Bolsonaro na mira da PGR: Provas ou política?

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
[views count="1" print= "0"]
Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
[tta_listen_btn listen_text="Ouvir" pause_text="Pause" resume_text="Retomar" replay_text="Ouvir" start_text="Iniciar" stop_text="Parar"]

 

Por Carlos Arouck

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na noite de 18 de fevereiro de 2025 contra Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, marca um momento significativo na política nacional. Assinada pelo procurador-geral Paulo Gonet, a peça acusa Bolsonaro de liderar uma organização criminosa que teria tentado executar um golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022. Os crimes imputados incluem a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Segundo a PGR, Bolsonaro, ao lado de figuras como o general Walter Braga Netto, teria planejado impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, culminando nos eventos de 8 de janeiro de 2023. No entanto, uma análise crítica da denúncia revela fragilidades e possíveis ilegalidades que merecem escrutínio.

O primeiro ponto de atenção é a construção da denúncia, baseada em uma narrativa extensa, mas aparentemente carente de provas materiais diretas que vinculem Bolsonaro de forma inequívoca a um plano concreto de golpe. A acusação se sustenta fortemente em depoimentos, como os dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, além da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. No entanto, esses elementos levantam questionamentos. Cid, por exemplo, teve sua delação alvo de controvérsias, com a defesa de Bolsonaro alegando que ele alterou sua versão “inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa”. Sem mensagens, gravações ou ordens expressas do ex-presidente que comprovem diretamente a intenção golpista, a denúncia parece depender de interpretações e inferências, o que pode fragilizar sua solidez jurídica.

Outro aspecto crítico é o timing e o contexto processual. A denúncia foi apresentada antes da conclusão de um relatório complementar da Polícia Federal (PF), fato destacado pela defesa de Braga Netto, que classificou a iniciativa como “surpreendente” e uma violação ao direito de defesa. Essa antecipação sugere uma possível precipitação por parte da PGR, que poderia ter aguardado a finalização das investigações para apresentar uma acusação mais robusta. Além disso, a ausência de acesso amplo aos autos por parte dos denunciados, como no caso de Braga Netto – preso há mais de 60 dias sem plena oportunidade de contraditar as provas – reforça a percepção de que o devido processo legal pode estar sendo comprometido.

A imparcialidade do sistema judicial também entra em questão. A condução do caso pelo ministro Alexandre de Moraes, que acumula os papéis de relator e figura central nas investigações, tem sido criticada como uma concentração de poder incompatível com os princípios do Estado Democrático de Direito. Bolsonaro e seus aliados alegam que Moraes age como “juiz e acusador”, uma crítica que ganha força ao se considerar que o ministro já foi um dos alvos do suposto plano golpista, o que poderia configurar um conflito de interesses. Embora a ministra Cármen Lúcia tenha rejeitado, em 30 de janeiro de 2025, um mandado de segurança da defesa por falta de provas de ilegalidade, a percepção de parcialidade persiste, alimentando o debate sobre a politização do Judiciário.

A gravidade dos crimes imputados também merece reflexão. Somadas, as penas máximas ultrapassam 40 anos, um montante que, para alguns, parece desproporcional diante da ausência de um golpe consumado e da falta de adesão das Forças Armadas ao suposto plano. A PGR alega que Bolsonaro “sabia e concordou” com o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que incluía assassinatos de figuras como Lula, Alckmin e Moraes. Contudo, sem evidências diretas que demonstrem sua anuência explícita, a acusação pode estar extrapolando os limites do que o arcabouço probatório permite sustentar. Isso abre espaço para a tese de que o caso poderia estar sendo instrumentalizado para enfraquecer politicamente o ex-presidente, especialmente em um momento em que ele busca se manter como líder da extrema-direita.

Por fim, a denúncia ocorre em um contexto de polarização extrema, o que intensifica as suspeitas de motivações políticas. Enquanto aliados de Bolsonaro denunciam “perseguição judicial”, opositores celebram o avanço da “lei contra golpistas”. Essa dicotomia sugere menos uma busca por justiça e mais um embate ideológico travado nos tribunais. Se o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a denúncia, o processo penal que se seguirá será um teste não apenas para a culpabilidade de Bolsonaro, mas para a credibilidade das instituições democráticas brasileiras. Até lá, a falta de transparência, as possíveis falhas processuais e a dependência de provas circunstanciais indicam que a denúncia, tal como apresentada, está longe de ser um cheque-mate jurídico – e mais próxima de um movimento arriscado em um tabuleiro político já bastante instável.

Mais lidas

Feira de Natal do Empreendedor Criativo va...
Disputa pelo GDF ganha novo protagonista
Canal Saúde Goiás alcança mais de 3 milhõe...
...