Em entrevista exclusiva, o superintende do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal (SEBRAE-DF), Antonio Valdir Oliveira, manifestou preocupação em primeiro lugar com o setor que atravessa grave crise. “A preocupação é muito grande.” Ele afirmou que o SEBRAE-DF não se posicionou quanto à questão da quarentena continuar ou não, “não está na nossa pauta”.
“A nossa economia está sofrendo muito. Muito mesmo. Está muito grave a situação. E acho que o SEBRAE não tem condição de se posicionar diante de informações com relação ao vírus ao contágio, as consequências. Não está na nossa pauta. Tem sido unânime dos dirigentes do Brasil. Tendemos a seguir as orientações das autoridades, que estão se balizando por conhecimento científico”
Tudo OK Notícias questionou sobre a visão dos empresários e demais presidentes regionais do SEBRAE, quanto à situação do comércio como um todo, desde empresas de pequeno e médio portes bem como os demais segmentos.
Oliveira narrou que participou de algumas reuniões e comentou sobre as demandas ouvidas nesses contatos.
“Naturalmente você tem demandas pontuais com alguns entendimentos. Tem segmentos que compreendem que precisam da abertura (do comércio) e não tem grande risco, ou que são minimizados. Segmentos acabam colocando as suas posições. A última reunião que tivemos com o setor produtivo e presidentes de federações, presidentes dos CDEs, a posição fechada é que o setor produtivo não tem uma posição formal com relação ao confinamento. Mas cada federação tem seus pleitos e estão sendo já considerados e ponderados.”
“Preocupação é grande”
O superintendente do SEBRAE-DF reforça que a preocupação com os micros e pequenos empreendedores é muito grande. Segundo ele, a economia caminha bem próxima a um colapso.
“Os nossos micros e pequenos empresários são os que mais me preocupa. Temos um conjunto de micro empresários que faturam R$ 10 mil por mês. O que significa faturamento entre R$ 100 mil a R$ 150 mil por ano. Não têm acesso a crédito, nem à subvenção econômica. Esses estão abandonados e são a maioria, centenas de milhares de pequenas empresas, normalmente, familiares que estão por todo o Distrito Federal e precisam de uma ajuda grande do governo federal. “
Micros e pequenos quebrados
No entendimento de Oliveira, quem tem condições de ajudar em termos de volume de recursos em forma de subsídio é o Governo fFederal e reconheceu as ações do Governo do Distrito Federal tomadas em relação ao enfrentamento da disseminação do Covid-19.
“Só o governo federal tem capacidade de endividamento, os instrumentos necessários de gerar os recursos. A nossa expectativa é que o governo federal possa atender os micros, pequenos empresários, os mais necessitados. Essas empresas já estão quebradas.”
Dinheiro não chegou na ponta
A economia tem que ter dinheiro em circulação e a demora para chegar na ponta é muito emergencial, segundo Oliveira.
“Imagine um pequeno restaurante familiar de Brazlândia, ou mesmo do Sol Nascente, Planaltina, que atende a comunidade local. Ele baixou as portas. Tem 20 dias sem faturamento. Essa empresa, ela já quebrou. Precisamos urgente fazer chegar os recursos nas mãos dessas pessoas. Primeiro, para o sustento da família, que é fundamental. E segundo, para poder ressurgir essas empresas.”
Sem “respiradores”
Oliveira, tomando por exemplo o tratamento da Covid-19, exemplificou que “essas pessoas estão precisando urgente de um ‘respirador’ senão elas vão morrer. A expectativa é de que o governo federal possa agir. Vemos várias medidas provisórias, projetos de lei, emenda constitucional tudo aprovado pelo Congresso”.
Ele informou que tem conversado com integrantes do Ministério da Economia. Reconhece que a equipe trabalha. “Mas se os recursos não chegarem aos micros e pequenos teremos, seguramente, uma hecatombe, uma crise social, com sequelas enormes. Até agora isso não chegou e tem me preocupado muito.”
Performance do secretário de Desenvolvimento do DF
O secretário de Desenvolvimento do DF, Rui Coutinho, tem feito esforços pelo micro e pequeno empreendedor individual? Indagou o Tudo OK Notícias a Oliveira.
Oliveira elogiou o integrante do GDF. “Dr. Rui Coutinho é um consultor experimentado, profundo conhecedor da nossa economia. Tem um currículo bastante respeitado. E tem feito alguns esforços, a gente vê no (Programa) Pequenos Reparos, que foi um programa em que ele se empenhou bastante, que estava um processo de inclusão dos micro empreendedores individuais através das compras decentralizadas do governo”, respondeu o superintendente do SEBRA-DF.
Ele ressaltou que Coutinho se esforçou enormemente para que o Programa Pequenos Reparos tivesse um “grande vulto e bastante atuação, assim como as ações dos cartões que estavam sendo feitas pelo GDF, como o cartão material escolar e outros”.
Também, o superintende reconheceu que Coutinho trabalhou com afinco em importantes ações. “Mas, agora, com essa hecatombe que nós tivemos, tudo isso acaba dando lugar a necessidade de ações emergenciais, que acabam não saindo da pasta dele especificamente. Mas o DR. Rui Coutinho tem o meu respeito pelo trabalho que tem feito. É um homem muito dedicado, muito correto e muito competente”, pontuou.
Ações do Governo Federal
Em relação às medidas tomadas pelo Governo Federal, Oliveira cobrou que os recursos cheguem o mais rápido às mãos dos micros e pequenos empresários. Para ele, essa questão da economia cabe mais ao governo federal. É preciso desburocratizar, gerar os recursos e fazer os recursos chegarem na sociedade. “É como se tivéssemos rios, riachos vazios e precisamos enchê-los para que a águas cheguem nesses córregos.”
Economia tem que girar
Na visão de Oliveira, a economia funciona e retomará o crescimento se o dinheiro estiver nas mãos das pessoas. “O que vai acontecer? Temos senhoras confinadas que estão fazendo máscaras. E tem vizinho que precisa comprar máscara. Se o dinheiro chegar nas mãos desse vizinho, ele vai comprar máscara dessa vizinha, que vai aproveitar esse dinheiro e comprar de uma outra vizinha que faz marmita para poder se alimentar. “
Segundo ele, é assim que “esse tecido econômico dá a vida. Ele tem vida assim. Esses riachos estão vazios. Esses córregos estão vazios”, disse.
“Como fazer os córregos encherem? É dar dinheiro nas mãos dessas pessoas. Na hora que esse dinheiro chegar nas mãos dessas pessoas a economia torna à vida com coronavírus, sem coronavírus, com confinamento, sem confinamento. As pessoas dão um jeito de gastar e esse gastar vai gerando riquezas que os outros vão gastando também.”
Ferramentas em uso
No tocante ao comportamento dos três poderes, Oliveira, reiterou que as ferramentas utilizadas para conter a crise econômica estão em uso. No entanto, o processo de irrigar a circulação do dinheiro não conseguiu propiciar o efeito desejado.
“Hoje estamos vendo anúncios de bilhões de reais. O ministro Paulo Guedes já disse que o limite que eles chegam a pensar em gastar 10% do PIB em ações sociais e de resgate. Mas até agora essas ações não surtiram efeito na prática”, lamentou.
Ele elencou que tem observado o arcabouço legal. As ideias estão bem preparadas. “Eu vi a criação de um aplicativo de forma muito rápida onde as pessoas podem se cadastrar. E que o dinheiro começaria chegar na quinta-feira. Quando foi necessário aprovar a emenda constitucional foi aprovada com urgência. O próprio Supremo respondeu de forma urgente.”
Apesar de tudo isso, Oliveira não viu as pessoas terem acesso a esse dinheiro. “A grande demanda, hoje, é a chegada nas mãos das pessoas. Isso é o oxigênio que a gente precisa para que esse tecido econômico ganhe vida de novo e a gente consiga sobreviver nesse momento de crise”, reiterou Oliveira.
GDF e a quarentena
O Decreto 40.612 assinado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, possibilitando a abertura paulatina de setores do comércio mesmo durante o período de quarentena teve apoio de empresários.
Tudo OK Notícias quis saber se superintendente do SEBRAE-DF, estaria a favor de uma abertura do comércio, se o momento era e continua sendo apropriado.
Na visão Oliveira, a competência para tratar do assunto novo coronavírus é dos médicos e dos governos assessorados pelas pessoas do setor da medicina.
Ele ressaltou que desde o início da crise decorrente da expansão do coronavírus, tem-se posicionado nesse sentido, de não ter competência para avaliar questões de saúde, os reflexos, as consequências.
“Eu não tenho condições de opinar se demorou, se não demorou”, disse. O GDF está se posicionando mediante as informações que possui e no sentido de proteção à vida, segundo Oliveira.
“O governador Ibaneis Rocha tem ouvido o setor produtivo, nós temos um canal para demandas. Ele tem atuado de forma cirúrgica em alguns casos”, revelou.
Ele também informou que nesta quinta-feira houve uma reunião com o presidente da Federação da Indústria que foi no Buriti fazer alguns pleitos, mas, não participou.
“Eu acho que nessa hora, a gente tem que ter muito cuidado com as opiniões, por causa das consequências, porque estamos lidando com as vidas. A gente não pode botar nenhuma vida em risco. Torcemos para que isso passe logo.”
“Vamos sair dessa”
O superintendente do SEBRAE-DF não perde o otimismo. Ele contou que certa vez, num momento e dificuldade, de desespero com um problema, ouviu de uma pessoa importante para ele a seguinte lição. “Olha, Valdinho, eu estou há tanto tempo aqui, nessas ações e eu descobri, eu aprendi uma coisa. Tudo na vida tem solução. Quando você se depara com um problema e acha que não tem solução, é impressionante como a solução aparece. Eu aprendi isso, que é verdade.”
Oliveira mencionou que em momentos difíceis, como a crise provocada pela greve dos caminhoneiros, houve muita preocupação com a possibilidade de desabastecimento. E foi superada.
“Naquela época, quando eu estava em momentos de desespero, impressionante como as soluções apareciam. Eu tenho certeza que vamos sair dessa e que as soluções vão aparecer. E que nós não amos ter uma hecatombe e o mundo não vai se acabar. Vamos ter, lamentavelmente, algumas baixas de vidas humanas que é muito triste. Nenhuma vida humana pode ser deixada de lado por questões econômicas.”
Oliveira defende que a economia não pode se sobrepor à vida. “Lamentamos muito que vamos ter e já estamos tendo baixas, mas eu tenho certeza que disso tudo vão sair aprendizados para enfrentar crises como essa. E nós vamos sair melhores e mais fortalecidos como pessoas e como empresas e como economia, principalmente com pessoas.
Ele crê que, “certamente, vamos passar a dar valores para princípios que estavam esquecidos. E esse momento que estamos passando de confinamento é de reflexão importante para a vida, para as pessoas e para as famílias. Vai enriquecer de mais a nossa vida eu tenho certeza”, pontuou.
Home office dando certo
Quando foi indagado se estava trabalhando em casa nesse momento de quarentena, ele afirmou que está em “home office”.
“Não estou saindo. Muito raro eu sair. É só quando existe uma emergência. Quando tem a emergência, eu tomo os cuidados e as recomendações adequadas quanto ao distanciamento para não ter contatos, ao álcool de proteção e à máscara. Não saio sem máscara de jeito nenhum. E só para coisas muito urgentes. De casa a gente está no home office e está dando certo. Estamos conseguindo trabalhar.”