COP 30: FRACASSO, HIPOCRISIA E VERGONHA NACIONAL

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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, na Sala reservada do Presidente da República. Parque da Cidade. Belém - PA Foto: Ricardo Stuckert / PR
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Por Carlos Arouck

A COP 30 terminou como começou, em meio a promessas grandiosas, caos logístico e um constrangimento global. O evento que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou como “a COP da implementação” terminou como a COP do fracasso, um retrato perfeito da distância entre discurso e realidade.

O fiasco foi visível desde o início. Dos quase 200 países convidados, apenas cerca de 30 chefes de Estado e de governo estrangeiros compareceram presencialmente, somando aproximadamente 31 líderes com Lula incluído. Foi o menor número em seis anos, desde a COP 25, em Madri, quando apenas 50 líderes se dignaram a aparecer. Isso representa uma queda catastrófica em relação às edições anteriores: COP 26 (Glasgow, 2021) teve mais de 120; COP 27 (Sharm El-Sheikh, 2022), mais de 100; e COP 28 (Dubai, 2023), o recorde de mais de 150. O resultado? Nenhum acordo vinculante sobre financiamento climático, NDCs (contribuições nacionais) ou a meta de US$ 100 bilhões anuais para nações vulneráveis. A “Cúpula de Líderes”, nos dias 6 e 7 de novembro, virou um palanque vazio, com discursos ecoando para plateias de ONGs e jornalistas, enquanto os grandes emissores viravam as costas.

Os grandes ausentes, Estados Unidos, China, Índia e Argentina, deixaram a conferência esvaziada e sem força política. A “Cúpula de Líderes”, que deveria ser o ápice diplomático do evento, virou um auditório de discursos ecoando para cadeiras vazias.

As ausências não foram meras coincidências. Representaram o colapso do multilateralismo climático. O boicote dos líderes mundiais à COP 30, em Belém, representou um terremoto geopolítico que enterrou qualquer ilusão de “unidade global” contra o aquecimento no mundo. O epicentro do boicote veio dos gigantes poluidores como declarações de guerra ao multilateralismo climático.

Segundo os Estados Unidos (Donald Trump), “Nenhum representante de alto nível foi enviado”, confirmando o que o porta-voz da Casa Branca anunciou dias antes. Trump, que retirou os EUA do Acordo de Paris pela segunda vez em janeiro de 2025, chamou as mudanças climáticas de “hoax” (farsa) e priorizou “fronteiras fortes e energias tradicionais” em discursos na ONU.
Em vez de diplomatas, mais de 100 líderes estaduais e locais americanos (como a governadora de Novo México, Michelle Lujan Grisham) compareceram por conta própria, promovendo ações subnacionais para “representar” os EUA ausentes. Ativistas como Jean Su, do Center for Biological Diversity, usaram a COP 30 para gritar: “Trump não nos representa”, mas o dano estava feito, com o governo Trump pressionando parceiros comerciais a diluir compromissos climáticos, inclusive na IMO (Organização Marítima Internacional).

Quanto à China (Xi Jinping), o maior emissor anual de CO₂ optou por uma presença “de baixo perfil”, sem o presidente em pessoa. Xi discursou por vídeo em reuniões preparatórias e na Assembleia da ONU em setembro, mostrando “fervor inesperado”, mas evitou Belém. Isso contrasta com sua postura mais engajada em edições passadas, e reflete uma estratégia de “diplomacia seletiva”: avanços em renováveis na China, como liderança em solar e eólica, mas resistência a metas mais ambiciosas sem contrapartidas financeiras do Norte Global. O chefe da COP 30, André Corrêa do Lago, elogiou a China como modelo, dizendo que “países ricos deveriam seguir em vez de reclamar de competição”, mas a ausência de Xi enfraqueceu qualquer chance de aliança UE-China para “salvar o planeta na ausência dos EUA”.

Sem chefe de Estado, a delegação da Índia (Narendra Modi) foi reduzida a níveis técnicos. Como terceiro maior emissor, a Índia priorizou soberania energética e agricultura, resistindo a prazos para NDCs, que, de qualquer forma, cortariam apenas 10% das emissões até 2035, longe dos 60% necessários para 1.5°C. A ausência reflete frustrações com o “fardo desigual”: Modi defendeu o “direito ao desenvolvimento” em fóruns prévios, mas boicotar a COP30 sinaliza ceticismo com o sistema da ONU, paralisado por guerras e instabilidade.

Na véspera da conferência, o bilionário e filantropo Bill Gates publicou um artigo explosivo em seu blog GatesNotes, questionando o próprio modelo econômico e moral que sustenta as cúpulas climáticas. “A mudança climática é um problema sério — mas não é o fim do mundo. O dinheiro gasto está sendo bem usado? Eu acho que não”, escreveu. O artigo viralizou no exato momento em que Lula tentava vender ao mundo o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), um fundo de US$ 125 bilhões prometido para financiar a preservação das florestas tropicais, embora até agora, zero tenha sido desembolsado.Mais uma promessa vazia enquanto a floresta queima.

Para Gates, pobreza e doenças matam mais que o aquecimento global, e a prosperidade é a melhor defesa contra qualquer crise ambiental. Com uma única publicação, ele destruiu o marketing climático que o governo brasileiro havia montado durante meses. Sua crítica expôs o abismo entre as promessas de financiamento e a realidade da ineficiência. Em outras palavras, o maior filantropo do planeta alertou que o rei estava nu, e o mundo aplaudiu o gesto.

Belém virou caos, luxo e desmatamento.Sessenta mil delegados, zero acordo vinculante. 18 mil leitos disponíveis, barcos luxuosos e jatos privados explodiram as emissões. Belém não aguentou. A COP30 afundou. O Fundo Amazônia parce ser puro marketing, ao invés de exercer seu papel de apoio à conservação e ao desenvolvimento sustentável da maior floresta tropical do planeta.

Enquanto isso, na Amazônia real, o desmatamento disparou 17% em 2025, segundo dados recentes do INPE. A rodovia BR-319 (Manaus–Porto Velho) concentra 94% do desmatamento ilegal em seu entorno. E em Belém, 100 mil árvores foram cortadas para abrir a “Avenida da COP”, uma obra de R$ 4,7 bilhões que gerou enchentes, trânsito e críticas internacionais. O governo do Pará defende que a via reduz emissões em 17,7 mil toneladas de CO₂ por ano. A Fox News retrucou: “É a estrada do cinismo”.

O barco-hotel de Lula é o símbolo máximo da vergonha. Alugado pelo governo para contornar a falta de leitos, o luxuoso Iana III consumiu 4.000 litros de diesel só na viagem Manaus–Belém, com custo diário de R$ 2.647 por pessoa. A Marinha ofereceu uma embarcação própria, que foi rejeitada por “falta de conforto”. As emissões de CO₂ equivalem a cerca de 300 voos São Paulo–Rio. Mesmo assim, Lula discursou contra as “elites poluidoras”, enquanto sua comitiva sinalizava um exemplo contrário. O vídeo de Lula no deque virou meme global com a legenda: “Poluir para salvar o planeta”.

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