A condenação do Brasil

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Começo meu texto de hoje dizendo claramente: nunca votei em Lula. Não falo isto de forma a “lucrar” com o resultado de seu julgamento. Muito pelo contrário, não fico nem um pouco feliz com sua condenação. Explico:

A eleição de Lula em 2001 foi a eleição de um representante das classes mais humildes de nossa sociedade. Não obstante as críticas que hoje podemos fazer olhando para trás, à época isso significou uma vitória clara das possibilidades de nossa democracia incipiente. Existia um sentimento de que o Brasil iria dar certo. Tínhamos debelado a inflação, ajeitado minimamente as contas públicas e era hora, finalmente, de acertamos as contas com nossa sociedade, diminuir o abismo entre pobres e ricos, acabarmos com a fome, enfim, era hora de nos tornarmos o pais mais justo e correto dos sonhos dos nossos pais e avós.

Vê-lo agora condenado, em definitivo e com possibilidades claras de ser preso, me traz uma não desejada sensação de derrota. Já sei o que você vai dizer: nossa democracia está funcionando e a prova disso é justamente o próprio julgamento e a justiça sendo feita. E você leitor tem razão: mas isso não diminui nossa vergonha. Um ex-presidente da República foi condenado.

O que gostaria de expressar aqui e não sei se consigo fazê-lo da melhor maneira é a sensação de que demos errado como nação. Pesquisa feita anos atrás indicava que o brasileiro, a despeito de todos os seus problemas nacionais, ainda se mostrava como um dos cidadãos mais felizes do mundo. Mas quanto dessa felicidade pode de fato ser verdadeira quando tantos e tantos de nós ainda não tem o mínimo necessário para viver?

Não seria talvez um descaso com relação às nossas próprias mazelas? Ou ainda, um individualismo exacerbado que nos impede de ter uma visão clara da nossa indignidade social? Nem sei se devo apelar para a máxima de que futebol e carnaval nos basta. Mas ainda temos gente nossa passando fome. Abaixo da linha da pobreza.

No auge de nosso crescimento, com um Cristo Redentor decolando como um foguete na capa da News Week, continuávamos, ainda como hoje, com números desastrosos nos índices de saneamento básico, dados educacionais de fazer vergonha, gente morrendo nas filas de hospitais vítimas de doenças já erradicadas em muitos lugares do mundo, sem falar de uma violência urbana em descontrole. Poucos anos depois essa mesma revista de fama mundial colocava a imagem de nosso Cristo caindo. Se houvesse uma capa para expressar o momento atual, nosso Cristo estaria aos pedaços e o pouco que lhe sobrasse ainda seria saqueado.

A condenação do ex-presidente Lula coroa nosso insucesso ao mesmo tempo em que expõe nossa incompetência e nossa culpa. Embebecidos pela economia em ascensão, vivemos como se não houvesse amanhã, e o nosso amanhã chegou com ares de passado, com a visão do mofo da corrupção, com o cheiro podre dos esgotos a céu aberto e as doenças medievais que os acompanham, com a brutalidade dos relacionamentos, com o analfabetismo das nossas crianças, com a descrença e desesperança nas instituições. Nosso Cristo morreu e fica a pergunta: haverá um domingo de Páscoa? Não pode haver evolução de um país sem que seu povo evolua junto.

Ao fim deste ano teremos o início de um outro ciclo. Um novo período de crescimento econômico e uma nova chance de elegermos uma classe politica distinta. Espero, pela graça de Deus, que tenhamos apredido lições, que sejamos um pouco mais sábios, aproveitemos a oportunidade e que o nosso Cristo renasça com a construção do bem comum e da justiça. Paz e Bem.

Coronel Jean

@CoronelJean190

Coronel da PMDF, comandou o Batalhão Rio Branco, responsável pela segurança das embaixadas, o Batalhão de Santa Maria e a Academia de Policia Militar. Também esteve na Missão de Paz das Nações Unidas no Kosovo, antiga Iugoslávia. Nos últimos anos na ativa, chefiou o Departamento de Pessoal da polícia e ainda o Departamento de logística. Foi Administrador Regional da cidade satélite de São Sebastiao. Atualmente está na Reserva Remunerada e é Consultor em Segurança.

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