Organizações filantrópicas estudam meios de driblar os desafios do cenário gerado pelo Coronavírus, promovendo acolhimento ao público vulnerável.
*Larissa Azevedo
Os impactos da pandemia do novo Coronavírus em 2020 refletiram no dia a dia de Organizações Não Governamentais (Ongs). Segundo estudo realizado pelo Mobiliza e Reos Partners, 73% das organizações foram impactadas e 37% enfraqueceram
consideravelmente no país.
Apesar dos obstáculos, o compromisso com a promoção da qualidade de vida às crianças, adolescentes e jovens não foram sucumbidos, pondera o Instituto Nossa Senhora da Piedade (Insp), instituição do Distrito Federal.
A pesquisa foi realizada pelas empresas de consultoria Mobiliza e Reos Partners com 1.760 representantes de organizações de todas as regiões do país.
Os diretores responderam a um formulário, entre 17 e 31 maio de 2020, sobre os reflexos da pandemia no voluntariado desenvolvido por Ongs – instituições sem fins lucrativos que sobrevivem à base de apoio; doações e parcerias.
O amor ao próximo vence
O Instituto Nossa Senhora da Piedade (Insp) pertence à congregação das irmãs auxiliares de Nossa Senhora da Piedade. Situado na QI 07 do Lago Sul, Brasília, tem como principal missão promover qualidade de vida aos mais vulneráveis.
Administrado por Ir. Arlete Henriques, o espaço atende cerca de 115 crianças, de 4 a 12 anos, no contraturno escolar, de forma gratuita. O período de funcionamento respeita o calendário da Secretaria de Educação do Distrito Federal, de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h.
Por lá, os beneficiários recebem assistência completa: alimentação, acompanhamento escolar, recreação orientada e desenvolvimento nas áreas de artes, música, formação religiosa e esporte.
De acordo com a diretora do instituto, a pandemia pegou funcionários, pais, crianças e adolescentes de surpresa. “Não tivemos tempo de preparar a transição para as crianças ficarem em casa.
Assim que o decretado foi estabelecido, fechamos as portas. Por aqui, também nos isolamos para preservar as irmãs mais idosas”, afirma Ir. Arlete.
Apoio
O Insp é uma instituição filantrópica. O espaço sobrevive por meio de doações, mutirões organizados por benfeitores e apoio alimentício de algumas redes.
Os programas que fornecem alimentos, porém, estão com os serviços interrompidos, temporariamente, devido à pandemia.
“Ficamos bem apreensivos com a chegada do Coronavírus, pois sabemos a real necessidade dos pais em deixar seus filho s acolhidos aqui.”
Diretora do Insp, Ir Arlete Henriques
Os meses em que as crianças estiverem ausentes no Instituto serviram para o empenho na reforma da unidade. “Nós nos empenhamos para atender aos protocolos exigidos pelas autoridades. Queremos um acolhimento seguro às crianças. As verbas foram ofertadas pela Congregação Nossa Senhora da Piedade”, explica a diretora.
Crianças do Insp cantando cantigas minutos antes de fazerem a refeição da tarde, às 16h. Foto: Insp/Reprodução
De acordo com Arlete, no primeiro período de lockdown, as crianças e adolescentes ficaram em casa. Após um tempo, houve um retorno gradual, visto que foi notificada de que várias crianças estavam ociosas e na rua, expostas a todo tipo de risco – situação que vai de encontro ao principal objetivo da instituição, que é o acolhimento.
Breve histórico do Instituto Nossa Senhora da Piedade
Inicialmente, o espaço era configurado como um orfanato só para mulheres. Fundado em agosto de 1964, pelo local já passaram muitas crianças e adolescentes, pois, segundo a Ir. Arlete, em toda necessidade existente, o Insp tenta trabalhar.
Tempos depois, o instituto fez parcerias com escolas públicas próximas ao local. Foi acordado que, no contraturno escolar, os alunos receberiam reforço no ensino e outros acompanhamentos.
Hoje, funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, atendendo crianças de 4 a 12 anos da rede de ensino pública do DF.
O Insp segundo os pais
Para a enfermeira Solange Bueno, 50, mãe da Karine – que entrou para o Insp em 2013 e permanece até hoje – o trabalho desenvolvido pela instituição é muito importante.
Solange afirma que todas as suas três filhas já estudaram no Insp. Solange conhece o espaço há 15 anos, mas foi em 2008 que resolveu fazer a primeira matrícula; a contemplada foi a Ivine, que estudou no Instituto por quatro anos.
“Só tenho a agradecer à instituição. Ela tem feito muito por inúmeras famílias. O trabalho é engrandecedor e visa sempre o melhor à criança”, acrescenta.
“As minhas filhas sentem muita gratidão pelo trabalho desenvolvido no Insp. Na época em que saíram de lá, nem queriam sair (risos). Elas foram muito bem assistidas por eles.”
Mãe da Karina, aluna do Insp, Solange Bueno
Uma de suas filhas, a Raquel, entrou para o Instituto ainda pequena, mas saiu uma moça, ficando sob os cuidados do Insp por 10 anos. “Somos muito felizes por fazermos parte da equipe de pais e alunos do Instituto Nossa Senhora da Piedade”, finaliza.
Na avaliação do caseiro João Batista, 39, o Insp influenciou no desempenho escolar de Lucas, seu filho, que continua na instituição. Nesse período, João enxergou um inquestionável papel social, educativo e ético na educação de seu filho.
“É um trabalho muito humano. Eu e a minha família somos muito gratos por tudo que eles fizeram por nós.”
Pai do Lucas, aluno do Insp, João Batista
Quando conheceu o trabalho desenvolvido pelo Insp, a esposa de João estava passando por um momento delicado em sua vida. Em entrevista ao Tudo OK Notícias, João relatou que, na época, a mãe do Lucas estava recém-divorciada; sem lugar para morar. O Instituto ofereceu amparo sem custos.
Para o pai, o trabalho desenvolvido pelo Instituo Nossa Senhora da Piedade é diferenciado.
“É um trabalho muito humano. Eu e a minha família somos muito gratos por tudo que eles fizeram por nós”, pondera.
O voluntariado é necessário
Voluntária no Instituto Piedade há 12 anos, a Fisioterapeuta Maura Monteiro, 52, enxerga a obra social como algo indispensável à população mais vulnerável.
Segundo ela, além de as crianças receberem o apoio escolar necessário, ainda aprendem valores éticos e morais.
Maura conheceu o Insp por meio de uma amiga. Ao presenciar a rotina do espaço, ficou impactada com a relevância das ações e com as dificuldades para mantê-las.
A partir daí, viu-se motivada a dar início ao voluntariado, pois teve a convicção da necessidade da obra.
Em entrevista exclusiva à reportagem, a voluntária afirmou que conheceu o instituto em 2008.
“Inicialmente, eu iria prestar um serviço relativo à minha área de formação – fisioterapia, com orientação e reeducação postural, mas na primeira semana surgiu uma demanda urgente de reforço escolar na língua inglesa”, relata.
“A minha experiência com a ação social foi transformadora. Eu aprendi muito e penso que melhorei como pessoa.”
Fisioterapeuta e voluntária do Insp, Maura Monteiro
Naquele momento, Maura Monteiro enxergou na necessidade uma oportunidade de ajudar, embora não tenha experiência em docência. “À época, eu era única que tinha disponibilidade para assumir a função e com fluência em Inglês”, diz.]
Projetos
Após seis meses de dedicação às crianças do Instituto Piedade, Maura resolveu sistematizar um bazar beneficente na instituição. De acordo com a fisioterapeuta, o trabalho já existia, mas precisava de uma lapidação.
Maura, junto a uma equipe de voluntários, organizaram o evento em duas edições anuais – Bazar Especial – e, também, o bazar permanente, que funciona de segunda a sexta-feira. Ela quem dirigiu o trabalho de receber as doações, separar, lavar e passar roupas, precificar, organizar e vender.
O bazar do Instituto Piedade funciona como uma significativa fonte de renda à manutenção do espaço. Foto: Insp/Reprodução*
Para Maura, sua experiência com a obra social foi transformadora. “Eu aprendi muito e penso que melhorei como pessoa. Conheci muita gente e fiz muitos amigos”, salienta a voluntária ao enaltecer a relevância do trabalho voluntário.
*Estagiária sob supervisão de Maurício Nogueira