Bolsonaro X Maia: presidente quer combate, mas recebe flores com espinhos

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O presidente Jair Bolsonaro apontou a metralhadora giratória na direção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nesta noite de quinta-feira. Farpas são pouco para traduzir o nível de críticas direcionadas ao parlamentar.

A relação entre ambos está mais ácida que em outras oportunidades. Bolsonaro critica Maia porque conduz votações que aumentarão exponencialmente a dívida da União. Ele reclama ainda que Maia coloca os governadores contra o presidente. A PEC da Guerra é um dos pomos da discórdia entre eles.

 

Entre outras críticas, o chefe do Executivo disparou que o Maia não quer amenizar os problemas econômicos, não quer combater o vírus, que ele quer deixar que a economia vá para o espaço, quer atacar o governo federal, enfiando “a faca” no governo federal, no sentido de promover um rombo para União com repasses de dinheiro para os governadores com a Projeto de Emenda à Constituição (PEC) de Guerra. E deixando para a União pagar.

Mas Rodrigo Maia não comprou a briga e preferiu dizer que a Câmara é local de diálogo e que a preocupação é com as vidas que devem ser preservadas se referindo à expansão do novo coronvírus. Segundo ele, enquanto Bolsonaro o ataca ele diz que a Câmara lhe mandará flores.

Em entrevista à CNN Brasil na noite desta quinta-feira, Bolsonaro não se conteve. “Eu não vou trair minha consciência e deixar de não falar a verdade. Eu lamento a posição do Rodrigo Maia nessa questão. Eu lamento que resolveu ele assumir o papel do Executivo. Com ataques bastante contundentes a nossa posição. Ele tem que entender que ele é o chefe do Legislativo. Eu respeito ele, ele tem que me respeitar como chefe do Executivo”, considerou o presidente.

Bolsonaro fez questão de identificar que se trata de mau comportamento do deputado do Democratas. “Lamentavelmente, não o Congresso ou a Câmara dos Deputados, o senhor Rodrigo Maia é a pessoa que resolveu não conversar com mais ninguém. E uma questão de números, números ele, apesar de ele não ser economista, tem bom entendimento, até pela educação que o pai dele que foi um economista tem. Não pode agir dessa maneira”, reclamou.

“Pegar e jogar todos os governadores contra mim. Fazendo uma pressão agora para o Senado aprove essa proposta (PEC de Guerra) sem contrapartida”, acrescentou o presidente. “A gente não sabe quanto pode chegar essa despesa, vai ultrapassar a R$ 100 bilhões. A gente não aguenta isso.”

O presidente indagou qual o objetivo do senhor Rodrigo Maia? “É resolver o problema ou atacar o presidente da República. Eu lamento, Rodrigo Maia, já conversei várias vezes com ele, a postura que ele vem tomando”, respondeu Bolsonaro.

O Chefe do Executivo afirmou sentir que Maia não quer amenizar problemas, combater o vírus, não deixar que economia vá para o espaço. “Ele quer é atacar o governo federal Enfiando a faca no governo federal no sentido figurativo (sic) para resolver os problemas de outro lado”, frisou ele, destacando que sabia que o presidente da Câmara iria “reagir depois”.

Galinha dos ovos de ouro

“Agora, se isso tudo for aprovado e outras coisas virão, pela forma como ele está se comportando vão matar a galinha dos ovos de ouro, que é Brasil. Parece que a intenção é me tirar do governo”, disse Bolsonaro. E emendou, “eu quero crer que eu esteja equivocado. Mas os números mostram isso. O ministro Paulo Guedes não tem contato mais com Rodrigo Maia. Ele é o dono da pauta”.

Na visão de Bolsonaro,  Maia “está conduzindo o Brasil para o caos”. A justificativa do presidente é que o governo federal não tem como pagar uma “dívida monstruosa que está aí, nós não temos recursos”.

“Esculhambar a economia”

“Qual a intenção? É esculhambar a economia para enfraquecer o governo para que eles possam voltar em 2022. Eu não estou pensando em política. O Brasil indo bem, todo mundo vai bem. Ele vai ser reeleito com toda a certeza, quem sabe voltar a ser presidente da Câmara. Não é uma luta, aqui, agora, apelo ao Rodrigo Maia, de você contra o Brasil e sim contra mim. É uma luta nossa a favor do Brasil. Essas medidas são escandalosas sendo aprovadas”, novamente criticou.

Bolsonaro lamentou que a forma de votação por videoconferência impede um debate melhor na Câmara, com matérias sendo aprovadas de forma açodada. “De modo para atender os governadores que fecharam alguns de forma excessiva as suas economias e a conta é altíssima. É ICMS que não fi arrecadado por eles nesse fechamento da economia, como ISS para o município. Conta que agente não sabe o valor que ela tem a ver.”

Proposta de Guedes 

O presidente aina lembrou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez uma proposta, uma contrapartida, contra a proposta do Rodrigo Maia que queria sequestrar 25% dos salários de todos os servidores estaduais, municipais e federais. “A proposta do Paulo Guedes foi mais amena, no meu entender, muito mais racional. Não tem reajuste até 31 de dezembro de 2021.”

No entendimento de Bolsonaro, o parlamentar do Democratas tem ciência de que está errado em relação ao encaminhamento das votações. “No primeiro encontro com governadores, há aproximadamente um mês, eles mandaram uma carta, nós fizemos videoconferência com todos eles. Atendemos o que eles queriam e mais alguma coisa. Agora, não houve um segundo momento de negociação, pegaram um projeto, o  Plano Mansueto e resolveram. E simplesmente a parte que interessava ele aprovava, a parte que não interessava não aprovava.”

Para Bolsonaro, o país não merece o que “o senhor Rodrigo Maia está fazendo com o Brasil. Não merece a atuação dele dentro da Câmara, não é o Parlamento Brasileiro,  você me desculpa, Rodrigo Maia, péssima a sua atuação.”

A gente sabe qual é o seu diálogo

Bolsonaro foi mais agressivo ainda ao sugerir que não quer dialogar o tipo proposto por Maia, que seria não republicano. “Quando você fala em diálogo, a gente sabe qual é o seu diálogo. Esse tipo de diálogo não vai ter comigo.”

“E não estou rompendo com o Parlamento não. Muito pelo contrário. É a verdade que tem que ser dita. E nós sabemos que o Brasil estava indo muito bem. Essa questão coronavírus interessa para todos nós, a maneira de solucioná-lo. Dessa forma está aprofundando a crise, está botando uma conta no meu colo. Vai chegar a um total da casa de R$ 1 trilhão e o Brasil não dispõe disso aí”, projetou o presidente.

Bolsonaro disse, em relação ao problema do isolamento, que aconselhará a que volte paulatinamente a questão comercial no Brasil. “O povo quer trabalhar. E dá para começar a fazer essa abertura. A continuar dessa maneira, o Brasil vai embora, nós vamos transformar o Brasil em uma Venezuela aqui um país rico com gente pobre. E está pintando aparecer pela frente.”

Voltando à questão do “diálogo”, o presidente se prontificou a mantê-lo. “Caso ele queira falar comigo estou à disposição. Isso que o senhor está fazendo senhor Rodrigo Maia não se faz com o nosso Brasil. É falta de patriotismo, falta de um coroação verde e amarelo, de humanismo.”

Bolsonaro continuou: “Com esse país maravilhoso chamado Brasil que estava dando certo. E dá para a gente superar essa questão. Essa forma de travar quase que conspirar por aí contra o governo federal, não é essa maneira de se fazer política no Brasil.

“A saúde e a vida em primeiro lugar, mas não podemos esquecer a questão dos empregos nos Brasil e dizer que o povo não só quer, tem que voltar a trabalhar”, reforçou o presidente.

Maia se esquivou do desafio

Ao ser procurado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não comprou a briga proposta por Bolsonaro. Primeiramente, ele manifestou solidariedade aos familiares de mais de 1.900 brasileiros que perderam as suas vidas pelo coronavírus. “É disso que devemos falar. Sobre como todos nós unidos podemos reduzir os danos às vidas dos brasileiros. Esse é o nosso objetivo.”

Segundo Maia, o presidente ataca com um velho truque da política. “Quando você tem uma notícias ruim com a demissão do ministro Mandetta, ele quer trocar o tema da pauta. O nosso tema continua sendo a saúde, que foram conduzidas pelo ministro Mandetta e estão sendo construídas pelo novo ministro.”

O parlamentar argumentou que o parlamento tem discutido temas com toda a seriedade, com toda a equipe do governo.

“Hoje mesmo, falei com o ministro Ramos, com o Braga Neto, com o secretário Esteves. Organizando um projeto que veio do Senado. E que estamos modificando com o apoio da equipe técnica do governo. Vamos votar um segundo sobre microcrédito. Acabei de receber do Esteves um texto para melhorar as condições que a Caixa Econômica possa atender o micro empresário. É disso que temos que falar.”

Maia também acrescentou que foi aprovada a PEC da Guerra para melhorar as condições de trabalho do governo, dando mais agilidade. “Aprovamos a renda mínima, que veio com R$ 200 como proposta feita pelo governo, fomos a R$ 500 e o presidente aceitou R$ 600 e nós juntos comemoramos essa grande vitória, que foi garantir uma renda melhor”, acrescentou o deputado.

O deputado federal não quer conversar sobre agressões, de tentativa de mudar a pauta. Defende que o Brasil precisa ter uma situação diferente da que passa os Estados Unidos, Espanha a França. Ele lembrou que nos EUA, o número de mortes está chegando a 2 mil pessoas por dia.

“Por isso, que defendemos recursos para estados e municípios. São nos municípios que estão as UTIs, nos estados que estão as outras UTIs e as vidas de milhões de brasileiros. É por isso que eu não vou entrar nesse debate (com Bolsonaro). Não vou entrar, não vou responder e vou continuar aqui trabalhando. Junto com os deputados, com o Senado, com os técnicos do governo e com a sociedade para que a gente possa garantir uma perda menor de vidas.”

Recomendação

A receita que Maia sugere é respaldada por um tripé, já repetido em outras ocasiões. “Devemos ter responsabilidade, sangue frio e pauta. É isso que nós queremos, independente de questões políticas. Nunca deixei de dialogar com os quadros técnicos de ninguém”, recomendou.

“Também não podemos aceitar que apenas uma visão de Brasil sobe a crise prevaleça. O que prevalece sempre é o diálogo. O presidente ficou aqui 28 anos. Ele sabe muito bem, eu espero que tenha passado aqui e aprendido isso, que é a casa do diálogo”, disparou o parlamentar.

Em relação ao comportamento da Câmara, Maia argumenta que quando houve a votação em defesa da nossa federação, deveria ter o apoio da base e do governo.

“Infelizmente, o governo transforma muitas vezes, decisões que são a favor do próprio governo federal em conflitos políticos. A Câmara não entra nisso. Eu não entro nisso. Eu espero que a gente continue conseguindo votar matérias da importância das matérias que estamos votando hoje. Mais alguns milhões de brasileiros vulneráveis que vão ter acesso à renda mínima de R$ 600.”

No tocante às ações no combate ao coronavírus, o presidente declarou que boa parte das medidas que Maia colaborou para aprovar na Câmara, essas medidas afundam e economia. Além, disso houve uma articulação política, referida sutilmente pelo presidente, de Maia com os governadores. Segundo Bolsonaro, a ação conjunta “mata a galinha dos ovos de ouro”, se referindo à economia do país. Para ele, Maia estaria colaborando para afundar a economia. E tornando mais difícil o combate ao novo coronavírus.

O presidente da Câmara, resposta, lembrou que foi aprovada a renda mínima, uma proposta do governo e foi feita juntamente com o governo federal. A chamada PEC da Guerra foi aprovada sob a liderança dos líderes da Câmara de todos os partidos, ouvindo os técnicos, com muita responsabilidade.

“A Medida Provisória do Emprego que votaremos na próxima semana, ouvimos todos os técnicos, aceitando parte do texto e modificando. No sistema democrático, ninguém é dono da verdade absoluta. Dono de uma tese de forma absoluta”, disse.

Maia também considerou que os estados e municípios sofrerão queda abrupta das receitas e precisam garantir as suas receitas nominais é porque que 90% dos IPIs que estão nos municípios são aqueles que tem a receita do ISS como a sua principal receita.

“Imagine se esses municípios perdem a condição de atender a população. O que nos queremos com projetos que aprovamos aqui, podemos acertar podemos errar, todo mundo aqui é humano, ninguém é perfeito e ninguém é dono da verdade. O que nós queremos é garantir uma estrutura para que estados e municípios, o setor privada também,  possam salvar vidas.”

Além disso, segundo Maia, o parlamento junto com o setor produtiva possa garantir os empregos e a renda dos mais vulneráveis. “Da minha parte não há nenhuma intenção de prejudicar o presidente. Anteontem eu fiquei 12 horas sentado à Mesa da Câmara para aprovar Medida Provisória 905 que não tem relação com o coronavírus, que a esquerda era contra e eu falei que era uma medida importante para gerar emprego. Uma medida do governo. A qual o governo dele irá sancionar essa matéria.”

Sem querer prejudicar e flores

O parlamentar reiterou que não há nenhuma intenção da Câmara dos Deputados de prejudicar, de enfrentar o governo, de forma nenhuma.

“O que queremos é sentar na mesa com urgência, com pautas pré-estabelecidas. Como é que nós vamos fazer com micro empresas, com grandes empresas que estão com capital de giro. A PEC da Guerra pode resolver parte disso, dando condições para que o Banco Central possa operar. A renda mínima, que terminamos de votar, ampliando para alguns setore que ficaram de fora da proposta original.”

“O presidente não vai ter de mim ataques. Ele joga pedras e parlamento vai jogar flores para o governo federal”, ressaltou Maia.

Em relação ao que Bolsonaro disse sugerindo que sabia que tipo de diálogo Maia buscava com o governo e não vai ter, sugerindo que tratariam de temas não republicanos. “É o que eu falo, é a velha tática de mudar de assunto. O povo brasileiro está preocupado, hoje, perdemos o ministro Mandetta. Foi nomeado outro ministro. Vamos dar oportunidade a ele. Mas a saída do Mandetta assusta 80% da população brasileira.”

Troca de general

O parlamentar argui que “numa guerra quando você troca o general, como é que fica o seu exército. Fica sem rumo, sem caminho. O general, o comandante, quatro estrelas, da área de saúde, foi trocado hoje. E, nós, no momento em que a população está preocupada, criar mais insegurança.

“Presidente, conte com a Câmara dos Deputados, eu dialogo com os técnicos com o maior prazer. Eu não fiz nenhuma questão nessas últimas semanas de conversar pessoalmente com o presidente. Não é comigo que ele está falando em relação a esses ataques”, disse Maia.

“O ministro Ramos quis marcar reuniões. Eu disse: ‘Ministro, precisamos de uma pauta. Tomar cafezinho, isso não cabe nesse momento. Nossas pautas, agendas, reuniões precisam de objetivos exclusivos’. Presidente pode ficar tranquilo. Fui oposição ao PT nessa Casa durante 13 anos. Nem por isso deixei de dialogar, ser respeitado e tive quando fui candidato à presidência da Câmara, em todas elas apoio de muitos deputados do PT. Nós dialogamos, porque nós somos democratas.”

A ideia melhor para o momento, conforme Maia, é união com um único objetivo, garantir as condições para que os municípios e os estados possam trabalhar. Todo eles têm estruturas de UTIs que precisam ser ampliadas.

“O governo federal está cumprindo seu papel. No meu Rio de Janeiro, são dois hospitais de campanha, um no Leblon, um na Barra da Tijuca. Hospitais privados estão sendo abertos para poder receber pacientes do Souza Aguiar hoje tem poucos leitos. Temos que cuidar disso. É isso que interessa”, pontuou o democrata.

“Eu não vou de forma nenhuma responder o presidente no nível que ele quer que eu responda. Eu vou responder como eu disse. Ele taque as pedras e nós mandamos as flores. Porque é disso que se trata esse momento de crise, de união com um objetivo só que é salvar vidas, empregos, renda e empresas brasileiras”, complementou Maia.

 

 

 

 

 

 

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