“Ao nascer, Claudinho, como é apelidado carinhosamente pelos amigos, ouviu dos médicos que teria 24 horas de vida, ele nasceu com as pernas atrofiadas, os braços colados no peitoral e a cabeça virada para trás, 180 graus, sustentada pelas costas” (fonte: oglobo.globo.com). Claudio Vieira reside em Monte Santo, localizado no sertão da Bahia. Claudinho é portador de uma doença conhecida como Artrogripose Múltipla Congênita (AMC).
A condição física de Claudinho introduziu o brasileiro em um estudo científico da Dartmouth College, instituição universitária norte-americana. Segundo Brad Duchaine, condutor principal da pesquisa, ao ver um rosto familiar na vertical, você o reconhecerá imediatamente. Mas se você viu o mesmo rosto de cabeça para baixo, é muito mais difícil identificá-lo. Os cientistas utilizam o ponto de vista alterado de Cláudio Vieira em relação aos rostos das pessoas para tentar compreender a forma como ele é capaz de detectá-los e combiná-los.
A matéria jornalística sobre a participação de Claudinho nas pesquisas da Dartmouth College inclui um breve trecho de apenas duas linhas que convida à reflexão profunda sobre a vida. Nessa passagem, Cláudio Vieira “… afirma que as limitações físicas nunca o impediram de fazer as coisas que ele quis”.
Durante nossa breve existência terrena, frequentemente enfrentamos momentos de tristeza, desesperança, desânimo e até quadros mais graves de ansiedade e depressão. Invariavelmente, nossas dificuldades são absurdamente menores do que aquelas experimentadas por Claudinho. É possível imaginar, mesmo de forma tênue, as enormes agruras vivenciadas por Claudio Vieira a cada instante de sua passagem por este mundo.
Existem razões para que Claudinho seja fisicamente assim. Nada de significativo ou marcante na vida é um mero acaso. Não saber, por enquanto, nessa encarnação, as motivações de certas condições e certos convívios não significa que tudo é governado por uma estranha, perversa e aleatória loteria cósmica. Chico Xavier, em uma de suas falas mais felizes, destacou que “já vivemos muitas vezes, estamos com as pessoas certas [e nas circunstâncias certas, digo eu] para ajustarmos os nossos corações e resolvermos os nossos problemas. Na reencarnação ninguém erra de endereço”.
Claudinho enfrenta uma condição de vida inegavelmente muito dura, repleta de enormes dificuldades físicas e emocionais. Mas a essência do seu equilíbrio espiritual não foi afetada. Claudinho experimenta adversidades que gerariam, para quase todas as pessoas, um estado de contínua e acentuada revolta com a vida e imensa tristeza.
Entretanto, parece que Claudinho foi tomado pela forte perseverança dos estoicos. Segundo as máximas dessa importantíssima corrente filosófica surgida na Antiguidade, somos escravos quando desejamos algo que somente outra pessoa ou outro contexto de vida pode nos dar. Assim, a felicidade fica na inexorável dependência de fatores externos. Como, em regra, você não domina quase nada do que lhe afeta, só resta tomar as rédeas daquilo que está sob seu controle: a forma de pensar e reagir as provocações do mundo (as positivas e as negativas).
Uma passagem das instigantes “Cartas de Cristo” merece ser lembrada. Teria afirmado a figura considerada como guia ou modelo mais avançado para o comportamento humano: “uma entidade infeliz definha e morre. Uma entidade feliz floresce. Isso é um fato básico da existência. Em última análise, cada entidade viva se alimenta de seu próprio estado interior de contentamento ou frustração”.
A vida de ninguém é um “mar de rosas” ou um contínuo “céu de brigadeiro”. Vivemos em um mundo predominantemente marcado por de provações e expiações. As adversidades, sejam elas grandes ou pequenas, são inevitáveis. Os momentos de dor são incontornáveis.
Mas a vida exige de nós compreensão e sabedoria. Precisamos aprender, com os momentos bons e ruins, que participamos de uma jornada infinita de evolução moral e intelectual em direção à perfeição espiritual (a ser alcançada lá na frente). Que tenhamos a necessária sabedoria para entender e aproveitar as bençãos e as lições desta existência terrena (e das outras).
Devemos prestar mais atenção, muito mais atenção, em mestres da vida, como Claudinho …
Aldemario Araujo Castro
Advogado
Mestre em Direito
Procurador da Fazenda Nacional
Brasília, 30 de setembro de 2023