Thaís Galdino e Wesley de Lima começaram a vender bolos para reforçar orçamento após adotarem três crianças. Quando produção do dia sobra, eles fazem doação
Por Carolina Cruz
Um ato de solidariedade em uma loja em Ceilândia, no Distrito Federal, ganhou repercussão na internet nesta semana. Um recado colado a uma mesa cheia de bolos diz: “Se você não puder comprar o seu bolo, pegue um aqui”.
O gesto é rotina do casal Thaís Letícia Galdino, de 24 anos, e Wesley de Lima Souza, de 39 anos, que cuidam da loja. Eles distribuem, gratuitamente, bolos fabricados na manhã anterior, dentro do prazo de consumo, para pessoas que não podem adquirir.
“Quem compra o bolo quer ele fresquinho, feito no dia. Então, os bolos que são do dia anterior, a gente doa. Eles estão em perfeito estado, com validade de até cinco dias”, conta Thaís.
A iniciativa começou no primeiro dia de vendas, em 2019. Naquele ano, ela e o companheiro decidiram comercializar bolos para reforçar o orçamento da família, após adotarem três crianças em situação de vulnerabilidade.
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Thaís Letícia Galdino, de 24 anos, e Wesley de Lima Souza, de 39 anos — Foto: Carolina Cruz/G1
O trabalho começou em uma barraquinha às margens da BR-070, também em Ceilândia, depois de uma madrugada inteira preparando os produtos em casa.
“Dos 14 bolos que eu fiz, nós vendemos apenas um, para um parente que quis ajudar, queria incentivar a gente a não desistir. Nós doamos o restante para moradores de rua”, diz Thaís.
Após meses de trabalho, o casal conseguiu fazer clientes na beira da rodovia, juntou as economias e abriu uma loja em Águas Lindas (GO), no Entorno do DF. Mesmo com a mudança, a doação dos produtos do dia anterior continuou sendo um hábito. “Tinha dia que tinha gente lá esperando a loja abrir”, conta Thaís.
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Tenda onde casal iniciou venda de bolos no DF — Foto: Arquivo pessoal
Empreendedores na pandemia
Aos poucos, o casal conseguiu ampliar o negócio, mesmo durante pandemia da Covid-19. Implementaram o sistema de delivery e abriram uma nova loja, em Ceilândia, neste ano.
Ao deixar o recado da doação na nova unidade, a família teve uma surpresa. “A gente já fazia isso antes, mas nunca teve tanta repercussão como teve aqui em Ceilândia”, conta Wesley.
Eles compartilharam a foto em um grupo de moradores do Setor O nas redes sociais, e o post ganhou força ao ser compartilhado por pessoas que admiraram a iniciativa.
O sucesso vem acompanhado de gratidão. Wesley conta que dedica aos filhos todo o empreendimento dos bolos. “Afinal, foi por eles que tudo começou”, afirma.
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Bolo vendido em loja de casal que oferece produtos a quem não pode pagar no DF — Foto: Carolina Cruz/G1
Família
Os três filhos adotivos – hoje com 2, 15 e 14 anos – eram sobrinhos de Wesley. Eles foram acolhidos pelo casal após o Conselho Tutelar identificar que a mãe não tinha condições de mantê-los. Quando assumiu a guarda, o casal já tinha outros dois filhos, de 5 e 7 anos.
“A Thaís falava pra mim: ‘Onde come um, come mais um. A gente vai conseguir”‘, afirma Wesley.
A família mora em Águas Lindas. Hoje, com as duas lojas mantendo a casa, e ainda ajudando a alimentar outras pessoas que precisam, Thaís acredita que sua história é um milagre. “Foi coisa de Deus, sem dúvida”, afirma. (G1)