O diretor-presidente do IGES/DF, Juracy Cavalcante Lacerda Júnior, piauiense, médico de carreira, graduado em medicina pela Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC/MG); e pós-graduado em Gestão Hospitalar e Operacional pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Juracy Cavalcante assumiu o cargo de diretor-presidente do IGES/DF em 13 de abril de 2023, completando os seus primeiros 100 dias de gestão, sendo o sétimo indicado para o cargo pelo governador Ibaneis Rocha. Durante a sabatina de Juracy Cavalcante na CLDF, o mesmo prometeu atuar para garantir o “maior nível de transparência à população”, além de combater a ineficiência, reduzir custos, implantar novas ferramentas de gestão e integrar sistemas informáticos. Ele falou com o Portal Tudo Ok Notícias, confira abaixo.
Por Josiel Ferreira e Paulo Medeiros

Tudo OK Notícias – O senhor completou 100 dias à frente do IGES/DF, quais foram os avanços e melhorias na saúde do Distrito Federal?
Juracy – Como primeiro ponto, destaco a implantação da governança clínica, que é um modelo atual de gestão hospitalar, criado na década de 90, no Reino Unido, e introduzido no Brasil em meados de 2002. A Governança Clínica é um modelo de gestão em saúde que visa melhorar a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes, por meio de uma abordagem colaborativa e baseada em evidências. A Governança Clínica está fundamentada em 7 pilares que sustentam a estratégia, e nesses 100 primeiros dias, nós mantivemos o foco em implantar a Governança Clínica no IGES/DF. O segundo ponto foi nosso esforço para reabrir leitos e salas cirúrgicas que estavam paralisadas, incluindo a renovação do parque tecnológico, com a chegada de tomógrafos, e a instrumentação das unidades odontológicas. Criamos ainda um Núcleo de Melhoria Contínua de Processos, para a avaliação constante dos processos hospitalares, pois acredito que, a todo momento, nós temos oportunidades de melhoria, buscando a excelência da operação. Por último, destaco nosso projeto de gestão da cadeia de suprimentos, inicialmente implantado no Hospital de Santa Maria, garantindo a completa rastreabilidade de medicamentos, desde a sua entrada no estoque até a dispensação ao paciente.
Tudo OK Notícias – o senhor falou sobre Gestão Hospitalar, Mapeamento de Processos e aproveitando o tema, eu gostaria de perguntar sobre agendamentos de consultas, pois este problema é histórico na saúde do Distrito Federal e nenhum gestor, até o presente momento, conseguiu resolver este problema básico e que afeta diretamente a vida do cidadão. O que o IGES/DF tem feito ou pretende fazer sobre isso?
Juracy – Nossa intenção é fazer o uso intensivo da tecnologia para tentar solucionar este problema. O agendamento precisa ser informatizado. Ou seja, o cidadão precisa realizar seus agendamentos diretamente em seus telefones celulares, recebendo comunicações e informações diretamente, principalmente para evitar deslocamentos desnecessários. Imagine um morador da Ceilândia, Sol Nascente ou Planaltina que precise marcar uma consulta no Hospital de Base (HBDF)? Sabemos que a dificuldade é grande e por isso estamos aprimorando os sistemas tecnológicos, justamente para prestar um melhor serviço à população.
Tudo OK Notícias – Veremos esta solução disponível ainda este ano?
Juracy – Não, e explicou o porquê. Nós estamos empenhados em várias frentes de trabalho necessárias à esta implantação. Ou seja, para que tenhamos o agendamento disponível, precisamos, primeiramente, atualizar alguns sistemas internos. Entretanto, ainda este ano, já daremos o primeiro passo, com a disponibilização do sistema de acompanhamento das filas, inicialmente de nossas UPAs, em tempo real.
Tudo OK Notícias – Como assim? Explique um pouco melhor sobre esse sistema.
Juracy – É uma ferramenta desenvolvida pelo IGES/DF, que já encontra-se em testes, e que em breve estará disponível no site do instituto. Por exemplo, o paciente que está em Taguatinga, tem a opção de 3 UPAs mais próximas: Ceilândia I, Ceilândia II ou Vicente Pires. Neste caso, por meio de seu telefone celular, o paciente poderá verificar qual das três unidades estará mais “vazia”, para que dessa forma ele se desloque para ela e tenha seu atendimento “mais agilizado”.
Tudo OK Notícias – O senhor citou o uso da tecnologia, que hoje faz parte do nosso cotidiano. Sendo assim, na prática, digamos que eu esteja em uma das UPAs da Ceilândia, e após fazer o meu cadastro, dar entrada na UPA, o sistema conseguirá nos informar sobre o tempo de atendimento? Disponibilidade de médicos? Qualidade do atendimento?
Juracy – Inicialmente, será possível ver o tempo de espera e como estão as filas de atendimento nas UPAs. Vou te dar um exemplo: um paciente que esteja gripado, por exemplo, poderá entrar no sistema e verificar o tempo que levará para ele ser atendido, caso opte por uma de nossas unidades de saúde. Sendo assim, o paciente poderá, a critério dele, avaliar qual o melhor horário para ele se deslocar. Ou seja, ele poderá escolher um momento em que as filas de atendimento estejam menores e com isso, provavelmente, os tempos de espera também sejam mais curtos. No site do IGES/DF poderemos verificar o tempo de espera, quantos pacientes estão aguardando atendimento e quantos pacientes estão “regulados” – prontos para deslocamento para outras unidades de saúde. Se em uma unidade de saúde específica, o tempo de espera for de 2 horas, com 60 pessoas na fila para uma determinada especialidade, então, quem optar por ser atendido naquela unidade saberá, com antecedência, a condição que lhe aguarda. Por outro lado, os sistemas internos fornecerão, ao gestor local, todas as informações detalhadas sobre a jornada de cada um de nossos pacientes.
Tudo OK Notícias – Esta semana recebemos algumas denúncias sobre pacientes do entorno que não foram atendidos no HBDF. Procede?
Juracy – Acredito que isso tenha sido um caso à parte. O HBDF é um hospital de alta complexidade e normalmente, pessoas se deslocam de diversas regiões, incluindo o entorno, buscando atendimento diretamente no HBDF. A maioria dos pacientes encaminhados para o HBDF são regulados, ou seja, são pacientes encaminhados por outras unidades de saúde e que passaram por detalhadas avaliações sobre a complexidade de seus casos. De qualquer forma, os pacientes que chegam à recepção do HBDF são avaliados e instruídos, se for o caso, sobre o melhor caminho para a resolução de seus problemas. Caso seja detectado que o atendimento se encaixa no perfil do HBDF, imediatamente o paciente é cadastrado e o atendimento iniciado. Entretanto, caso seja detectada a baixa complexidade do atendimento, então, o paciente é instruído a procurar uma unidade de saúde de sua região.
Tudo OK Notícias – O senhor citou o termo “transparência”, inclusive durante a sabatina na CLDF. Poderia nos explicar melhor o que está sendo feito?
Juracy – Acredito que, com a tecnologia citada anteriormente, iremos dar os primeiros passos no aprimoramento da transparência no atendimento ao cidadão, e com isso, resultando, na prática, em uma melhor organização, sempre que possível, do tempo de deslocamento, permanência e atendimento do cidadão em nossas unidades de saúde. Aproveito a oportunidade para citar as atualizações e modernizações que realizamos no Portal da Transparência do IGES/DF, com mais informações disponíveis ao cidadão.
Tudo OK Notícias – Ainda no assunto transparência, existem reclamações contra médicos no HBDF?
Juracy – Nós temos uma Ouvidoria, disponível para a população, e a partir dela qualquer cidadão, com todo sigilo, poderá se manifestar, reclamando, denunciando ou elogiando. Nossa intenção é que a transparência máxima seja dada aos processos e que nosso paciente seja atendido da melhor maneira possível. Qualquer manifestação contra profissionais do IGES/DF, sejam eles médicos ou não, é apurada diretamente pela Controladoria do IGES/DF e, em alguns casos, pela Controladoria do GDF. Da mesma forma, a ouvidoria pode ser utilizada por nossos servidores e terceirizados, para suas manifestações. Nós fazemos uso das estatísticas produzidas pela ouvidoria para aprimorar, ainda mais, os nossos processos internos, reforçando a governança corporativa.
Tudo OK Notícias – A ouvidoria é o único canal de comunicação? Ou há outros disponíveis?
Juracy – Nas unidades de saúde, temos gestores locais que, em caso de necessidade, nossos pacientes podem contatar, para expor suas demandas ou manifestações. Em todos os casos, nossa intenção é unir forças para solucionar problemas. Lembrando que nossa ouvidoria está disponível no site do IGES/DF ou pelo telefone 162. Além disso, eu gostaria de frisar que estamos com um projeto chamado Humanizar, que tem por foco as pessoas, sejam elas servidoras ou terceirizadas, que atuam em nome do IGES/DF nas recepções, cujo objetivo é melhorar a qualidade do atendimento e a consequente experiência do usuário nas recepções de nossa rede de saúde, tornando o acolhimento muito mais receptivo e humano.
Tudo OK Notícias – E sobre a falta de médicos? Como está a situação no HBDF?
Juracy – No HBDF, temos profissionais disponíveis, contudo, para algumas especialidades, há dificuldades de contratação, como por exemplo, um caso recente que tivemos, em relação à contratação de oncologistas; cirurgiões de cabeça e pescoço; e anestesistas. São profissionais muito demandados pelo mercado e que, naturalmente, teremos mais dificuldades para contratação. Tornar o “emprego público, “mais atrativo”, neste caso, não é um procedimento simples, pois dificilmente conseguiremos ofertar os mesmos benefícios que os mercados privados. Contudo, estamos trabalhando nisso e, mesmo com dificuldades, temos conseguido contratar. Recentemente, abrimos vagas para anestesistas e, apesar de não termos preenchido todas as vagas, conseguimos contratar alguns profissionais. Temos buscado revisar os nossos processos e benefícios para tornar o IGES/DF mais atrativo, não só para médicos, mas para todos os profissionais que atuam na assistência à saúde.
Tudo OK Notícias – Recentemente, o HBDF foi considerado uma das maiores e melhores unidades de saúde pública da América Latina, conquistando uma importante certificação de sua UTI Cirúrgica. O que o senhor pensa disso?
Juracy – Eu acredito que essa certificação é resultado de um trabalho que vem sendo executado, por meio de um processo de aprimoramento, principalmente pela equipe do Dr. José Roberto Macedo, gerente da Unidade de Cuidado ao Paciente Crítico do HBDF, com o apoio de outros profissionais e setores, que se dedicam a prover o melhor para quem mais precisa. Este caso é um exemplo concreto da necessidade da melhoria contínua dos processos e nosso objetivo é obter outras certificações para nossas unidades de saúde, gerando mais evidências de que estamos indo no caminho correto, que é justamente o de prover melhores serviços para a população. Processos certificados garantem que as próximas gerações de gestores mantenham a qualidade elevada nos serviços prestados. Ainda este ano, nós pretendemos certificar algumas de nossas UPAs e logo após, iremos nos dedicar às certificações de nossos hospitais.
Tudo OK Notícias – O senhor citou inovações tecnológicas na área hospitalar, sendo assim, quais são os investimentos para este ano?
Juracy – Este ano, realizamos investimentos para redução da fila de cirurgias oncológicas, e nosso próximo passo será atuar na redução da fila de endoscopias, inclusive realizamos a aquisição de equipamentos e instrumentos para realização de cirurgias e exames. Além disso, iniciamos os estudos para a criação de um novo centro cirúrgico para o HBDF. Em relação a equipamentos e instrumentação, realizamos aquisições para reabrir as salas cirúrgicas, que citei logo no início, como sendo uma de nossas prioridades, justamente para ampliar a nossa capacidade de atendimento.
Tudo OK Notícias – E sobre infraestrutura e reformas, o que está sendo realizado ou planejado?
Juracy – Para este ano, nós esperamos inaugurar um novo centro de infusão no HBDF, justamente para atender pacientes da oncologia, especialmente aqueles que necessitam de quimioterapia. Essa nova estrutura proverá mais conforto e segurança para esta parte da população. Em relação ao novo centro cirúrgico, nossa previsão é que, no próximo ano, possamos iniciar a sua construção. Em relação à parte tecnológica, para este ano, teremos salas de comando, 100% desenvolvidas pelo IGES/DF, que visam acompanhar a operação hospitalar em tempo real, auxiliando os gestores na tomada de decisões.
Tudo OK Notícias – Em se tratando do HBDF, um edifício da década de 60, prestes a comemorar 63 anos desde a sua inauguração, quais são os planos para sua reestruturação ou reforma?
Juracy – O HBDF é um caso à parte e deve ser tratado com muito cuidado, pois como você citou, a construção tem mais de 60 anos e ela não foi planejada para realizar os serviços atuais, uma vez que a população estimada no passado era bem menor. Mas de qualquer forma, nós temos equipes planejando a modernização do HBDF. Inclusive, já temos alguns estudos sobre a reforma gradual do HBDF, assunto que espero, em breve, apresentar à população.
Tudo OK Notícias – Como está a parceria entre o IGES/DF e SES/DF?
Juracy – Dra. Lucilene Florêncio é uma colega de trabalho que admiro, tanto como profissional da saúde, quanto como gestora pública. Eu acompanhei de perto os trabalhos realizados por ela na Ceilândia e acredito que ela possa contribuir muito para a saúde do Distrito Federal. Despacho com ela várias vezes por semana, pois ambos sabemos que a saúde tem que ser discutida em rede e que os problemas do IGES/DF afetam diretamente a SES/DF, e vice e versa. Então, temos que atuar em conjunto para a solução dos problemas e dos aprimoramentos da rede. Destaco que a parceria vai além da alta gestão. Todos os nossos setores, departamentos, diretorias, subsecretarias buscam trocar informações e soluções para os problemas locais.
Tudo OK Notícias – E para a população do Sol Nascente, há alguma possibilidade de termos uma unidade de saúde naquela região?
Juracy – Atualmente, as unidades que atendem aquela população são Ceilândia I e Ceilândia II. Entretanto, vale destacar que a criação de novas unidades não depende diretamente do IGES/DF, mas sim de estudos realizados pelo Ministério da Saúde, que avalia a necessidade de novas unidades de saúde nas diversas regiões do Brasil. Mas com certeza, caso esta demanda chegue a nós, será uma imensa satisfação construir uma unidade para aquela população.
Tudo OK Notícias – A pandemia trouxe sobrecarga física e mental sobre os servidores da saúde. O que o IGES/DF tem feito a favor de seus profissionais?
Juracy – Eu conheço esta realidade de perto, na prática, e me preocupo muito com a qualidade de vida de nossos profissionais. Uma de nossas metas é aprimorar, cada vez mais, a gestão de pessoas, introduzindo novos conceitos que implementem, na prática, mais qualidade no ambiente de trabalho, melhorando processos; reduzindo retrabalhos; aprimorando equipamentos, ferramentas e estrutura física; e, em geral, melhorando a comunicação corporativa e reduzindo o estresse ocupacional. Nossa meta é reter pessoas para formar talentos e prover excelência na saúde distrital.