Não há como fazer segredo de que os créditos do filme incluem Jennifer Lawrence. Ou seja, em algum momento Jim ganhará a convivência alegre e inteligente — embora também ela perplexa — da jovem escritora Aurora Lane. Não convém esclarecer por quais meios esse acidente acontece. Mas é, sim, o caso de lamentar que as consequências do despertar de Aurora passem a ocupar todo o espaço (sem trocadilho): até aí, o diretor norueguês Morten Tyldum vinha costurando uma trama saborosa sobre a terrível contingência de ser um Adão. Sem a perspectiva de uma Eva, a nave tão perfeita não é um paraíso, ou o umbral de uma nova vida: é o mausoléu no qual Jim conta os dias até que a morte venha pôr fim ao seu inferno.
Calor não falta a Aurora, porém, e a dinâmica entre ela e Jim é outra das tiradas inteligentes do filme: não é por ela ter sido posta ali que desejará ser companheira do mecânico. Ele tem de conquistá-la — coisa que, até onde se sabe, Adão nunca teve de fazer com Eva. Aí, porém, Tyldum cede à tentação fácil do drama romântico. E Passageiros, em vez de chegar ao seu destino, se deixa engolir pelo buraco negro do roteiro hollywoodiano.