Dia do Professor: Erenice Natália lamenta que crianças e adolescentes não queiram ser professores  

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Como mensagem destinada aos professores, mencionou que os colegas devem acreditar no seu papel e no desenvolvimento global do estudante, da cultura, na construção de uma sociedade justa, solidária e avançada, com a possibilidade de crescer como sociedade. E, ainda, sem perder de vista a sustentabilidade sob todos os aspectos.

Por Josiel Ferreira e Maurício Nogueira 

A professora, psicológoca, fonoaudióloga, mestre e doutora em Psicologia da Universidade de Brasília, Erenice Natália Soares de Carvalho, acredita que é, fundamentalmente, importante que quem se dedicar ao magistério deve desejar exercer a profissão de professor ou professora. Ela afirmou que crianças e adolescentes não querem ser professores.

A partir do momento que o indivíduo manifesta o desejo perante a família e amigos, a profissão é tão já desvalorizada que ele é desaconselhado a não entrar nessa profissão, segundo ela.

Outra questão pontuada como importante para o professor é que se viabilize maior segurança. “O professor, hoje é até vítima de violência. Então você não considerava no passado e até no futuro mais recente a profissão de professor como profissão perigosa. E, hoje, nós temos consciência disso. Ele pode ser agredido por familiares e pelo próprio aluno”, ponderou Erenice.

A sociedade tem expressado violência no contexto de trabalho e no trânsito, segundo ela. Além disso, não tem sido devidamente combatida com programas públicos de aprendizagem do controle da violência. A violência é encarada sem preocupação e em geral as pessoas acham que ser ou não violento é inerente à pessoa. E, ainda, a sociedade não a vê como uma influência social.

Outro aspecto com relação à valorização é valorização do professor pelo próprio aluno. Ou seja, o respeito do aluno pelo professor, o reconhecimento de tudo aquilo que ele pode fazer para contribuir para o desenvolvimento do estudante, segundo a psicóloga.

“Todos esses aspectos que estou levantando aqui, se a sociedade contribuir para isso, ela valoriza esse profissional sob diferentes aspectos o professor ficará mais satisfeito com o trabalho que ele faz. Ele vai ter mais saúde no trabalho. Tendo em vista essa satisfação vai ter mais comprometimento, pode se tornar um professor bem melhor e competente. Em face dessa motivação ele pode não estar tão motivado, tão engajado, comprometido como ele poderia estar e promover mais qualidade na educação que ele realiza”, explica a especialista.

No tocante a como o governo pode colaborar para a melhora do ensino, Erenice advoga que papel dos gestores públicos é formulação de políticas públicas adequadas realísticas e direcionadas às necessidades da sociedade.

No caso do professor devem ser relevantes focalizando questões importantes da educação. “Políticas educacionais bem formuladas, realísticas, avançadas, mas avanço concatenado com o posicionamento cultural da sociedade. Às vezes, importam-se políticas internacionais que não estão em consonância com o desenvolvimento social e cultural do próprio país.

De acordo com Erenice, as políticas educacionais devem focar o professor quanto ao desenvolvimento profissional, visando o avanço metodológico que ele vai alcançar poe meio de uma boa formação profissional.

Políticas educacionais

Para Erenice essas políticas devem englobar a questão salarial. A discrepância salarial é muito grande no Brasil. “Tem professor ganhando um salário de fome em alguns lugares do país. Com uma formação incipiente. E professores que ganham melhor e com melhores possibilidades de trabalho e de formação. O governo tem essa responsabilidade de formular políticas apropriadas, convergentes com a realidade do país”.

Em relação ás ferramentas que podem ajudar na valorização do professor e no reconhecimento da sociedade, Erenice atribui à mídia importância fundamental no papel da valorização do professor. Pode ser veiculando uma boa imagem desse professor e apontando o que dificulta realmente o exercício e a escolha dessa função. E, ainda, revelando como a educação se encontra no país e como a valorização do professor pode contribuir para isso.

A qualidade da formação docente, tanto dos cursos iniciais, quanto propiciando e possibilitando os de formação continuada. O sindicato dos professores tem um papel relevante. Tem se destacado pela luta política. “Eu vejo, pessoalmente, que ele pode estar participando mais não só por iniciativa própria, mas ganhando espaço de participação onde ele possa levar as demandas dos professores. Onde ele possa ouvir ademanda da sociedade em relação à formação do professor. Um sindicato protagonista, atuante também é extremamente importante”, sugeriu a especialista.

A realização de eventos, no entendimento de Erenice, como por exemplo, e audiências públicas, os professores não tem papel protagonista. Por experiência própria, ela observa que o professor tem sido pouco convidado a participar das mesas.

Ela ressalta que são convidadas “figuras importantes, de destaque nesses eventos”. No entanto, o professor de sala de aula, que “está no chão da escola, eu vejo muito pouco espaço para esse professor falar da sua prática, das boas experiências”

“Chamamos estrelas para falar de educação, consultores e cientistas. Eu sinto falta do professor em evento. Está ali mais assistindo. Está fora do protagonismo de mostrar o conhecimento introduzido na escola. Abrir esses espaços é muito importante para que contribua, realmente, para um trabalho melhor na educação o país, que ele seja mais protagonista do que ouvinte”, recomendou a doutora em Psciologia.

TudoOK Notícias questionou Erenice se já havia pensado em desistir diante de tantos obstáculos da profissão. Ela admitiu que pensou várias vezes em desistir da profissão. Principalmente, nos últimos anos de carreira, ao observar o aluno desrespeitando o professor. Com o passar do tempo, ela vai lembrando os valores e eles estão muito diante dela.

Erenice recordava como ela respeitava o professor dela e como o professor foi uma figura que a acompanhou durante toda a vida. “Por meio do seu exemplo, da sua palavra, das suas orientações não apenas técnicas, conhecimento tratado ali no currículo, mas as suas experiências de vida, seu estimulo. O professor como um orientador do aluno, como amigo, como apoio”, enumerou.

A psicóloga sentiu que esses valores foram aos poucos desgastados e que o professor deixou de exercer mais esse papeis. O professor passou muito mais a ser um colaborador da instituição onde trabalhando, realizando sua tarefa, exercendo a sua função, com responsabilidade. “Todo esse lado afetivo, todo esse vínculo interpessoal e social aluno-professor, o professor com o próprio professor, aqueles encontros como pessoas, tudo aquilo foi se perdendo com o tempo. Então eu pensei em desistir”, detalhou Erenice.

Um segundo momento em que Erenice tencionou sair da profissão foi quando transcorreu uma transformação com forte avanço tecnológico. Segundo ela, o professor não estava tendo apoio suficiente na sua formação para o uso dessas tecnologias. E assim, foi-se “criando um fosso muito grande entre a competência tecnológica do aluno e a do professor”. E isso, com o professor tendo que pagar por essa capacitação, ganhando um salário que mal dá para o seu sustento.

O momento para ela foi de dificuldade. A mesma encontrada, inclusive em fazer um tratamento psicológico que o professor eventualmente possa precisar, ou  fonoaudilógico que ele necessite.

“Ele (professor) não tem um plano de saúde que o governo dê, que ele possa pagar um preço coerente com o que ele ganha. O professor não pode se tratar, ele não tem recurso para se tratar. Ele não tem recurso para pagar um tratamento particular, muito menos para pagar um convênio”, lamentou.

“Por que os governos, Brasília, por exemplo não fazem, –fui aluna da rede pública e agora aposentada – por que a gente não tem um plano de saúde? O professor adoece muito por causa da sua voz, do acúmulo de trabalho, não tem condições de trabalho apropriado. Isso vai desmotivando e a gente vai tendo vontade de sair”, completa a professora.

Erenice contou que está há 43 anos na profissão, e exatamente por isso conseguiu superar. Entretanto, adicionou o fato de praticar a profissão escolhida “por coração”, para que pudesse permanecer nela.

Em nenhum momento ela deixou de ser professora, mesmo sendo psicóloga. Praticou a psicologia no trabalho docente e como profissão fora, “mas a docência foi a primeira atividade profissional que eu tive”. Trabalhou como professora, inclusive para se sustentar e sustentar o curso de Psicologia.

“Essa atividade, para mim, sempre foi muito gratificante, seja na educação no ensino fundamental ou na minha atuação como professora de educação especial, trabalhando com estudantes com deficiência. E como professora universitária também.”

Tudo OK Notícias questionou se Erenice fosse professora-geral da Nação, qual seria sua aula amanhã? Ela respondeu que daria uma aula para os professores focalizando a temática do professor como sujeito ativo na sua formação pessoal, no exercício da cidadania, um professor protagonista à frente de suas lutas, autor e produtor de conhecimento, não aquele professor que pega o conhecimento produzido por outros, seus trabalhos seus textos e daria as aulas com base nisso. Mas o professor que cria conhecimento e compartilha com seus alunos. Um professor que acreditasse no seu papel, no desenvolvimetno do país, na formação da pessoa humana. Seria essa a temática da minha aula.

Quando chegou o momento de a professora Erenice responder qual mensagem ela deixaria para os professores, ela afirmaria aos colegas que acreditem no seu papel e o desenvolvimento global do estudante, da cultura, na construção de uma sociedade justa, solidária e avançada, com a possibilidade de crescer como sociedade.

“E preocupado com a sustentabilidade sob todos os aspectos, do próprio planeta, ambiente com todos os seres que fazem parte desse ambiente global planetário. É só isso, então. Espero ter contribuído de algum modo”, disse.

Claro que contribuiu, professora.

 

Quem é Erenice

Psicóloga, fonoaudióloga, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília. Pesquisadora associada ao programa de pós-graduação stricto sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, onde integrou o corpo docente entre os anos 1996-2013. Consultora do MEC na Secretaria de Políticas de Educação Especial /SECADI, com produção voltada à educação especial e inclusão escolar.

Atualmente realiza consultoria também na Secretaria de Estado de Educação do DF e na Federação Nacional das Apaes.

Atuou como gestora e professora de ensino fundamental da Secretaria de Estado de Educação do DF (1970-1995), período em que foi diretora de educação especial, realizou atividades docentes no ensino comum e na educação especial e contribuiu nas áreas de psicologia e fonoaudiologia.

Ministra palestras, realiza pesquisa e formação continuada de educadores em educação especial e inclusão escolar, com ênfase nas temáticas de currículo, deficiência intelectual, múltipla e visual, com publicações na área. Editora científica da Revista Apae Ciência. Professora da Associação Objetivo de Ensino.

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