Os 110 mil passageiros que usam o transporte semiurbano de ônibus da Região Metropolitana do Distrito Federal começaram a sentir o peso no bolso com mais um aumento nas passagens. Anualmente, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) reajusta os valores das passagens. Quem depende do serviço reclama da falta de retorno com o valor investido. Empregadores de Brasília alertam que a elevação dos custos dificulta novas contratações.
Desde o último domingo (24), foi repassado um reajuste de 5,2% no transporte semiurbano para 27 linhas. Em outras sete, da empresa Taguatur, os percentuais variam entre 2,72% e 13,66%. Em uma linha de Luziânia (GO) para Taguatinga, por exemplo, a passagem foi para R$ 7,60. Em 2017, o reajuste foi de 5,4% a 7,1%.
Segundo a ANTT, as tarifas são definidas com base nos custos e despesas com o transporte, além da remuneração dos profissionais – motoristas, transportadores e cobradores.
“Não há subsídio por parte da União (na prestação dos serviços), portanto, a receita com a venda de passagens é utilizada para cobrir os custos de operação e a remuneração da empresa. Os reajustes são necessários para manter o equilíbrio econômico-financeiro dos serviços”, alega a agência.
Jornada cansativa
A empregada doméstica Telma Moreira, 57 anos, é moradora da Cidade Ocidental e está pagando R$ 5,50 para chegar ao DF desde ontem. Para estar às 8h no Cruzeiro, ela precisa sair às 5h40 do terminal rodoviário. “Não tem ônibus. É só um para levar a população toda, aí tem que ir em pé e é sempre muito cheio”, critica.
Por mês, são aproximadamente R$ 450 com custos de passagens. “Só para ir e voltar da Ocidental são R$ 11, fora a passagem que tenho que pagar da Rodoviária do Plano Piloto para o Cruzeiro. Minha patroa só paga a metade do vale-transporte. No fim do mês vai fazer muita diferença no meu bolso”, acrescenta.
Dificuldade na contratação
Diones dos Santos Gomes, 31 anos, é usuária do transporte público do Entorno e trabalha com a contratação de funcionários para uma empresa de Brasília. “Faço parte do recrutamento da empresa e sempre houve uma reclamação de quem mora longe. É comum termos um bom funcionário, com um bom currículo, mas não podemos contratar porque mora no Entorno. Mapeamos os locais para fazer a contratação e escolhemos aquele que sai mais barato para a empresa”, comenta.
Como passageira, ela reclama do valor. “Quanto maior o aumento, maior o desconto do salário. Só que não existe melhoria nenhuma. É uma queixa que a comunidade de Valparaíso II sempre fez: ônibus sempre lotado, para chegar a tempo tem que sair com horas de antecedência. Quando a gente não se submete ao transporte pirata para ter algum conforto, porque no ônibus a viagem toda é feita em pé”, critica Diones.
A supervisora de telemarketing diz ainda que sente falta de um capital de giro dentro dos ônibus para dar o troco aos usuários. Ela cita, por exemplo, que os passageiros precisam dar o valor da passagem contado, caso contrário precisam aguardar na roleta até que consigam o troco.
“Agora que está R$ 4,90 quero ver como vai ser quando um monte de passageiro der R$ 5”, analisa ela.
Empregador deixa de contratar
Cleber Pires, presidente da Associação Comercial do DF, acredita que o aumento das passagens prejudicará ainda mais o empregado do Entorno. “De forma natural, são pessoas que serão excluídas em um processo seletivo. A preferência da contratação passa a ser quem mora perto do serviço”, reconhece. Para aqueles que já são contratados, Pires afirma que o prejuízo cairá sobre os empresários. “Todo e qualquer aumento bate diretamente no custo da empresa. As passagens são caras, além do próprio custo de um funcionário para a empresa”, aponta.
Para o presidente da ACDF, uma integração entre Goiás e DF poderia diminuir os custos. “Por exemplo, quem pega um ônibus de Luziânia para Brasília poderia descer em Santa Maria. Lá, pegava uma integração. Mas o Estado não se preocupa em buscar alternativas, soluções para agregar o Entorno ao Distrito Federal”, completa.
O radialista Benedito Alves da Luz, 60 anos, mora há 18 anos em Valparaíso. Nesse tempo, relata que passou por diversos aumentos, porém, em nenhum deles notou melhorias. “O reajuste da passagem seria justo se tivesse algum retorno para o passageiro. Aumentam o valor, mas o ônibus não melhora, continua lotado, são as mesmas linhas, não tem aumento de frota. Quem sempre sofre é a população e o sistema continua o mesmo”, desabafa. A linha que ele utiliza passou a cobrar R$ 4,90 – R$ 0,30 a mais do que antes.
Versão Oficial
De acordo com a ANTT, neste ano estão previstas melhorias nas frotas que operam na Região Metropolitana. Serão: redução da idade média de frota da empresa Taguatur – de seis para cinco anos – e, para todos os ônibus, será exigida a submissão à inspeção veicular, passando a ser obrigatória para que qualquer veículo opere tais serviços possua Certificado de Segurança Veicular (CSV) válido. Ao todo, são 769 veículos cadastrados na agência.
Fonte: JBr