Por Miguel Lucena
Na Páscoa do veneno, a casca doce do ovo escondia a bile de quem ama demais — ou diz amar. Uma mulher enviou chocolate envenenado para a ex-esposa do homem que hoje chama de seu. Quem comeu primeiro foi o filho dele, uma criança. Morreu. A mãe e a ex estão internadas.
O crime é bárbaro, mas não raro. Chama-se “amor”, mas é posse, disputa, frustração. Gritam: “Amo mais do que a mim!” — mentira. Ninguém ama o outro mais do que ama a si. O que acham ser amor é projeção de desejos, de domínio, de espelhos rachados.
É por isso que o amor vira ódio. Porque o que morre não é o outro — é a imagem que a pessoa fazia de si mesma ao lado dele. E então ela mata.
E o amor, esse que deveria ser entrega, torna-se guerra. Guerra que enterra crianças. Guerra que finge vir embrulhada em papel de presente. Guerra que não se importa com quem vai sangrar. Porque o centro, sempre, é o ego.