Jovens esvaziam seus feeds em busca de privacidade

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Agencia Brasil
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A Era do Post Zero

Por Simone Salles

A chamada tendência das “postagens zero”, ou “feed zero”, continua se espalhando pelas redes sociais. O que começou em 2024 como um comportamento de redução nos compartilhamentos, principalmente entre jovens da Geração Z, aqueles nascidos entre 1995 e 2010, ganhou força em 2025. Cada vez mais usuários optam por apagar publicações antigas ou simplesmente deixar o perfil vazio, limitando-se a interações rápidas em stories temporários ou mensagens privadas.

Um levantamento divulgado pela consultoria australiana McCrindle, neste ano, mostra que 86% da Geração Z afirmam ter reduzido o uso das redes sociais e que 26% dos jovens já tentaram um “detox digital completo”. Depois de duas décadas de postagens intensas, as pesquisas apontam que um terço dos usuários postam menos hoje do que há um ano, reforçando a percepção de que a superexposição perdeu apelo.

Detox Digital: da euforia tecnológica à desconfiança das redes

O entusiasmo inicial em torno das redes sociais deu lugar a uma postura mais crítica. O que antes era visto como uma plataforma para criar vínculos e compartilhar experiências se transformou, aos poucos, em um espaço predominantemente de consumo. O paradoxo é evidente: as redes se dizem sociais, mas seus efeitos muitas vezes são o oposto da socialização.

Esse desgaste tem levado cada vez mais pessoas a buscar alternativas para reduzir o tempo online e a repensar a forma como utilizam a tecnologia. Em várias camadas da sociedade, cresce o desejo por relações humanas mais profundas e autênticas.

Manter um feed perfeito, lidar com algoritmos que privilegiam conteúdos de marcas e enfrentar a pressão da comparação estética provocaram um cansaço coletivo. “A distração ainda existe, mas sua natureza pública diminuiu”, resume o escritor Kyle Chayka, que popularizou o termo “posting zero” em artigo para a revista The New Yorker. As redes sociais hoje priorizam conteúdo elaborado por marcas ou gerado por algoritmos, deixando de lado o conteúdo cotidiano e humano. Isso reforça a sensação de que postar é inútil. A tendência das “postagens zero” representa uma reação a essa desumanização. Sem validação algorítmica, muitos simplesmente param de publicar.

Os jovens consideram o esvaziamento dos perfis também um ato de resistência à falta de privacidade. Em vez de deixar rastros digitais permanentes, eles preferem interações rápidas, espontâneas e restritas a grupos fechados. A migração do espaço público para conversas privadas não elimina a dependência digital, mas muda a forma de se relacionar online. A tendência das “postagens zero” é uma resposta consciente à superexposição, ao perfeccionismo imposto e ao esgotamento emocional. O movimento reflete um desejo da juventude por autenticidade, privacidade e bem-estar psicológico. O feed vazio, que antes poderia parecer abandono ou descuido, agora é também um manifesto: nem tudo precisa ser compartilhado.

Com menos postagens pessoais, as redes caminham para se tornar cada vez mais mídias comerciais, semelhantes a canais tradicionais de entretenimento e publicidade. O espaço que antes era ocupado por fotos caseiras agora é dominado por anúncios, vídeos de marcas e influenciadores profissionais.

Especialistas acreditam que a tendência das “postagens zero” pode levar a um uso mais consciente das redes, mas não significa o fim que a dependência digital tenha desaparecido. O vício permanece, apenas sob novas formas, como ambientes de interação mais íntima, sem a pressão de se expor para todos. Crianças e adolescentes continuam consumindo memes, enviando mensagens e rolando feeds, ainda que de forma menos pública.

A consolidação do “post zero” em 2025 pode redesenhar o papel das plataformas. Ainda assim, especialistas destacam que o fenômeno não significa o fim das redes sociais, nem da capacidade viciante do celular, mas sim um uso mais seletivo, no qual o silêncio do feed pode ser tão expressivo quanto a publicação de uma foto

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