Partidos de direita e centro-direita negociam um nome para 2026 e descartam Bolsonaro e sua família. Tarcísio, Caiado e Ratinho Júnior estão entre as opções
Partidos de direita e centro-direita traçam cenários para a eleição presidencial de 2026, buscando consolidar um bloco de apoio em torno de um nome competitivo. Desde já, líderes dessas siglas descartam qualquer participação do ex-presidente Jair Bolsonaro ou de seus familiares na disputa. As negociações envolvem União Brasil, PP, Republicanos e, possivelmente, o Podemos, além de tentativas de atrair o PSD.
Bolsonaro, inelegível, não é considerado uma opção. Sua esposa, Michelle Bolsonaro, também não empolga o grupo, devido à sua baixa densidade eleitoral. O mesmo ocorre com seus filhos: Flávio Bolsonaro deve concorrer à reeleição ao Senado pelo Rio de Janeiro, Eduardo Bolsonaro pretende disputar o Senado por São Paulo, e Carlos Bolsonaro, vereador no Rio, é visto como inexperiente.
Atualmente, os partidos analisam três possíveis candidaturas presidenciais, todas de governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR). O PSD pode integrar a aliança, mas há incertezas, pois seu presidente, Gilberto Kassab, mantém um discurso ambíguo sobre a sucessão presidencial. Kassab foi um dos responsáveis pela eleição de Tarcísio em São Paulo, mas seu partido também compõe a base do governo Lula. Em declarações recentes, oscilou entre prever uma derrota do atual presidente e afirmar que ele “é forte” e pode reverter o cenário.
A decisão de Kassab dependerá da movimentação de Tarcísio. O deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, está entre os articuladores das negociações para estruturar um bloco de apoio. Até setembro ou outubro, nenhum dos envolvidos pretende se manifestar oficialmente, aguardando uma definição mais clara do quadro eleitoral.
Entre os três nomes cogitados, Caiado tem sido o mais ativo publicamente na construção de sua candidatura. Ele lançará sua pré-candidatura em Salvador no dia 4 de abril. Além disso, anunciou ontem que terá o cantor Gusttavo Lima como companheiro de chapa em 2026, podendo até abrir mão da candidatura presidencial para ser vice. Essa estratégia se justifica pelos levantamentos recentes, que indicam maior popularidade de Lima em relação a Caiado na disputa contra Lula.
Nos bastidores, líderes do Republicanos afirmam que apenas bolsonaristas ainda cogitam a candidatura de Jair Bolsonaro ou de seus familiares. O ex-presidente tem perdido apoio entre setores da classe média conservadora, descontentes com sua postura radical e com grupos de extrema direita ligados a ele.
Até mesmo dentro do PL, partido de Bolsonaro, cresce o descontentamento. Conforme reportado pelo PlatôBR, dos 93 parlamentares da legenda, apenas 30 se mantêm fiéis ao ex-presidente. O restante demonstra inclinação por um candidato de direita moderada, rejeitando extremismos. O deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) exemplifica essa mudança: “Segui Bolsonaro até a boca do precipício na eleição, mas virei a página, conforme meu eleitor exigiu.”
Parte da bancada do PL tem se afastado do ex-presidente e se aproximado do governo federal. Na votação da PEC do corte de gastos, que alterava regras sobre abono salarial e supersalários, 17 deputados do PL votaram a favor da proposta no primeiro turno, enquanto 71 foram contrários. No segundo turno, 18 votaram com o governo e 76 se opuseram.
Parlamentares do Republicanos e do União Brasil comentam nos bastidores que parte do PL nem sequer apoiaria, neste momento, uma eventual anistia política para Bolsonaro e aliados envolvidos em processos judiciais. Publicamente, no entanto, evitam se posicionar sobre o tema.
O deputado Nelsi Coguetto Maria (PL-PR), conhecido como Vermelho, reforça essa tendência ao afirmar que os brasileiros rejeitam posições radicais de direita e esquerda. Ele aponta as eleições municipais como evidência dessa mudança, com o crescimento de partidos de centro, como PSD, PP e MDB. “O eleitor hoje prefere candidatos mais moderados e está rejeitando os extremismos”, conclui o parlamentar.