“Nenhum banco fica de pé se a investigação do crédito consignado com desconto em folha avançar”
Por Carlos Arouck
Um dos escândalos mais graves da administração pública brasileira recente veio à tona com a reportagem investigativa publicada pela revista VEJA em 23 de maio de 2025. O caso gira em torno consentimento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e da oferta de crédito consignado a aposentados e pensionistas. A denúncia revela não apenas práticas fraudulentas na concessão de empréstimos com desconto em folha, mas também uma possível rede de conivência entre instituições financeiras e agentes públicos. O alerta mais preocupante veio da Polícia Federal (PF): se as investigações avançarem, “nenhum banco ficaria de pé”, indicando o risco sistêmico ao setor bancário brasileiro.
O escândalo foi debatido em uma reunião ocorrida no Supremo Tribunal Federal (STF), em 21 de maio de 2025. Participaram do encontro o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, o vice-presidente Edson Fachin, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, e investigadores da Polícia Federal. Na ocasião, a PF apresentou evidências preliminares de fraudes generalizadas relacionadas ao crédito consignado, alertando que uma investigação aprofundada poderia desestabilizar seriamente o sistema bancário.
Entre os dados mais alarmantes está o número de instituições financeiras autorizadas pelo INSS para operar com crédito consignado: 91 bancos e financeiras foram habilitados entre 2020 e 2025 por meio de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs). Esses instrumentos, que deveriam garantir transparência e segurança jurídica, foram os mesmos usados em esquemas de descontos indevidos por associações, investigados em escândalos anteriores. A facilidade na autorização levanta suspeitas sobre falhas de controle e possíveis favorecimentos.
O caso ganhou projeção nacional com a deflagração da Operação Sem Desconto, realizada em 23 de abril de 2025 pela CGU em parceria com a PF. A investigação revelou que associações suspeitas realizaram cobranças indevidas diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas, sem consentimento dos beneficiários. O prejuízo estimado chega a R$ 6 bilhões. Há indícios de que parte dessas associações fraudulentas mantinha conexões com empresas que operam crédito consignado, sugerindo a existência de um esquema interligado e sofisticado de desvio de recursos públicos e exploração de vulneráveis.
O envolvimento de grandes instituições financeiras torna o escândalo ainda mais grave. De acordo com as investigações, algumas delas teriam firmado acordos em massa para concessão de crédito consignado com entidades de fachada ou sob denúncias. Supostamente, essas instituições teriam recebido pagamentos de organizações fraudulentas, fechando os olhos para a origem duvidosa dos recursos ou a ausência de consentimento dos beneficiários. Em paralelo, denúncias apontam que o então presidente do INSS teria autorizado descontos mesmo ciente de riscos e fragilidades no sistema, como a ausência de autenticação por biometria, que só foi implantada após anos de denúncias.
O alerta da PF, amplamente compartilhado nas redes sociais, chamou atenção para a possível extensão da fraude. A frase “Nenhum banco fica de pé se a investigação do crédito consignado com desconto em folha avançar” foi repetida por parlamentares e especialistas, reforçando a tese de que irregularidades não estão restritas a instituições de pequeno porte, mas poderiam atingir o coração do sistema financeiro. Em resposta, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) propôs reforços nos protocolos de segurança do crédito consignado, reconhecendo falhas no processo e a necessidade de proteger aposentados e pensionistas.
A gravidade da situação chegou ao Congresso Nacional. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) chegou a ser proposta para investigar as fraudes no INSS e o papel dos bancos, mas, segundo publicações nas redes sociais, teria sido arquivada após pressões do setor bancário — informação que ainda carece de confirmação oficial. Enquanto isso, a CGU, o STF e órgãos de controle buscam estratégias para conter os danos e recuperar a confiança pública.
O impacto sobre os aposentados é devastador. Esse grupo, vulnerável e com baixa educação financeira, tornou-se o principal alvo das fraudes. Relatos de descontos indevidos e empréstimos não autorizados se multiplicam. Beneficiários enfrentam dificuldades para recuperar valores cobrados ilegalmente, em um sistema que se mostra lento e ineficiente para proteger seus direitos. A combinação de desinformação, excesso de burocracia e omissão institucional expõe os aposentados a um ciclo de abuso sem fim.
O caso do INSS revela um cenário de falhas na regulação e fiscalização do crédito consignado, um mercado que movimenta bilhões de reais por ano no Brasil. A autorização desenfreada de instituições financeiras sem mecanismos de controle robustos sugere uma gestão negligente, possivelmente favorecendo interesses privados em detrimento do interesse público. A ausência de medidas de segurança eficazes, como a biometria obrigatória desde o início do processo, evidencia o despreparo — ou a conivência — de autoridades responsáveis.
Embora alguns detalhes do escândalo ainda dependam de confirmação oficial, o conjunto de evidências aponta para um problema estrutural. Se confirmadas as denúncias, o Brasil pode estar diante de um dos maiores esquemas de exploração financeira de beneficiários da Previdência já registrados. A necessidade de reformas estruturais, transparência nos acordos do INSS com instituições financeiras e punição rigorosa aos envolvidos torna-se urgente.