Ilha do Combu revela desafios ambientais às vésperas da COP30 em Belém
Por Fabíola Sinimbú – Enviada especial*
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém (PA), reunirá líderes mundiais com o objetivo de pensar e agir pelo futuro dos territórios urbanos e florestais diante das crescentes ameaças do aquecimento global. Pela primeira vez, o principal palco das negociações internacionais sobre o clima será a Amazônia — bioma estratégico tanto por sua abundância de recursos naturais quanto por sua vulnerabilidade.
A apenas 1,5 quilômetro do centro histórico de Belém, a Ilha do Combu ilustra os desafios sociais e ambientais enfrentados por populações ribeirinhas. Parte da área insular que representa 65% do território da capital, a ilha é acessada por uma travessia de aproximadamente 15 minutos sobre o Rio Guamá.
Nascido e criado na ilha, o comerciante Rosivaldo de Oliveira Quaresma, de 49 anos, percorre esse trajeto com frequência em busca de água potável. Ele é dono de um restaurante e relata que, apesar do crescimento do turismo na região, a população ainda carece de saneamento básico adequado. “Alguns turistas acham que usamos a água do rio para fazer suco ou bater o açaí. Mas a gente explica que usa água mineral, que vem em tambores de 20 litros e é cara para nós. Não temos outra opção”, afirma.
Segundo Rosivaldo, a água do rio é bombeada para uma pequena caixa d’água e usada apenas em tarefas domésticas após um tratamento caseiro. “O ideal seria um sistema coletivo de tratamento para as famílias, mas os custos são inviáveis para a população local”, lamenta.
Diferente da área continental, abastecida por redes públicas, a região insular depende de sistemas independentes, o que torna ainda mais complexa a expansão de infraestrutura sanitária. Embora 30 obras estejam em andamento na área urbana de Belém para a COP30, as ilhas — incluindo o Combu — ficaram de fora dos investimentos.
Criada como Área de Proteção Ambiental (APA) há 28 anos, a Ilha do Combu é gerida pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-bio). Em março, o órgão informou que o plano de manejo da ilha começou a ser elaborado apenas no último ano e está em fase final, mas não há previsão oficial de publicação.
Na prática, a ausência de saneamento adequado se agrava com o aumento do fluxo turístico. A maioria das 596 famílias utiliza fossas sépticas, que se mostram insuficientes para a demanda. “A gente não joga esgoto no rio ou na mata. Mas, quando a fossa enche, temos que despejar na mata. E não há apoio para resolver isso”, relata Rosivaldo.
Exceções surgem com iniciativas como a da professora aposentada Ana Maria de Souza, 61 anos. Ao decidir empreender na ilha, ela construiu uma fossa ecológica para sua hospedaria. O sistema, baseado em tanques de evapotranspiração e desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), usa entulhos, pneus e plantas como bananeiras e helicônias, que ajudam a purificar os dejetos e devolver a água limpa à atmosfera. “Estou muito feliz com minha fossa ecológica. Funciona bem e não polui o meio ambiente”, comemora Ana Maria.
Na área continental, os preparativos para a COP30 incluem macrodrenagem, canalização de rios, rede de esgoto e pavimentação. Segundo Hana Ghassan, presidente do comitê estadual da COP30, as obras seguem dentro do cronograma e devem beneficiar até 900 mil pessoas. Dois rios já foram canalizados.
Morador há 25 anos às margens do canal da Rua Timbó, o técnico Glaybson Ribeiro observa melhorias após a conclusão das obras: “A mudança foi significativa”. Já o vendedor de peixe Raimundo da Costa Nunes, que vive há 40 anos no local, diz que não precisa mais elevar sua casa para evitar alagamentos: “Melhor quente, sem sombra, do que cheio de água”.
A reportagem procurou o Ideflor-bio para mais informações sobre o plano de manejo da Ilha do Combu, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Fonte: Agência Brasil