Em denúncia que desembocou na prisão nesta terça-feira (22), do prefeito Marcelo Crivella, os procuradores do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça (Gaocrim) afirmam que o prefeito do Rio de Janeiro é o “vértice da organização criminosa”.
E ainda que Crivella “concentra em suas mãos atribuições legais indispensáveis para a consecução do plano criminoso, meticulosamente elaborado pela organização criminosa”.
Em 453 páginas, os procuradores descrevem como o esquema era operado e que cabia à Crivella o “status funcional de alcaide, e a mais ninguém, a capacidade de executar e determinar a execução dos atos de ofício necessários à materialização das escusas negociatas”.
O Tribunal de Justiça do Rio determinou o afastamento de Crivella da função pública, a pedido do MP-RJ. Os procuradores alegaram a necessidade da prisão, sustentando que o afastamento não era suficiente uma vez que “Marcelo Crivella criou uma situação de poder que o permitiria manter contato com os mesmos personagens e frequentar os mesmos ambientes”.
Após ser preso, Crivella disse que enfrentou a corrupção na cidade. “Lutei contra o pedágio ilegal, tirei recursos do carnaval, negociei o VLT, fui o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro”, afirmou aos jornalistas quando chegou à sede da Cidade da Polícia.
Marcelo Crivella está a nove dias do fim mandato, que termina em 31 de dezembro. Ele disputou a reeleição e foi derrotado por Eduardo Paes (DEM), que toma posse em 1º de janeiro de 2021.
Com a prisão de Crivella, assume interinamente o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM). O vice-prefeito Fernando Mac Dowell morreu em maio de 2018.
O Ministério Público investiga um esquema de pagamento de propina na prefeitura –chamado de “QG da propina”. O empresário Rafael Alves, também preso na operação de hoje, é apontado com um dos líderes da organização ao lado de Crivella.
Trocas de mensagens entre eles, segundo os investigadores, indicam que o prefeito tinha ciência das ilegalidades supostamente cometidas no município.
Modus operandi
O inquérito contra Crivella, cujo conteúdo permanece sob sigilo, foi aberto no ano passado com base na delação premiada de Sérgio Mizrahy, um agiota da zona sul da cidade. Ele alegou que lavava o dinheiro da organização criminosa operada por Crivella e Rafael Alves.
Mizrahy revelou que Alves, ex-dirigente do Salgueiro e da Viradouro, era o responsável por cobrar propina na Riotur.
A empresa municipal de turismo era presidida até março por seu irmão, Marcelo Alves. Embora não fosse funcionário da prefeitura, Alves tinha uma sala dentro da Riotur, de onde despachava e recebia os empresários.
O delator disse que Rafael Alves cobrava propina de empresas contratadas pelo município ou que têm dívidas a receber de gestões anteriores. O agiota afirmou que recolhia cheques do empresário, recebidos como vantagem indevida, para trocar por dinheiro vivo.