A canalhice como método político-ideológico

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Por Miguel Lucena

Quem trouxe a canalhice de volta aos debates atuais? A pergunta incomoda porque a resposta não cabe apenas em rótulos ideológicos: nasce, sobretudo, da transformação da grosseria em método político. Não é que a canalhice tenha surgido agora; ela sempre existiu. O que mudou foi o incentivo explícito para que ela fosse praticada em praça pública, sem pudor, sem filtros e sem consequências morais.

Muita gente passou a agir como se estivesse liberada de freios éticos. A lógica é simples e perigosa: se a liderança que admiro ofende, humilha, mente e debocha — e ainda recebe aplausos por isso — então eu também posso. O insulto vira forma de engajamento, a violência verbal se torna identidade de grupo, e a empatia passa a ser tratada como fraqueza.

Há, sim, uma dimensão ideológica nesse processo, mas não no sentido clássico. Não se trata de direita ou esquerda, mas da ascensão de um estilo político que transforma a canalhice em ferramenta estratégica. O objetivo não é convencer, mas intimidar; não é debater, mas destruir reputações; não é dialogar, mas polarizar ao ponto de tornar o adversário um inimigo a ser desumanizado. Em alguns casos, líderes estimulam esse comportamento porque sabem que o ódio mobiliza mais do que a razão — e porque, sob uma chuva de ataques, fica mais fácil esconder incompetências e malfeitos.

Quando a grosseria vira método, o país perde. Perde a convivência civilizada, perde o senso de responsabilidade pública, perde o chão ético que sustenta qualquer democracia. A política deixa de ser espaço de construção e vira ringue de luta livre, onde vence quem grita mais alto ou quem humilha melhor.

A grande pergunta, portanto, não é apenas quem trouxe a canalhice de volta. É: como vamos bani-la de novo? Isso exige coragem moral, exige que a sociedade rejeite a política da ofensa e recoloque a dignidade no centro do debate. Porque se a canalhice virou moda, é sinal de que a democracia anda malvestida — e precisamos vesti-la melhor antes que se desfaça inteira.

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