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Há estudos que fazem uma previsão de que o abandono escolar triplicará
Maria José Rocha Lima
O Brasil está entre os países com mais longo o período de fechamento das escolas públicas, no mundo. A desigualdade educacional se alargará, ainda mais. Os dados do Censo Escolar 2020 do MEC informam que em 2019, 3,5 mil escolas públicas não tinham sequer banheiros. Além disso, 35,8 mil escolas não tinham acesso ao esgotamento sanitário, 26,6% do total. A internet banda larga não chegava a 17, 2 mil escolas urbanas (20,5%) em 2020. Em muitas dessas escolas há mais de um ano os alunos das escolas públicas estão sem aulas presenciais ou remotas, tempo suficiente para agravar ainda mais, os sérios problemas, como a alfabetização, as não aprendizagens e os índices de abandono. Diferentemente da rede particular que realizou mudanças rápidas, adquirindo plataformas digitais sofisticadas, soluções digitais para leitura, bancos de dados, capacitou professores.
A escola pública anda tão ruim, que parece não fazer tanta falta. É muito curioso, que não haja um clamor da comunidade pelo atendimento educacional. Não houve nenhuma mobilização nos municípios, nos quais estão concentradas as matrículas do ensino fundamental. Além da falta de estrutura apontada pelo censo dados da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) apontavam que 6 em cada 10 prefeituras ainda não haviam feito protocolos de biossegurança para reabrir as escolas. A rede municipal tem uma participação de 67,8% no total de matrículas dos anos iniciais e concentra 83,5% dos alunos da rede pública.
No Brasil mais de 20 milhões de crianças e adolescentes, estão sem aulas presenciais ou remotas. Quando comparamos esses números com a matrícula na educação básica, em 2020, que foi 47,3 milhões, constatamos a gravidade. É quase a metade das crianças e jovens que estão sem nenhum tipo de atendimento. É uma geração perdida, quando consideramos as crianças matriculadas no ciclo de alfabetização, que vai do 1º ao 3º ano do ensino fundamental. Esse é o cenário que especialistas descreveram, em Sessão Temática do Senado, no dia 16 /04/ 2021.
A falta de acesso ao ensino presencial é extremamente prejudicial em todos os níveis e séries. E na alfabetização será fatal, caso não haja altos investimentos. A alfabetização de crianças até os oito anos já era muito ruim e ficará pior. Em 2018, o ex- ministro da educação Rossieli Soares, em audiência pública no Senado Federal, informou que mais de 50% das crianças não estavam alfabetizadas no terceiro ano do ensino fundamental e mais de 370 mil foram reprovadas ou abandonaram a escola em 2016. No Norte e Nordeste, esse percentual chegava a 70%. No 6º ano, somente 82,8% foram aprovadas, mais de 570 mil foram reprovadas ou abandonaram a escola em 2016. Na 1ª série do ensino médio, em 2016, 791 mil jovens abandonaram a escola ou foram reprovados, isto representava 25,9%.
Há estudos que fazem uma previsão de que o abandono escolar triplicará. E o abandono da escola, quase sempre, aumenta os contextos de vulnerabilidades para crianças e adolescentes, que ficam expostas, nas comunidades, aos grupos antissociais, como gangues, grupos de recrutadores para o tráfico de drogas. Portanto, mais riscos, mais violência e desigualdades acarretadas no ensino pela pandemia. Uma, possível, tragédia e só investimentos robustos poderão recuperar a escola pública brasileira.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise- ABEPP-. Membro da Organização Internacional Clube Soroptimista Internacional Brasília Sudoeste
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https://www.contextoexato.com.br/post/educacao-e-pandemia-depois-da-farsa-a-tragedia20210727
