Chico Buarque comemora 80 anos

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Chico Buarque comemora 80 anos em Paris: Impacto de uma carreira multifacetada

 

 

Por Agência Brasil

 

Com um legado que se estende por 58 anos, abrangendo 537 canções, 1.302 gravações, 50 discos, quatro peças de teatro, uma novela, um livro de contos e seis romances, Chico Buarque de Hollanda comemora seu 80º aniversário junto à família, em Paris. O próximo romance, Bambino a Roma, será lançado em agosto, somando-se à sua vasta e diversificada obra.

 

Chico Buarque é tema de mais de uma dezena de livros, incluindo três obras de Adélia Bezerra de Meneses, professora de teoria literária na Unicamp e na USP. O mais recente, Chico, Buarque ou a Poesia Resistente – Ensaios sobre as Letras de Canções Recentes (Editora Ateliê), está em fase final de produção. Meneses, com um histórico de militância estudantil e colaboração com Paulo Freire, revela em entrevista exclusiva à Agência Brasil a profundidade poética e social da obra de Chico.

 

AB: Professora, a senhora escreveu três livros sobre as composições de Chico Buarque. Por que a canção popular merece estudos de literatura?

Foto: Adélia Bezerra de Meneses – Divulgação

Adélia Bezerra de Meneses: Guardando como uma preciosidade um cartão do [Carlos] Drummond [de Andrade] chamando a obra de Chico de “poesia”, afirmo que a canção popular é um veículo extraordinário para a poesia. Mesmo que poucos leiam livros de poemas hoje em dia, muitos cantam canções e decoram suas letras. Desde a antiguidade, a poesia era acompanhada por música. No caso de Chico, suas canções suportam a abordagem poética sem desmerecer a análise musical, focando mais na letra que na música.

 

AB: Em Desenho Mágico, a senhora estabelece um paralelo entre a história do Brasil e a obra dele. Que história do Brasil Chico compôs?

Meneses: Aponto que Chico assume a “poesia resistência” com lirismo nostálgico, utopia e crítica. Resistindo ao presente opressor, retorna ao passado, seja na infância ou na sociedade pré-industrial, como em João e Maria e A Banda. Em sua vertente crítica, recusa o presente adverso com críticas sociais diretas ou irônicas, como em Construção e Bye Bye, Brasil. As canções de protesto, como Apesar de Você, surgem na interseção entre crítica e utopia. No entanto, a utopia se torna escassa em sua produção recente, refletindo o contexto global atual.

AB: A senhora escreveu sobre figuras femininas nas canções de Chico. Que mulheres estão presentes?

 

Meneses: Chico privilegia a mulher como protagonista em suas canções, revelando diferentes facetas do feminino em contextos de relações afetivas. Pedaço de Mim e Olhos nos Olhos mostram mulheres em momentos de separação afetiva, enquanto Mar e Lua retrata uma relação homoerótica feminina com sensibilidade. Falar sobre a lírica amorosa de Chico é quase o mesmo que falar sobre suas mulheres.

AB: Outros compositores também escrevem com o eu lírico feminino. Por que Chico é o mais lembrado?

 

Meneses: Chico sobressai no feminino, com uma competência única. Isso se deve à sua qualidade de poeta, que lhe permite um contato mais profundo com os afetos e o inconsciente. Sua poesia expressa uma perspectiva feminina com uma autenticidade que frequentemente me faz questionar: “Como ele sabe?”

AB: Chico Buarque também escreveu peças de teatro, uma novela, contos e romances. Como compara essas obras com suas canções?

 

Meneses: Chico é um artista comprometido com a palavra em suas várias modalidades. É um romancista, dramaturgo e contista de impacto, mas no Brasil é reconhecido sobretudo como compositor e poeta popular. A canção popular tem uma penetração sensorial mais profunda que a literatura, como se a palavra cantada fosse uma forma mais sensual de falar nossa língua. Suas canções, como Pedaço de Mim, Cala a Boca, Bárbara, e Roda Viva, muitas vezes estruturam suas peças teatrais, descolando-se da ação dramática para ganhar vida própria.

AB: O professor Antonio Candido orientou sua tese que resultou em Desenho Mágico. Como foi sua relação com Chico?

 

Meneses: O professor Candido me apresentou ao professor Sérgio e à dona Maria Amélia, pais de Chico, que leram meu trabalho e providenciaram para que chegasse a Chico. Nosso contato foi facilitado por essa relação e ele se mostrou acessível, resolvendo problemas de texto antes da publicação. Ele me ligou para parabenizar quando o livro ganhou o Prêmio Jabuti, uma ligação que brincávamos ser da “tese”.

AB: Qual a canção de Chico Buarque que a senhora mais gosta?

 

Meneses: Escolher uma única canção é impossível. Em 2017, citei quatro favoritas em uma enquete: Cala a Boca, Bárbara; O Que Será; Todo Sentimento; e Construção. Recentemente, acrescentei As Caravanas. Chico Buarque é um artista cujas novas canções continuamente enriquecem sua já impressionante constelação de obras.

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