Braga Netto e Cid se encaram no STF por plano golpista

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Foto: Palácio Planalto - PR

 

 

Frente a frente no STF: acareação entre Braga Netto e Mauro Cid expõe fissuras no núcleo duro do bolsonarismo

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de negar o pedido da defesa de Walter Braga Netto para adiar a acareação com o tenente-coronel Mauro Cid marca um novo e delicado capítulo nas investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O encontro entre os dois militares, marcado para a próxima terça-feira (24), coloca no centro do debate judicial e político as contradições entre os relatos de dois dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Réus por cinco crimes, assim como o próprio Bolsonaro, Braga Netto e Cid podem pegar até 43 anos de prisão, caso condenados. A gravidade das acusações não é trivial: trata-se de um suposto plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio da ruptura institucional. O episódio emblemático da tentativa golpista, segundo os investigadores, culminou na invasão das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

A acareação — instrumento jurídico previsto no Código de Processo Penal para esclarecer divergências entre versões de depoentes — promete ser tensa. O pedido partiu da própria defesa de Braga Netto, preso preventivamente desde dezembro de 2024. A intenção, segundo seus advogados, seria esclarecer sua suposta participação na reunião conhecida como “Punhal Verde e Amarelo”, em novembro de 2022, em que — segundo Cid — se discutiu a execução de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do próprio Moraes. Braga Netto confirmou o encontro, mas negou qualquer teor golpista.

Ainda mais grave é a acusação de que o ex-ministro teria entregue pessoalmente a Cid dinheiro em uma sacola de vinho para financiar os acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército. Esses acampamentos, segundo a Polícia Federal, teriam sido parte central da mobilização que culminou nos atos violentos de janeiro de 2023.

Cid, delator premiado e peça-chave para a deflagração das investigações, já deu elementos concretos que embasaram mandados de busca e apreensão e a oitiva de outros envolvidos. Sua versão dos fatos diverge frontalmente da de Braga Netto — que, mesmo diante de provas e relatos consistentes, nega envolvimento direto nos esquemas.

A insistência da defesa de Braga Netto para adiar o confronto soa como estratégia para ganhar tempo, talvez torcendo por algum esvaziamento político do processo. Moraes, no entanto, foi firme em sua decisão: a acareação será presencial, no Supremo Tribunal Federal, sem transmissão ao vivo — um silêncio midiático que contrasta com a gravidade dos fatos em discussão.

O episódio lança luz sobre uma das principais fraturas internas do bolsonarismo: até que ponto os protagonistas da tentativa de golpe estão dispostos a proteger uns aos outros? A reunião entre Braga Netto e Cid será, mais que uma formalidade processual, um divisor de águas sobre a solidez — ou a implosão — do pacto de lealdade entre os militares aliados do ex-presidente.

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