“Coiote” mostra como entrar ilegal nos EUA e as altas propinas

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Um “Coiote”, nome que denomina quem conduz imigrantes para dentro dos Estados Unidos, que há 20 anos presta o serviço a mineiros de Governador Valadares, relata como ainda trabalha, mesmo com o recrudescimento da segurança na fronteira dos EUA. Ela afirma que o fluxo migratório para os EUA não vai parar nunca por que gira muito dinheiro.

Videos de pessoas que, claro, chegaram vivos aos Estados Unidos por intermédio desse coiote foram enviados à Folha de São Paulo. Em reportagem publicada neste domingo (12), imigrantes brasileiros, mesmo com os apelos do presidente Donald Trump, correm o risco de serem presos pela polícia da fronteira  norte-americana com o México.

A Patrulha da Fronteira dos EUA informa que número de famílias de imigrantes detidas na fronteira com o país caiu de 9.434 para 9.258, a diferença de 2% é pequena, mas o quantitativo continua elevado.

O coiote cobra US$ 20 mil, ou R$ 77 mil por imigrante para fazer a travessia da fronteira para os que se comportam e não tem dificuldades de compreensão das instruções.

Conforme informações do coiote, no caso de o contratante dar trabalho no processo de atravessar a fronteira, “aí cobro US$ 22 mil”. E o dinheiro é liberado por um parente no Brasil, sendo realizado o pagamento quando o brasileiro já está dentro do EUA.

O custo alto da operação, através de rio, mata, túnel ou até o muro da divisa é alto por conta da propina paga a agentes localizados em diversos pontos ao longo da fronteira, de acordo com o coiote.

“Sou um lambari”

De acordo como o coiote, ele encaminha 20 brasileiros por mês. No entanto, há 80 outros que fazem o mesmo serviço, que chegam a transpor a fronteira de até 50 migrantes no mesmo período. “Sou um lambari no meio de tubarões. Eu trabalho pouco, porque minha família implica. Escondo mais da família do que da imigração”, afirmou. Ele foi preso três vezes no Brasil e deportado oito vezes do EUA por atuar no nesse ramo de negócio.

O coiote conta que enquanto houve a separação de famílias pela política de Trump, com os pais mandados a prisões federais e os filhos deixados em abrigos para menores, três mães envidados por Marcelo foram presas em lugares diferentes dos filhos. Uma delas teve que ficar mais de um mês longe da filha de cinco anos, “mas todos já se reuniram e estão lá, trabalhando”.

Pelo menos 3 mil menores foram separados dos responsáveis. Apesar de um juiz federal determinar que as famílias sejam reunidas, mais de 500 crianças ainda não foram devolvidas, mas os 52 menores brasileiros separados foram entregues a seus pais.

Segundo o coiote, as famílias que chegam aos EUA, com o fim da tolerância zero imposta por Trump, usam a estratégia de se entregar à polícia da fronteira e pedem asilo. No caso, o valor da travessia diminui para a metade e “pais com crianças  tem mais chance de entrar. É uma viagem muito mais fácial”.

Altas propinas

Depois de chegar à Cidade do México, que é a primeira fase da travessia da fronteira, são pagos US$ 1.000 (R$3.860) por passageiro para permitir o ingresso. “Temos um contato no aeroporto em todos os turnos. Mandamos fotos de cada passageiro nosso, dizemos como vão vestidos. Se não fizermos isso, eles voltam”, diz o coiote.

Os brasileiros chegam a uma cidade mexicana na fronteira, de ônibus ou em voos domésticos. De avião é preciso pagar popina a um policial no aeroporto, o valor é U$ 100, ou seja R$ 386.

Se a travessia for por meio meio da mata, o coiote cobra US$ 5 mil (19,3 mil) e tem que se caminhar 10 km pela mata. Pela mesma quantia, o percurso pode ser feito por meio de boias em um rio que atravessa a divisa com os EUA.

Se for pelo muro da fronteira há o instante certo para transpor a barreira. “Tem uma pessoa que avisa quando é a troca de turno dos guardas. Aí , eles usam uma escada de corda, que vai de um lado a outro, atravessam e vão embora. Dá tempo, mas tem que ser uma pessoa que aguenta correr”, diz o coiote.

Dentro dos EUA ainda é preciso passar por um posto de imigração. Nesse caso, os migrantes são colocados em carros e caminhões com fundos falsos, mas muitos são flagrados, conforme fotos divulgadas pela polícia migratória. Também é usado um carro dos Correios. O coiote conta que “a pessoa vai embaixo dos malotes, quietinha. Atravessou o pedágio está livre”.

Ao menos 10% dos brasileiros que contratam esse coiote são presos pela polícia, segundo ele. E há uma rede de advogados para tentar soltar a pessoa sob fiança enquanto corre o processo.

Ele informou que entrou 35 vezes nos EUA sem ser pego e morou 12 anos na terra do Tio Sam. E nas vezes em que foi preso, pensou em desistir de ser coiote, mas não conseguiu sair da atividade.

Canto da sereia

O tempo passa e o argumento continua o mesmo. “Aqui (no Brasil), não tem emprego, não tem empresa, não tem fábrica, não tem opção. Já pensou trabalhar por um salário-mínimo quando lá você ganha em dólar? É o único jeito de a pessoa dar uma vida melhora para a família que fica. Ela penhora casa, o caminhão, qualquer coisa pra pagar a viagem. Eu estou ganhando o meu, mas estou ajudando a pessoa a ganhar o dela também“, justifica o coiote.

Filho de um ferroviário, foi para os EUA aos 17 anos pela primeira vez. Rapidamente adquiriu bens e incentivou vizinhos onde morava a irem para lá. Assim ele iniciou a atividade ilegal.

O montante em dinheiro que o negócio gira, apesar do endurecimento ordenado por Trump para coibir a invasão no país, não vai impedir que o fluxo migratório ilegal tenha continuidade. “Não vai parar nunca”, arremata o coiote.

Mais lidas

Campanha une saúde bucal e economia de água
Mais de 6 mil vagas no Senac-DF para curso...
Refeições veganas nas escolas públicas vir...
...