada por elas – hoje realizamos esse sonho juntos.”
Ela comunga da opinião dos demais alunos – “A direção sempre incentivou em prol dos projetos, tanto do PAS quanto do Enem”, finalizou Maria.
Iodon Lucas Cutrim Helal Amorim
Engenharia Eletrônica foi o curso de graduação batalhado e alcançado. Saindo, diretamente, para a UnB, o aluno contou que a família toda serviu como referência. Até quando eu estava mais cansado havia palavras de incentivo. “Você tem que continuar. Tem que prestar atenção. Porque sabiam que o esforço ia dar um bom rendimento no futuro.”
Questionado sobre o ensino à distância, ele observou que ainda falta preparação para aula online. Para crianças menores, por exemplo, é muito difícil manter uma criança na frente do celular para estudar. Precisa de atenção. “E precisamos estudar mais sobre essa metodologia.”
Iodon Lucas expôs que vivenciou a situação de amigos que desistiram no meio do caminho e deixaram a escola para se envolverem com coisas ilícitas. “ É difícil ver amigos tão próximos se perderem – Tentei incentivar ao máximo para que eles não desistissem, mas eles não entenderam, infelizmente. Fiz minha parte!”, relatou Iodon.
Maria Júlia
A futura universitária do curso de Administração celebra a nova fase e ao mesmo tempo narrou uma experiência que poderia ser diferente. “Meu irmão por parte de pai, durante a adolescência, passando por necessidades econômicas, desistiu de investir em um futuro melhor através da educação. Preferiu a vida fácil de retorno imediato para suprir as necessidades financeiras no mundo ilícito. As pessoas querem resultado imediato, não têm paciência para esperar e fazem escolhas erradas no meio do desespero e na falta do apoio familiar”, desabafa.
Loren Ingrid
Nutrição foi a escolha da aluna para cursar na UnB. Ela almejava a área da saúde. “Entrar na universidade, era meu grande sonho e estando na área da saúde estou realizada.”
Segundo ela, o CEM 9 é uma escola muito boa, “ Participei do projeto PAS, promovido pela escola.”
No entendimento dela, faltam orientações sobre as profissões que possam ser almejadas. Ela contou que o pai foi o maior dos incentivadores na luta para entrar na UnB porque é o único que tem formação acadêmica na família e é a maior referência.
Vitor Ribeiro Lopes
Estudar Educação Física não era o sonho de Vitor. Incentivado pelos professores, amigos e pelo projeto PAS, da escola, a profissão tornou-se o maior objetivo de vida do aluno. “A equipe escolar fez o máximo investindo em projetos e sou grato a eles.”
Ele contou que teve o apoio da família. “Daquele jeito – se não passar… se não passar…”, disse sorrindo, “Meu irmão também estudou no CEM 09 – e cursando Física na UnB, ele é uma referência na minha vida”, contou Vitor.
Polêmica

Quanto ao ajuste feito pelo governo federal em questões polêmicas, alterando questões na prova do Enem, na visão do aluno isso é totalmente errado e “deslegitima tudo que a gente viveu. Ele troca as palavras como ditadura por regime militar.”
Na opinião do aluno Osvaldo Caio Mendes Pacheco, o tema da redação em relação a questões raciais, religiosas, a sexualidade, e o gênero, são temas super atuais, que os jovens têm que aprender a lidar.
“A sociedade é formada por pessoas diferentes e é preciso saber conviver. Tem que ser cada dia mais tolerante. E não esconder, que é o que o Governo Federal quer fazer. Ele quer tratar de temas que os jovens não vivem no dia a dia. Falta representatividade do jovem na redação do Enem.“
Entrevistado pelo Portal – o professor Luís Cláudio fala sobre educação, superação, família e a importância da escola pública.
A Secretária de Estado de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, disse que o sucesso de uma escola e a participação em conjunta de todos envolvidos. Segundo ela, o principal foco é o aluno.

1 – Secretária, alunos do CEM 09 de Ceilândia passaram no vestibular da UNB. A metodologia de aprendizado tem alguma especificidade que deveria ser multiplicada?
Hélvia – Essa pergunta é excelente, porque me permite chamar a atenção para um fato que parece estar meio esquecido: somos uma rede! O modelo do CEM 9 de Ceilândia é o mesmo do CED 11 de Ceilândia Norte, ou do CED 104 do Recanto das Emas, do CEM 1 do Gama, do CEM 404 de Santa Maria, só pra citar alguns aqui de cabeça que também tiveram resultados excelentes, com alunos conquistando vagas nas universidades. A escola é boa quando o professor se interessa, quando o grupo gestor é comprometido, quando os pais participam. É isso que a gente deve multiplicar, porque quando isso acontece, os alunos se engajam no aprendizado. _
2 – Em entrevista os alunos cobraram acesso a tecnologia e inovação dentro das escolas, as mesmas são obsoletas. Quais são as novidades para 2022?
Hélvia – Nós estamos fazendo um grande esforço de reestruturação da Secretaria e teremos novidades no ano que vem. Mas não quero antecipar nada. Vem notícia boa por aí.
3 – Quais as deficiências detectadas no processo de educação no ensino público. O que a pasta promoverá para reverter o quadro na prática?
Hélvia – Há uma série de coisas que precisam ser reestruturadas, como eu disse. Disso, estamos cuidando. Acho que o mais importante agora é dizer que o aluno, a aprendizagem do aluno, é a prioridade total da rede pública de ensino. É o estudante poder raciocinar para decifrar a realidade, criticando-a, melhorando-a para ele mesmo, para a família dele, para a comunidade, para a cidade e o país. Prioridade total ao estudante. É isso que faremos.
4 – Quais orientações deveriam ser direcionadas aos pais para que sejam pilares na educação dos seus filhos?
Hélvia – Participem da educação de seus filhos. Dialoguem com eles. Entendam quais são as preferências e a dificuldades. Se não puderem ajudar nas questões concretas, ajudem encorajando, estimulando, cobrando a direção certa, a leitura, a disciplina e a responsabilidade nos estudos.
5 – Qual a mensagem que a senhora deixaria hoje para esses estudantes do CEM 09, não só eles, mas todos que buscam uma qualidade de vida melhor através da educação?
Hélvia – A educação é o único caminho para um indivíduo evoluir como cidadão e como parte integrante de uma sociedade. Apostem nela que não tem erro.
Educação passaporte para o futuro
Como se vê, os ajustes são necessários para melhorar o ensino público, visando nivelar por cima a importante fase educacional.
Cada aluno e aluna, com seus depoimentos, contaram como foi a luta, o apoio da família, dos professores, da diretoria e do empenho no firme propósito de entrar na UnB. Sobre a situação das escolas, é uma janela aberta para a realidade do ensino público no Brasil. Ouvi-los é uma das estratégias para se alcançar um novo patamar da área, carente de transformações. O modelo da educação com turno integral tem que sair do papel e ser colocado em prática, como meta de Governo Federal, a fim de evitar que se percam crianças e adolescentes para o caminho errado da vida.