Por Miguel Lucena
Vivemos tempos de trincheiras ideológicas, em que muita gente se alimenta mais de rótulos do que de fatos. A verdade passou a ser negociada em mercados de opinião, onde a lógica é torcida para se ajustar ao time. Mas há um critério simples que pode ajudar quem quer manter a lucidez: tirando a ideologia, a prática é diferente?
É assim que tento separar o joio do trigo. Porque, no fundo, é fácil pregar valores elevados na teoria e, na prática, reproduzir os mesmos vícios de quem se combate. De um lado, há quem acuse o Estado de ser inchado, mas não abre mão das benesses públicas quando está no poder. Do outro, quem diz lutar pela justiça social esquece os mais pobres se não votarem do “lado certo”.
Quando tiramos o verniz ideológico, o que sobra? O tratamento aos adversários, o uso dos recursos públicos, o respeito à divergência, a conduta ética — tudo isso fala mais alto do que o discurso inflamado ou as palavras de ordem.
Meu critério é pragmático: o comportamento resiste se a gente inverter os papéis? Um erro de um político “meu” continua sendo erro? A liberdade que exijo para mim concedo também ao outro? Se a resposta for sim, estou mais perto da verdade. Se for não, talvez eu esteja apenas escolhendo o engodo que mais me agrada.
No fim, o critério não é ser de direita ou de esquerda. É ser honesto com a própria consciência.