Por Miguel Lucena
Certa vez, no banco da praça, Seu Antônio, alfaiate aposentado, puxou conversa com o estudante de Direito que lia compenetrado um livro grosso.
— Meu filho, me diga uma coisa… qual a diferença entre ética, moral e direito? Porque, pra mim, tudo isso é só pra complicar a cabeça da gente!
O estudante sorriu e fechou o livro.
— Olha, Seu Antônio, vou tentar explicar como minha avó me ensinou. Moral é aquilo que a gente aprende em casa. É o conjunto de regras que a família, a igreja, a comunidade ensina: respeitar os mais velhos, não mentir, não roubar. É a bússola do “certo” e do “errado” de acordo com a cultura de onde a gente vem.
— Então quando minha mãe dizia “não cuspa no chão, menino!”, era moral?
— Exatamente. Agora, a ética é mais filosófica. É quando a gente começa a se perguntar por que certas coisas são certas ou erradas. É o olhar mais reflexivo sobre a moral. Enquanto a moral manda você dividir o pão, a ética pergunta: “É justo dividir igualmente mesmo se um tiver mais fome que o outro?”
— Ah, entendi… E o direito entra onde?
— O direito é o conjunto de regras criadas pelo Estado, por lei mesmo, com papel timbrado e tudo, pra organizar a vida em sociedade. Nem tudo que é imoral é ilegal, e nem tudo que é ilegal é imoral. Por exemplo, mentir pro chefe pode ser imoral, mas não é crime. Já estacionar em vaga de idoso sem ser idoso, além de imoral, é infração prevista em lei.
Seu Antônio coçou a cabeça, pensativo.
— Quer dizer que moral vem do berço, ética vem da cabeça e o direito vem do Estado?
— Isso! E quando os três andam juntos, a vida fica mais justa. Mas quando se separam demais… aí vem a confusão.
Seu Antônio deu uma risadinha.
— Rapaz, com explicação boa assim, até dá vontade de ler esse livro aí!
— Melhor ainda, Seu Antônio, é viver com os três no bolso: ética no coração, moral no comportamento e o direito na ponta da língua — pra cobrar e defender, quando preciso for.
E os dois seguiram, lado a lado, como se a conversa fosse a lei da boa convivência.