Em Kuala Lumpur, o presidente Lula propôs atuar como interlocutor entre Estados Unidos e Venezuela, reeditando seu papel de mediador da era Chávez, enquanto o mundo observa nova crise militar no Caribe
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta retomar o papel de “interlocutor regional” que marcou seus anos anteriores de governo. Durante encontro com o presidente norte-americano Donald Trump, neste domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, Lula propôs atuar como mediador entre os Estados Unidos e o regime do ditador venezuelano Nicolás Maduro. A intenção, segundo o petista, seria “buscar soluções aceitáveis e corretas” para a escalada de tensões entre os dois países.
A proposta foi revelada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, após a reunião bilateral. De acordo com ele, Lula ressaltou que a América do Sul é uma região de paz e se colocou à disposição para evitar um confronto direto entre Washington e Caracas. Trump, segundo Vieira, teria concordado em “considerar” Lula como interlocutor.
O gesto, contudo, reacende críticas sobre o alinhamento ideológico do presidente brasileiro com regimes autoritários latino-americanos. Ao se oferecer como mediador, Lula evocou sua antiga proximidade com o falecido Hugo Chávez, de quem foi aliado político e econômico, e usou essa relação como credencial para se aproximar novamente de Nicolás Maduro — hoje acusado por diversos organismos internacionais de promover perseguições, censura e colapso institucional na Venezuela.
Enquanto Lula prega a diplomacia, os Estados Unidos intensificam ações militares no Caribe, com bombardeios a embarcações ligadas a traficantes venezuelanos e o envio de tropas e um porta-aviões para a região. Em resposta, Maduro pediu “paz”, mas mobilizou a Milícia Nacional Bolivariana e acusou Trump de conduzir um cerco militar para destituí-lo do poder.
O movimento de Lula soa, para analistas políticos, como uma tentativa de reviver sua imagem de negociador global — ao mesmo tempo em que o país enfrenta desafios internos e uma política externa cada vez mais questionada por sua ambiguidade moral. Ao se colocar como ponte entre uma democracia e uma ditadura, o presidente parece apostar mais no simbolismo do protagonismo do que na eficácia diplomática.
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