PF intima diretor da Abin por suspeita de espionagem contra o Paraguai nos governos Bolsonaro e Lula
A Polícia Federal intimou o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, a prestar depoimento no inquérito que apura um suposto esquema de espionagem contra o governo do Paraguai, envolvendo as gestões de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O foco da arapongagem seria obter informações privilegiadas sobre as negociações bilaterais envolvendo a Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Também foi convocado a depor o ex-diretor-adjunto da agência, Alessandro Moretti, afastado por Lula em janeiro deste ano, após suspeitas de obstrução das investigações conduzidas pela própria PF no caso conhecido como “Abin Paralela”.
De acordo com depoimentos colhidos no inquérito, agentes da Abin teriam mantido a prática de monitoramento ilegal com o uso de ferramentas como o aplicativo First Mile e o programa Cobalt Strike. Este último teria sido utilizado para invadir dispositivos eletrônicos de autoridades paraguaias envolvidas nas negociações do Anexo C do tratado de Itaipu, meses antes de um novo acordo firmado entre os dois países em maio de 2024.
A operação clandestina teria violado comunicações de membros do Congresso, do Senado e da Presidência paraguaia, gerando uma crise diplomática silenciosa entre os países. O episódio lança dúvidas sobre a condução da inteligência de Estado no Brasil e revela a permanência de práticas autoritárias entre diferentes governos.
Em nota, a Abin informou que o atual diretor-geral está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e que os fatos relatados remetem à gestão anterior. Corrêa, no entanto, segue no cargo mesmo sob críticas de setores do próprio governo, que cobram renovação e maior transparência na condução do órgão, hoje subordinado à Casa Civil.
Moretti, por sua vez, alegou que a agência contribuiu com as investigações e defendeu a atuação da inteligência brasileira como estratégica para a segurança nacional.