Brasil mantém altos índices de analfabetismo funcional e falha no preparo digital

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Estudo mostra estagnação no letramento funcional e alerta para exclusão digital

 

Por Simone Salles

Apesar dos avanços tecnológicos e do uso crescente da internet no cotidiano, o Brasil ainda enfrenta sérios obstáculos relacionados ao alfabetismo — tanto no mundo analógico quanto no digital.  Segundo o último Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), aproximadamente três em cada dez brasileiros com idades entre 15 e 64 anos enfrentam dificuldades para compreender pequenas frases, identificar números de telefone ou preços. Ou seja, 29% da população é analfabeta funcional.

O estudo também revelou um aumento preocupante entre os jovens. Em 2018, 14% dos brasileiros de 15 a 29 anos eram considerados analfabetos funcionais. Em 2024, esse índice subiu para 16%, sinalizando um leve, mas significativo retrocesso – a persistência de um problema que afeta a inclusão social e o desenvolvimento do país.

Os níveis de alfabetismo são definidos com base no desempenho em testes que simulam situações do dia a dia. Abordam tanto o letramento (habilidade de compreender e interpretar textos) quanto o numeramento (capacidade de lidar com informações numéricas). A novidade da edição de 2024 foi a introdução de tarefas realizadas em celulares, o que permitiu medir de forma inédita como essas habilidades se traduzem no ambiente digital.

Essa nova abordagem do Inaf mostra que o alfabetismo no Brasil precisa ser compreendido de forma mais ampla, incorporando as competências digitais. Segundo o estudo, mais da metade dos brasileiros considerados alfabetizados apresentaram desempenho baixo ou médio em atividades digitais. Muitas pessoas têm dificuldade para realizar ações cotidianas online, como comprar um par de tênis por meio de um anúncio em redes sociais.

 Os resultados indicam que, embora aqueles com maior nível de alfabetismo tradicional tenham mais facilidade no mundo virtual, há surpresas. Por exemplo, 40% dos proficientes na leitura e escrita apresentaram dificuldades em tarefas digitais, enquanto 5% dos analfabetos funcionais conseguiram realizar de dois terços a todas as tarefas propostas. A idade se mostrou um fator determinante: os jovens possuem maior habilidade digital do que os mais velhos, independente do nível de letramento.

A situação é mais crítica entre os analfabetos funcionais: 97% deles demonstraram capacidade muito limitada para realizar tarefas simples na web. Os resultados escancaram a desigualdade no acesso às habilidades digitais e evidenciam como a exclusão digital compromete a plena inserção dos indivíduos em uma sociedade cada vez mais tecnológica.

As tarefas aplicadas na pesquisa incluíam: realizar uma compra online completa, participar de uma conversa em aplicativo de mensagens e acessar um serviço de streaming, e preencher um formulário digital para inscrever um colega em um evento — incluindo criação de senha e envio de documentos.

Entre os jovens de 20 a 29 anos, 38% apresentaram alto desempenho nas tarefas digitais. Mas esse índice cai com o aumento da idade: 17% entre os brasileiros de 40 a 49 anos, e apenas 6% entre os de 50 a 64 anos. Embora idade e escolaridade influenciem as habilidades digitais, elas não garantem domínio nesse campo. 

Apesar de quase 90% da população brasileira usar mídias digitais, muitos ainda enfrentam barreiras para navegar com autonomia. O Inaf 2024 também oferece pistas importantes sobre como o excesso de informações e possibilidades no ambiente digital pode tanto ampliar quanto restringir as oportunidades de participação plena dos cidadãos.

Agora em 2025, ficou clara a necessidade de incorporar o letramento digital às políticas públicas de educação e inclusão. É preciso ir além do acesso à internet e aos dispositivos e garantir que os brasileiros desenvolvam competências para interpretar, avaliar e produzir informações no mundo digital. Assim, podem exercer uma cidadania ativa em uma sociedade cada vez mais movida pela tecnologia.

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