A contradição da gestão em Águas Lindas de Goiás
Na calada da noite, em dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Águas Lindas de Goiás aprovou, por unanimidade dos 21 vereadores, uma lei que concedeu auxílio-alimentação de R$ 2 mil para seus próprios membros. O ato, realizado sem alarde, levanta sérias questões sobre as prioridades da gestão municipal.
Segundo um ex-vereador que não conseguiu se reeleger para o mandato 2025-2028, o benefício foi aceito sem resistência pelos parlamentares. Enquanto isso, o município enfrenta uma grave crise financeira, marcada pela incapacidade de pagar credores e pela precariedade de serviços públicos essenciais.
A população, já sobrecarregada com os aumentos anuais de IPTU, contas de água, luz e IPVA, agora também terá que arcar com mais essa despesa gerada pelos seus representantes.
Justificativas e Contradições
Em entrevista, o novo presidente da Câmara Municipal, Oliveira Júnior, tentou explicar o inexplicável. “Essa normativa já é adotada em 99% dos municípios goianos. Não foi proposta do governo, mas sim uma decisão da gestão passada, aprovada por unanimidade pelos vereadores e sancionada pelo prefeito”, declarou.
Quando questionado sobre a autoria da proposta, Oliveira foi vago: “Foi no pacotão de projetos”, afirmou, demonstrando falta de clareza sobre os trâmites legislativos que resultaram na aprovação do benefício.
Saúde em Crise
A situação da saúde no município também foi tema da entrevista. Oliveira reconheceu os problemas, como a falta de pagamento aos servidores e de combustível para ambulâncias. “A saúde passa por uma turbulência, e isso é fato. Houve troca de gestor, e estamos fazendo um levantamento para buscar recursos”, justificou.
Sobre a situação financeira do município, o presidente foi direto: “Hoje estamos dependendo exclusivamente de emendas parlamentares. No ano passado, conseguimos R$ 10 milhões para a compra de medicamentos.”
A Crítica Popular
Apesar de reconhecer as dificuldades, Oliveira defendeu a necessidade de união entre os vereadores para superar a crise: “Se cada um deixar de lado o ego e a vaidade e correr atrás de soluções, podemos superar as dificuldades.”
No entanto, a concessão do auxílio-alimentação aos vereadores em um momento de colapso financeiro é uma contradição gritante. A população, que enfrenta a precariedade nos serviços de saúde e outros setores, observa perplexa a manutenção de privilégios para a classe política.
A aprovação do benefício evidencia o descompasso entre as prioridades dos representantes e as necessidades urgentes da comunidade. O ato é mais um exemplo da conhecida expressão popular: “dois pesos e duas medidas”.