Dr. Pinheiro, ‘O Pelé da Medicina’

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Paraibano, referência na Saúde Pública, o profissional que foi precursor da Residência Médica em Brasília, com participação incisiva na construção de importantes hospitais do DF, além de formar cirurgiões de primeira linha reconhecidos nacionalmente, tem sua vida profissional registrada em livro

 

 

 

Francisco Pinheiro Rocha, 94 anos, nasceu na pequena cidade de Uiraúna, no estado da Paraíba, e é uma personalidade histórica no setor de Saúde Pública do Distrito Federal e do Brasil. Talvez, se na primeira linha estivesse apenas escrito Dr. Pinheiro, de pronto seria reconhecido pelos “jovens mais antigos” pioneiros da Saúde Pública do Distrito Federal. Se hoje existe o Hospital de Base de Brasília, o Hospital Materno Infantil, faculdades de Medicina, se deve ao Dr. Pinheiro que, com extraordinária resiliência, visão de futuro e determinação, é exemplo de gestor e educador formador de uma gama significativa de cirurgiões renomados no Distrito Federal. Trata-se de um expoente e precursor dos avanços no setor da Saúde responsável pelos avanços verificados, na Saúde Pública, ao longo da década de 1960, no “quadradinho”. Forjando novos e renomados talentos, lecionando e construindo hospitais referências de suma importância para a sociedade, Dr. Pinheiro tem um lugar de honra na prateleira da história do DF, com suas extraordinárias contribuições na área da Saúde.

Toda a trajetória profissional do Dr. Pinheiro está no livro a ser lançado no dia 09 de dezembro sob o título: “Dr. Pinheiro, O Médico de Brasília”. Os retratos protagonizados pelo importante cirurgião foram pincelados pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Dr. Gutemberg Fialho. Ele é o autor e mentor da obra que será referência para os futuros médicos, mostrando as principais ações que mudaram a história da Saúde Pública do Distrito Federal. Totalmente lúcido, o Dr. Pinheiro concedeu ao Tudo Ok Notícias uma entrevista repleta de histórias que marcaram toda a trajetória da Saúde. Mestre da Medicina, foi o precursor de tudo o que houve de excelência na Capital Federal.

 

Quem não conhece o Dr. Frejat? Para se ter uma ideia, Dr. Pinheiro lecionou para este que foi um marco do setor médico para o povo brasiliense. Sempre que se fala em Medicina, Frejat é lembrado. Há que se destacar que antes de Frejat, o Dr. Pinheiro, “O Médico de Brasília”, foi precursor do planejamento e execução da rede de Saúde. Testemunha viva da evolução da Saúde num ambiente completamente adverso da realidade em que vivia no Rio de Janeiro. Lá se formou em Medicina no ano de 1955. Com visão aguçada no futuro e interesse cada vez maior em se especializar em cirurgia, Dr. Pinheiro aproveitou a primeira residência médica criada no Brasil, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, iniciando em 1958 e concluindo em 1960. Ele somente conseguiu sossegar quando viajou para a França já em 1968 ao lado de sua esposa Dona Kilma, falecida há três anos. Após a especialização, recusou insistentes convites para participar da equipe de cirurgiões do Hospital Boujon, uma das referências mundiais para a época, localizado em Paris. Antes disso, implementou o Departamento de Saúde da Câmara dos Deputados e foi titular da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Foi gestor, construiu e implementou vários hospitais importantes no DF.

Kilma e o marido, Francisco, ficaram 60 anos casados – (crédito: Edy Amaro/Esp. CB/D.A Press)

Em 1969 retorna ao Brasil, com a bagagem profissional com especialização em cirurgia do aparelho digestivo e hepática. Além da obsessão em se capacitar com o que havia de ponta na cirurgia, a outra missão autodeterminada foi lutar pelo bem da Saúde no Brasil. A atuação histórica na Saúde de Brasília e no DF contemplou a formação de cirurgiões renomados. Na verdade, ele relutou um pouco em ir para a Capital Federal. Com a experiência e conhecimento obtidos no Rio de Janeiro, foi um dos precursores da implementação da Residência Médica no Distrito Federal. Dr. Pinheiro conta que no Rio de Janeiro era médico do Instituto Nacional do Câncer, pouco antes de trabalhar no Hospital do Servidor do Estado do Rio de Janeiro. “Eu fui da segunda turma residente do Servidor do Estado, e no segundo ano de Medicina já pensava em fazer uma pós-graduação”, lembrou.

 

Aos 12 anos, já queria ser médico. O pai do Dr. Pinheiro, único na família a se formar na área, insistiu, sem êxito, que retornasse à sua cidade natal, Uiraúna-PB. Vale lembrar que ele lá ficou até aos 12 anos. Em seguida, transferiu-se para estudar no município de Patos-PB. Questionado pelo Tudo OK Notícias se já, tão cedo, pretendia cursar Medicina, o Dr. Pinheiro respondeu que “nesse tempo, sinceramente, eu já pensava em ser médico”. Em Patos, cursou o segundo e terceiro ano ginasial. Em seguida, foi para Campina Grande-PB. Segundo ele, o motivo para ida à desenvolvida cidade, àquela época, foi o clima quente de Patos, que provocou uma infecção nas cordas vocais, prejudicando a voz dele. Ele conta que foi operado em Campina Grande e assim pôde concluir o ginásio na próspera cidade paraibana.

 

Ao se recuperar totalmente da intervenção cirúrgica, o Dr. Pinheiro se mudou para Recife-PE, onde se matriculou no Colégio Nóbrega. Em seguida, prestou vestibular para Medicina. “Mas antes do vestibular, fui servir ao Exército e fui para o CPOR (Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva), onde estudei três anos, com a vantagem de prestar serviço durante o período de férias, o que não prejudicava a presença na faculdade,” pontuou. Ao concluir o CPOR, já havia frequentado os cursos da faculdade de Medicina. Devido à pouca quantidade de faculdades no Brasil naquela época, o vestibular era muito concorrido. “Eu disputei o concurso já pensando na carreira de cirurgia e passei entre os 10 primeiros colocados. Terminei Medicina e, simplesmente, prossegui na carreira,” frisou.

 

Retorno à Cidade Maravilhosa

Quando o Dr. Pinheiro ficou sabendo que o Hospital do Servidor Público do Estado do Rio de Janeiro havia criado a residência médica, ele se mudou para o RJ para ser residente, por dois anos, naquele hospital, onde chegou a chefiar o setor de cirurgia.

INCA

Na sequência, prestou concurso para trabalhar no Instituto Nacional do Câncer (INCA). Foi quando conheceu a esposa Kilma, com quem se casou, e foi gerado o primeiro filho, Fábio. Dr. Pinheiro assinalou que nessa época, em 1960, o Dr. Raimundo de Moura Brito, que assumia o Ministério da Saúde, o escolheu para ser o médico da Câmara Federal em Brasília. Moura Brito já havia sido chefe do Dr. Pinheiro no Hospital do Servidor do Estado do RJ. O convite foi recusado, pois o Dr. Pinheiro não quis abandonar o cargo no INCA. Ele ressaltou que o Dr. Moura Brito, chefe de Cirurgia do Hospital do Servidor fluminense, era extremamente reconhecido no Brasil; no entanto, aceitou a declinação do convite. Para se esquivar elegantemente, o Dr. Pinheiro manifestou que priorizaria a gravidez da esposa Kilma, portanto, não poderia aceitar o convite. Porém, pouco tempo depois, Moura Brito o procurou novamente.

 

Segundo Pinheiro, a novidade era que “as autoridades responsáveis pela indicação concordaram que eu aguardasse o nascimento do meu filho, até a oportunidade de vir para Brasília,” disse ele, complementando que “então, eu não pude fugir.” Foi assim que Dr. Pinheiro foi parar em Brasília com a esposa e o filho Fábio, recém-nascido. Aqui, cumpriu a missão de instalar o Serviço Médico da Câmara dos Deputados. Ao chegar em Brasília, condicionou o cargo de cirurgião e chefe do Serviço Médico para ter um local para realizar cirurgias. Naquele momento, o Hospital de Base de Brasília era Hospital Distrital, em fase de conclusão. Havia um hospital provisório em Brasília, e lá o Dr. Pinheiro pôde atuar como médico, até o Base ficar pronto, sendo contratado mais tarde para chefiar as cirurgias no mesmo hospital. Em sequência, pouco depois, foi convidado para ser Secretário de Saúde do Governo do Distrito Federal (SES). Depois de ficar em dúvida se aceitaria o cargo político ou continuaria como cirurgião, exclusivamente. Pinheiro contou que chegou em Brasília em 1963 e permaneceu como secretário durante três anos. Até 1966, atuou à frente da Secretaria de Saúde no DF.

 

Amizade profícua com Jofran Frejat

O encontro com Dr. Jofran Frejat ocorreu quando ele se formou. O Dr. Pinheiro estava na Secretaria de Saúde, e Frejat foi contratado por ele para clinicar, inicialmente, na pasta. Ele lembra que Frejat ficou um ano no gabinete dele, como auxiliar médico, depois foi transferido para o Hospital do Gama-DF. Depois de algum tempo, Frejat foi remanejado para o Hospital da L2.

Dr. Jofran Frejat

Especialização em Paris

O Dr. Pinheiro, ao responder sobre sua passagem por Paris, capital francesa, ao Tudo Ok Notícias, onde aprimorou os conhecimentos cirúrgicos, afirmou que ocorreu depois de sair da Secretaria de Saúde do GDF. Inclusive, Pinheiro assegurou que lutou para não ser secretário. Naquele momento, relutou arguindo ser um cirurgião relativamente novo, que precisava praticar a especialidade e que não tinha nenhum interesse de assumir uma secretaria, “mesmo porque não era a minha aptidão”.

 

“A minha preocupação, acima de tudo, era a cirurgia”, pontuou Pinheiro. Ou seja, ele preferia permanecer realizando operações sem desviar desse caminho escolhido para aceitar um cargo político. E acabou atendendo ao chamado para mudar a história da Saúde no DF.

 

Trajetória do Dr. Pinheiro em livro

A história desse importante personagem na história da Saúde do Brasil e do DF é contada pelo Dr. Gutemberg, que atualmente é presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, no livro “Dr. Pinheiro, O Médico de Brasília”. Na visão de Gutemberg, ao se analisar a trajetória do Dr. Pinheiro é brilhante, como gestor e como profissional, acima de tudo. Fica difícil, pontua o sindicalista, saber quais as atividades mais importantes entregues pelo Dr. Pinheiro. Segundo ele, as várias facetas são retratadas no livro. O Pinheiro da Rocha gestor, secretário da Saúde do GDF, que “fez um trabalho fantástico na construção do Hospital de Base, do HMIB, do Gama, de Sobradinho, arrecadando recursos”. Isso em detrimento do que o Ministério da Saúde mandava de verbas. Em relação à construção do Hospital e Materno Infantil de Brasília (HMB) e da organização e implementação, acompanhamento da construção Hospital de Base, na opinião de Gutemberg, já mais do que louvável. Ele pondera que fica difícil apontar quais as mais importantes contribuições de Pinheiro à Saúde do DF. A mais importante quanto ao médico, gestor, educador.

 

Gutemberg enfatiza que Pinheiro era professor, formando geração de profissionais. Gutemberg ressaltou que na classe médica de Brasília, sob uma lupa, se conclui que os melhores profissionais cirurgiões renomados da cidade foram formados sob a batuta mestre do Doutor Pinheiro.

 

Tudo OK Notícias quis saber qual o impacto do livro para os jovens que cursam Medicina ou recém-saídos das faculdades. Gutemberg classificou como um guia. O livro é uma referência, na opinião do sindicalista, como o Dr. Pinheiro.

 

“A finalidade do livro é não só mostrar para as gerações atuais e futuras o exemplo de alguém que exerce a Medicina com carinho, com vocação, com amor, com compromisso com a coletividade, que é mais importante. E mostrar também a história da Saúde Pública no DF, como começou, os esforços que foram feitos para se tornar a excelência que ela chegou, apesar de que atualmente tem um declínio porque a visão de Saúde Pública no atual contexto político não está tendo a atenção que merece.

 

O livro destaca a importância de registrar e resgatar a história para as futuras gerações. “Não podemos deixar os exemplos desaparecerem. Os exemplos têm que ser aqueles que enaltecem, fortalecem e não exemplos que fazem com que as pessoas não prestem serviço adequado à sociedade, coletividade, à Medicina como é o caso do Dr. Pinheiro. Na obra, Gutemberg antecipa que há depoimentos de cinco colegas referência na Saúde em Brasília formados pelo Dr. Pinheiro, tais como Dr. Edelson Targino, Dr. Célio Arruda, Dr. Baelon, Dr. Felipe Neris, Dr. Caiello. São ex-residentes e alunos dele, mas na realidade, ele formou inúmeros médicos que estão espalhados pelo Brasil todo. Gutemberg ressalta que dois dos fatores mais marcantes sobre a vida profissional do Dr. Pinheiro são a resiliência e a determinação.”

Dr. Gutemberg Fialho, Dr. Pinheiro e Josiel Ferreira durante entrevista

Ele explica que se não houvesse resiliência para superar as dificuldades vivenciadas quando o Dr. Pinheiro chegou a Brasília, quanto à questão política do país, e não tivesse determinação para realizar o que era necessário, “a Saúde Pública no DF não teria acontecido como aconteceu.” O sindicalista contou que está em Brasília há 36 anos e foi procurar o Dr. Pinheiro, como era regra todos os paraibanos que chegavam à Capital, sendo médicos ou não sendo.

 

Para Gutemberg, o legado desse livro deixa para o futuro é que, na história da Saúde Pública em Brasília, um episódio a ser destacado é o hospital Salgadinho, que teve a destinação de hospital-escola, onde a primeira turma de Medicina da Universidade Nacional de Brasília (UNB) corria o risco de ir para outro estado e foi disponibilizado esse hospital para a Faculdade de Medicina da UnB poder utilizar. Ele quem montou a estrutura para que os alunos pudessem colocar em prática o exercício da medicina.

 

O Dr. Pinheiro explicou o que representa o livro que será lançado no dia 9 de dezembro, mas antes ressaltou a admiração que tem pela atividade desempenhada por Gutemberg. A ação médica já reconhecida. “Ele era um paraibano que despontava, representava muito bem a Medicina. Edgelson, também da Paraíba.” O médico fez questão de explanar que uma situação que o emocionou muito com o livro foi a dedicação de corpo e alma à Medicina. “E nada me afastou da Medicina.” “Eu concordo plenamente com o que ele falou que uma das coisas que eu tinha feito, a Residência Médica no Rio de Janeiro e procuramos implantar aqui em Brasília como foi feita,” sublinhou Dr. Pinheiro. Ele acrescentou que a Residência Médica se desenvolveu e “eu me orgulhava muito. Além disso, segundo ele, “esses cinco médicos que ele (Gutemberg) citou se tornaram excelentes cirurgiões. Estão aí praticando a cirurgia. E o Hospital de Base é uma referência. Ele evoluiu acompanhando todo o progresso que houve na cirurgia não só no Brasil como fora do Brasil.”

 

Para os jovens que estão ingressando na medicina, o Dr. Pinheiro mandou um recado. Os que querem ser médicos devem ser. E hoje as condições que proporcionam essa facilidade existem em Brasília. Tem toda a condição. Tem muitas faculdades em Brasília, mas para ser um bom médico o hospital é fator decisivo. E hoje é uma coisa que tem em Brasília. Os hospitais todos estão aceitando o ensino médicos; de certa forma, se facilita a evolução da Medicina.

 

Entre os três filhos do Dr. Pinheiro, dois são engenheiros, um mora em Brasília e outro em São Paulo. A filha é advogada, que também mora em Brasília. Indagado pelo Tudo Ok Notícias se Dr. Pinheiro estava feliz, ele respondeu que todos estão indo muito bem nas respectivas profissões desempenhadas e felizes. Já um neto também trabalhando na Engenharia.

 

Como segredo revelado para se manter muito bem aos 94 anos, Dr. Pinheiro afirmou que atribui muito ao esporte. “Eu sempre gostei de praticar,” frisou. “Quando eu ia fazer o vestibular de Medicina, eu fui servir ao Exército espontaneamente. E consegui passar. A disputa era muito grande. Só tínhamos três faculdades de Medicina no Brasil. A Faculdade da Bahia, tínhamos a de Recife e São Paulo. No CPOR fazíamos marcha e acampamento. Nas marchas conduzíamos pesos nas costas, eu estava com 19 anos. Eu agradeço muito a minha passagem nesse período.”

 

O lançamento do livro “Dr. Pinheiro, ‘O Médico de Brasília’,” será no dia 9 de dezembro às 19h30, no SGAS 607 – Centro Clínico Metrópolis. Inicialmente, haverá distribuição gratuita no evento, nos hospitais públicos e privados, nas faculdades, no arquivo público.

 

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