Por Miguel Lucena
Às 12h30, bem em frente ao Centro de Ensino Fundamental da 113 Sul, um carro cortou o silêncio da tarde: buzina nervosa, pneus cantando e um rastro de desespero no asfalto quente. O motorista, possuído por uma urgência invisível, costurava entre vans escolares como se fugisse da polícia — ou de algo ainda mais incontrolável. Entrou direto na garagem do prédio ao lado, quase arrancando a cancela com os pneus já chorando.
Do outro lado da rua, um vendedor de picolé, já calejado de cenas urbanas, soltou a sentença: “Isso aí não é fome, não, é caganeira.” Assenti com a cabeça e complementei: “Caganeira pé ligeiro. Mas não adianta correr, não. A ansiedade vai derrubar as calças dele assim que a porta do elevador se abrir.”
Há urgências que nem o Uber entrega. E essa aí, meus amigos, é daquelas que só se resolve no íntimo — do vaso sanitário. Se der tempo.