Brasil fora do SWIFT o caos econômico sem precedentes

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Por Carlos Arouck

A hipótese de exclusão do Brasil do sistema SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), principal plataforma global para transações financeiras internacionais, teria consequências econômicas e políticas devastadoras. Em um mundo interconectado, ser desligado dessa rede equivale a romper com os fluxos vitais que sustentam o comércio, os investimentos e a estabilidade monetária.

O SWIFT é a infraestrutura que permite, em tempo real, pagamentos e recebimentos no comércio exterior. Sem ele, empresas brasileiras enfrentariam obstáculos críticos para importar combustíveis, fertilizantes, peças industriais e até alimentos básicos. O impacto seria imediato: interrupção de cadeias produtivas, escassez e forte pressão inflacionária.

Além disso, a exclusão comprometeria a entrada de dólares no país. Com menos divisas estrangeiras disponíveis, o real sofreria uma desvalorização abrupta, encarecendo ainda mais as importações. A inflação, já tensionada por choques de oferta, poderia ultrapassar os dois dígitos num cenário comparável às crises monetárias das décadas de 1980 e 1990.

As exportações brasileiras concentradas em commodities como soja, minério de ferro e carnes respondem por cerca de 20% do PIB. A interrupção desses fluxos afetaria diretamente o saldo comercial e o nível de atividade econômica. Em um cenário extremo, o PIB poderia encolher entre 5% e 10% em um único ano.

O ambiente de insegurança afastaria tanto o capital estrangeiro quanto o nacional. A Formação Bruta de Capital Fixo indicador-chave de investimento produtivo sofreria queda acentuada. Sem novos investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação, o país caminharia para uma recessão técnica prolongada.

A dívida externa brasileira, majoritariamente denominada em dólares, se tornaria ainda mais onerosa. Pagamentos de juros e amortizações seriam pressionados pela disparada do câmbio, elevando o risco de calote técnico. A percepção de risco país subiria, provocando fuga de capitais e agravando a espiral recessiva.

O Banco Central, na tentativa de conter a inflação e preservar alguma confiança do mercado, teria de elevar agressivamente a taxa Selic. Mas juros mais altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo e freiam a atividade aprofundando a recessão.

Com desemprego em alta e perda de poder de compra, a pressão social aumentaria. Protestos, greves e movimentos de rua se intensificariam, exigindo respostas rápidas e eficazes. Em meio à turbulência, o governo poderia ceder a medidas populistas como subsídios emergenciais e congelamentos artificiais de preços sem base fiscal, agravando ainda mais a dívida pública e a desorganização econômica.

É importante lembrar: a exclusão do SWIFT não é voluntária. Normalmente, ela é consequência de sanções internacionais. A Rússia foi retirada do sistema em 2022, após a invasão da Ucrânia, como parte de um pacote de medidas ocidentais para pressionar Moscou economicamente. O impacto foi profundo: o rublo despencou, grandes bancos ficaram isolados e o país acelerou uma virada forçada rumo à autossuficiência financeira.

Outros países sancionados também enfrentaram impactos brutais. O Irã, por exemplo, foi excluído do SWIFT em 2012 e novamente em 2018. Resultado: colapso no comércio exterior, desvalorização da moeda e retração econômica severa. A Coreia do Norte, praticamente fora do sistema bancário global, vive em isolamento extremo, sustentando-se via redes paralelas, comércio informal e apoio restrito da China. A Venezuela, alvo de sanções financeiras, sofre com escassez crônica, hiperinflação e estagnação, um retrato do colapso institucional aliado ao isolamento externo.

Se o Brasil fosse alvo de medidas similares, relações comerciais e financeiras com EUA, União Europeia e outros parceiros estratégicos seriam cortadas ou restringidas. O país ficaria isolado de acordos multilaterais, linhas de crédito internacionais e fóruns econômicos relevantes. Em vez de diversificar sua diplomacia, estaria se encurralando geopoliticamente.

Técnica e teoricamente, o Brasil poderia tentar se conectar a sistemas alternativos, como o SPFS (da Rússia) ou o CIPS (da China). No entanto, essas plataformas têm alcance restrito e não oferecem a mesma operabilidade do SWIFT, que conecta mais de 11 mil instituições financeiras em mais de 200 países.

Afinal das contas, a integração a esses sistemas exigiria tempo, acordos bilaterais complexos e adaptação tecnológica um processo difícil de executar em meio a uma crise.

O mais preocupante é que o governo brasileiro, em vez de se antecipar a esse risco geopolítico, tratou o tema com descaso e improviso político. Perdeu-se tempo valioso que poderia ter sido usado para fortalecer reservas cambiais, diversificar parcerias comerciais e blindar a economia contra choques externos.

Agora, se a exclusão do SWIFT se concretizar, o país entrará em território desconhecido sem precedentes em sua história recente.

A exclusão do sistema SWIFT não é apenas um problema técnico ou diplomático. É um gatilho para uma crise multifacetada: cambial, fiscal, social e institucional. O Brasil enfrentaria inflação elevada, recessão, fuga de capitais e perda de relevância global.

Como sempre, os mais afetados seriam os mais pobres. Famílias veriam seu poder de compra evaporar. A desigualdade social aumentaria, revertendo décadas de avanços conquistados a duras penas. O Brasil não pode brincar com sua integração ao sistema financeiro global. O preço desse erro geopolítico pode ser alto demais, talvez irreversível.

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