Por Miguel Lucena
Alexandre de Moraes não precisa de visto pra ir a New York. A dele fica na 107 Sul, em Brasília, entre um petisco de carne de sol e um gole de cerveja gelada. Lá, a Constituição é debatida entre goles, o Supremo vira apelido e até o garçom tem opinião formada sobre cláusula pétrea.
Na New York brasiliense, o Xandão é personagem folclórico. Tem sempre alguém dizendo que ele vai chegar a qualquer momento — ou porque derrubou um sigilo, ou porque a pinga subiu. O dono do boteco, Seu Raimundão, jura que já viu Alexandre por ali, disfarçado de careca anônimo, comendo moela e falando de jurisprudência.
Ali ninguém é preso, mas todo mundo julga. O motoboy condena o cliente que não dá gorjeta, a manicure da esquina absolve o político ladrão com a frase: “pelo menos rouba e faz”.
New York, 107 Sul, é Brasil em estado líquido, servido em copo americano. E quem diz que o Alexandre não aparece por lá é porque nunca ficou até depois das onze. É nesse horário que os habeas corpus viram música e a democracia tira o sapato pra dançar forró.