CPI da Covid: Conheça os sete pecados capitais do governo no combate à pandemia

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Pesquisadores falam sobre medidas não farmacológicas no enfrentamento da pandemia e dados coletados sobre mortes ocorridas por Covid-19 no país

 

A CPI da Covid-19 tem, no momento, o epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal, e Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta respondendo ao colegiado perguntas sobre as ações no combate à pandemia e apresentando dados de pesquisas sobre a quantidade de mortes provocadas pelo Covid-19.

Jurema Werneck diz que faltou ‘liderança nacional’ no controle da pandemia

Ao comentar sobre as medidas não farmacológicas implementadas no Brasil, a pesquisadora Jurema Werneck afirmou que “faltaram muitas coisas” no enfrentamento da pandemia.

Ela destacou o desencontro de informações, as fake news e “falta de liderança nacional”. “É preciso que a liderança em uma mensagem única garantindo a confiança da população.”

“Isso infelizmente faltou e ainda falta, é preciso uma liderança nacional firme baseada em evidências que cumpra e faça cumprir as medidas necessárias para salvar vidas”, disse.

• Atraso na compra de vacinas causou ao menos 95,5 mil mortes, diz epidemiologista

Hallal também apresentou estimativas feitas por ele e por outros pesquisadores sobre os possíveis impactos que a demora do Brasil na aquisição de vacinas contra Covid-19 causaram em relação aos mortos pela doença no país.

“Fizemos uma análise que estimou, especificamente, que o atraso na compra das vacinas da Pfzier e da Coronavac, resultou em 95,5 mil mortes”, disse o epidemiologista.

Ele afirmou ainda que outros pesquisadores, usando um método mais robusto de pesquisa – com análise de dados do ritmo da campanha de vacinação – estimaram 145 mil mortos “pela falta de aquisição de vacina tempestivamente pelo governo federal”.

Desta forma, ele concluiu afirmando que o Brasil “é um dos piores países do mundo na resposta à Covid-19 (..) Não há outra justificativa que não a postura anti-ciência adotada no país”.

• Hallal: ‘Cidades com mais votos em Bolsonaro em 2018 apresentam mais mortes por Covid-19’

Em sua apresentação, Pedro Hallal apresentou dois gráficos de mortalidade no Brasil, um geral e outro específico sobre Covid-19, fazendo o cruzamento com os votos no presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição presidencial de 2018.

“As cidades em que o presidente foi mais votado tiveram mais casos e mortes por Covid e isso não deveria ter relação”, disse.

O pesquisador foi interrompido pelo senador Fernando Bezerra (MDB-PE), que perguntou qual a relação entre as duas coisas.

“Qual é a base cientifica para fazer uma afirmação dessa natureza? É preciso ter cautela ao fazer afirmações. Está tentando se construir uma narrativa”, disse o emedebista, que é líder do governo Bolsonaro.

“Os dados mostram que de acordo com o percentual de votos do atual presidente aumenta a mortalidade por Covid-19. Cada pessoa faz a interpretação que achar mais adequada desse resultado”, respondeu Hallal.

“O que estou dizendo que isso não se observa por acaso. Quando a gente compara com mortalidades em geral, não existe essa tendência, ela é específica para Covid-19.”

• Hallal fala em ‘7 pecados capitais’ no enfrentamento da Covid-19

Em sua fala inicial, Pedro Hallal, apontou o que considera serem os “7 pecados capitais”, do ponto de vista da epidemiologia, cometidos pelo país no enfrentamento da Covid-19:
  1. Pouca testagem, rastreamento de contatos e isolamento
  2. Demora na compra e desestímulo à vacinação
  3. Promoção de tratamentos ineficazes
  4. Ausência de liderança do Ministério da Saúde e de um comitê de crise
  5. Desestímulo ao uso de máscaras
  6. Uso de uma abordagem clínica vs. epidemiológica
  7. Falta de uma comunicação unificada

Hallal defendeu ainda o uso do número de mortes ao invés do registro de casos já que o dado dobre casos não pode ser considerado conviável por depender da estratégia de testagem do país.

Ele disse ainda que é preciso usar relativos ao invés de números absolutos ao fazer comparações e defendeu a importância de usar fontes confiáveis de dados.

“Já ouvi aqui, nesta CPI, que o Brasil é o 4º país que mais vacina no mundo. É lamentável essa afirmação ser feita. Em números relativos, o Brasil não está entre os 70 países que mais vacinam”, disse Hallal.

“Assim como também não é o segundo país com mais mortes no mundo. É o 8º, 9º, depende dos últimos dois ou três dias, se mudou.”

• Pesquisadora propõe 5 medidas que deveriam ser adotadas pelo país

Jurema Werneck concluiu sua fala inicial aos senadores da CPI da Covid com cinco recomendações de medidas que deveriam ser adotadas daqui para frente pelo país:
  • Criação do Memorial Nacional das Vidas Perdidas para a Covid -19
  • Criação de um Plano de Responsabilização e Reparação
  • Criação de Frente Nacional de enfrentamento da Covid-19 no Brasil
  • Garantir a implementação consistente de medidas não farmacológicas para a redução da transmissão
  • Adequação da dimensão, abrangência e responsabilidades do Sistema Único de Saúde (SUS) aos atuais e futuros desafios epidemiológicos

“A gente precisa viver como coletividade, como nação, esses rituais e processos de luto. Essa CPI pode e precisa liderar esse processo”, disse. “Falamos de reparação individuais às famílias, mas principalmente de forma coletiva.”

Há um desafio que está colocado: outras epidemias virão. E a gente precisa do SUS, daquele sonho colocado na Constituição de 1988. Há vidas que ainda podem ser salvas”, concluiu

• Medidas poderiam ter evitado 120 mil mortes em um ano

Ainda segundo os estudos, Jurema Werneck afirmou que se medidas eficientes de distanciamento e controle da transmissão, e de vigilância epidemiológica de saúde tivessem sido adotadas, haveria redução de 40% no potencial de transmissão do vírus.

“A gente poderia, ainda no primeiro ano de história da pandemia, nas 52 primeiras semanas epidemiológicas, ter salvo 120 mil vidas”, disse. “Não são números, são pais, mães, irmãos, sobrinhos, são tios, vizinhos, gente que eu não conheço, mas habitam esse país como eu.”

“A gente poderia ter salvo pessoas se uma política efetiva de controle, baseada em ações não farmacológicas tivesse sido implementada”, complementou.

Ela destacou ainda que o risco de morte não foi o mesmo para toda a população brasileira.

“As inequidades fizeram diferença. Com base em dados da Pnad-Covid sobre testagem no primeiro ano da pandemia, concluímos que menos de 14% da população brasileira fez testes de diagnóstico para a Covid-19”, afirmou. “Isso mostra que o país não estava buscando medidas básicas para garantir o controle da transmissão.”

Jurema também destacou que pessoas com renda superior a quatro salários mínimos consumiram quatro vezes mais testes do que pessoas que receberam menos de meio salário mínimo e que a maioria das pessoas que morreram eram negras, indígenas, de baixa renda e baixa escolaridade.

• Primeiro ano da pandemia resultou em 305 mil mortes acima do esperado no Brasil

Em sua fala inicial, Jurema Werneck apresentou dados de um estudo conduzido entre março de 2020 – após a primeira morte confirmada por Covid-19 no país – e março de 2021 sobre as mortes causadas por Covid-19 no Brasil.

“A pandemia no Brasil, ao longo de 52 semanas, produziu aquelas mortes em excesso. Quantificando, podemos afirmar que foram 305 mil mortes acima do esperado no Brasil no primeiro ano da pandemia”, afirmou, se referindo a uma comparação com o número médio de mortes registrado no país entre 2015 e 2019.

Ela disse ainda que dentro desse número de 305 mil mortes estão tanto casos diretos de pessoas que foram vítimas do novo coronavírus quanto mortes causadas indiretamente pela presença da pandemia no país.

“Significa que [foram contabilizadas] pessoas que retardaram o pedido de ajuda ou que buscaram ajuda, mas o serviço [de saúde] estava sobrecarregado e não foi capaz de dar atenção necessária. Ou seja, são todas as mortes que a pandemia provocou, direta ou indiretamente.”

Sobre as medidas que poderiam ser tomadas para reduzir as mortes por Covid-19, ela disse que estudos mostram dois caminhos: a redução da transmissão e a preparação do sistema de saúde.

Sobre o primeiro ponto, ela disse que deveria ter sido posto em prática uma vigilância epidemiológica, com ampla testagem e rastreamento de contatos para conter a transmissão do vírus, além da adoção de medidas não farmacológicas.

“Estudos já comprovam que uso de máscara é uma alternativa importante, o distanciamento físico é uma alternativa importante, a restrição da mobilidade e a redução da taxa de contato, isso tudo os estudos mostram que teria feito diferença.”

Sobre o sistema de saúde, ela disse que era necessário ter “oferta de profissionais treinados em quantidade suficiente”, além da oferta de leitos em hospitais, principalmente os de UTI.

• Relator da CPI pede que CPI garanta proteção de dono da Precisa Medicamentos

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), pediu ainda que a CPI da Pandemia garanta a segurança do empresário Francisco Maximiano, da Precisa medicamentos, para não incorrer em prevaricação.

“A Precisa será alvo a partir de agora. É uma testemunha muito importante e precisamos garantir a segurança de vida dele. A empresa teria levado dinheiro público, mas precisamos garantir a segurança de vida dele”, disse Renan.

O pedido foi rebatido pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), que disse que Maximiano não fez nenhum tipo de pedido em relação à sua segurança.

Ao responder ao pedido de Renan, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que pedirá para a secretaria da mesa-diretora da CPI entrar em contato com os advogados do empresário sobre essa questão.

“Caso ele não peça [proteção], não tenho porque demandar esse tipo de solução. Se ele quiser, demandaremos na mesma hora.”

• Sessão é aberta com questões de ordem

A sessão da CPI nesta quinta-feira (24) foi aberta com uma questão de ordem do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) que pediu ao presidente da CPI a definição da data do depoimento do ministro-chefe da Controladoria-geral da União (CGU), Wagner Rosário.

“[O requerimento] foi aprovado duas semanas atrás e o próprio ministro declarou que quer vir depor. Solicito que paute, por gentileza, o depoimento – se possível – na próxima semana”, disse Girão.

Já o senador Humberto Costa (PT-PE), em outra questão de ordem, afirmou que protocolou na CPI um requerimento para que o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência do Brasil, Onyx Lorenzoni, seja convocado pela comissão.

Esse pedido do senador petista foi apoiado também pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que chamou de “bravata” a entrevista coletiva de Onyx na véspera sobre as acusações de irregularidades na compra da vacina Covaxin.

“Ele [Onyx] comete um crime porque é um caso clássico de coação de testemunha e de dificuldade de avanço da investigação (…) Se esse senhor continuar a reincidir, não temos outra coisa senão requisitar a prisão dele”, disse Renan.

Justificativas para convocações

Os requerimentos são de autoria do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Na justificativa, ele explica que Hallal conhece a situação brasileira em relação à pandemia e as políticas públicas a serem adotadas nessa situação.

“Por ser gestor e médico, acadêmico e cientista de grande respeitabilidade nacional e internacional, certamente contribuirá para que os integrantes desta comissão possam avaliar os fatos com a profundidade que merecem”, ressaltou.

Já em relação a Werneck, Renan classifica sua participação como “necessária” para subsidiar os membros da CPI com informações e esclarecimentos. Ele explicou que o Movimento Alerta é formado por entidades da sociedade civil que trabalharam na consolidação de dados e informações sobre as mortes ocorridas durante a pandemia.

A sessão prossegue com os questionamentos do colegiado.

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