Se antes da pandemia as redes sociais eram apenas um meio de o campeão de jiu jitsu e atleta de MMA, Caio Gregório, postar parte da rotina pesada de treinos e aulas e se comunicar com os seguidores, o espaço virtual se tornou, há cerca de um mês, palco de solidariedade.
Foi pelo Instagram que Gregório deu início a um projeto de arrecadação e entrega de cestas básicas em Belo Horizonte e região metropolitana. Nos vídeos, ele convoca possíveis doadores. Ao encontrar alguém que esteja disposto a doar os mantimentos, o atleta combina a data para retirada. Depois, a cesta básica é entregue na porta da casa de pessoas em vulnerabilidade social.
Hoje em dia está difícil saber quem precisa, quem não. Já cheguei em lugares bem humildes, com mãe com sete crianças, sem emprego, sem nada e já entreguei cesta pra gente que mora em casas muito melhores que a minha, mas que pela situação, perdeu tudo e estava em uma situação bem ruim mesmo.
Com apoio da esposa, a também atleta de jiu jitsu, Nayanne Dumont, Caio transformou a própria academia, no bairro Pompéia, região Oeste da capital, em ponto de arrecadação.
Depois aulas interrompidas por determinação do muncípio, o amplo espaço do tatame, que antes concentrava dezenas de alunos, deu lugar aos pacotes de alimentos.
Entregas
Embora Caio faça parte dos 63,93% de brasileiros que tiveram perda de renda em 2020 em função da pandemia, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, o lutador segue com aulas particulares, o que possibilita que ele ainda consiga manter a entrega das cestas com combustível pago com o próprio dinheiro.
“Tem hora que a entrega é em Vespasiano, Contagem, outras cidades ou bairros mais afastados. O que faço é encher o tanque, que dá uns R$ 270 a cada dois dias e ir. Só penso no quanto a cesta vai fazer diferença na vida daquela pessoa. Um aluno chegou a me ajudar outro dia com um valor para o tanque, mas eu não recebo dinheiro, só recebo os alimentos para doação.”
Retribuição
Hoje, atleta renomado e com luta marcada em evento nos Estados Unidos no próximo dia 30, Caio lembra que, no começo da carreira precisou de ajuda e que, a ideia de colaborar com o próximo vem como uma meio de retribuir de alguma forma a quem estendeu a mão naquele momento da vida.
— A gente que é lutador, que é atleta tem uma vida muito difícil. Todo atleta que você vê que tem alguma coisa foi ajudado por alguém. Então, a gente carrega isso com a gente e você não pode esquecer que você já foi ajudado.
Doação
Durante a entrevista com o Caio, um pedido de ajuda chegou no seu celular. Camila Márcia, 29 anos, mãe de três filhas e moradora do bairro Bom Jesus, na reião Oeste, contou a ele que ela e o marido estavam desempregados e que a cesta doada pela prefeitura chegaria apenas dia 21 deste mês. Ela estava sem mantimentos em casa.
Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar apontam um número alarmante. Só em 2020, mais de 19 milhões de pessoas no Brasil enfretaram a fome, o que corresponde, por exemplo, a quase toda a população de Minas Gerais.
Ao receber a cesta, Camila se emocionou.
— Não tenho palavras para agradecer. Veio em ótima hora. Espero que mais pessoas se espelhem nessa iniciativa e ajudem, não importa se como uma cesta ou com um pacotinho de feijão. Não está fácil.
Como ajudar
Interessados em contribuir com a campanha do atleta de MMA, podem entrar em contato por meio da página do lutador nas redes sociais: @caiogregoriobjj