Por Miguel Lucena
Não se nega a ninguém o direito de estrebuchar. O peixe fora d’água bate a cauda até cansar, o condenado esperneia antes de aceitar a sentença, o apaixonado recusa o adeus com um último suspiro de súplica.
É o instinto se rebelando contra a ordem estabelecida. A vida, teimosa, sempre busca um escape, mesmo quando o destino já está selado.
O estrebucho não muda o fim, mas dá à alma o consolo da resistência. Afinal, render-se de pronto seria covardia; o mínimo que nos cabe é agitar os braços contra o inevitável, como quem assina sua própria rebeldia diante do mundo.