Exploração infantil online: denúncias de ‘adultização’ expõem guerra política no Congresso
Por Simone Salles
Nos últimos dias, o termo “adultização” foi destaque nas redes sociais e chegou ao centro do debate no Congresso Nacional. O assunto ganhou força após o youtuber Felca publicar um vídeo denunciando a exposição precoce e a exploração sexual de crianças e adolescentes na internet, citando o influenciador Hytalo Santos como exemplo de casos que envolvem conteúdos sexualizados com menores de idade.
O documentário publicado por Felca em seu canal no YouTube, na última quarta-feira (6), ultrapassou a marca de 30 milhões de visualizações em apenas cinco dias. O criador optou por disponibilizar o conteúdo gratuitamente, sem anúncios ou monetização, reforçando o caráter de denúncia. Anteriormente, ele já tinha se destacado ao se posicionar contra o envolvimento de influenciadores com apostas esportivas, conhecidas como bets. Agora, o alcance e a intensidade das reações transformaram a pauta em um dos temas mais discutidos do país.
A adultização infantil descreve a exposição de crianças a comportamentos, responsabilidades e expectativas próprias da vida adulta. Felca relacionou o fenômeno ao contexto da pedofilia, apontando que algoritmos das redes sociais podem favorecer a exposição e exploração desses jovens, tornando-os alvos mais vulneráveis para criminosos. Segundo ele, a sexualização precoce traz mais risco de abuso, problemas de autoestima e segurança, ansiedade, depressão e dificuldade de socialização.
O assunto gerou repercussão imediata no meio político. Na Câmara dos Deputados, parlamentares de diferentes espectros políticos defenderam medidas para proteger menores no ambiente digital, mas as soluções propostas dividiram opiniões. Grande parte dos deputados são favoráveis ao endurecimento das penas para crimes de exploração sexual online. Hoje, o Código Penal prevê de 4 a 10 anos de prisão para esse tipo de crime.
Já a base dos partidos governistas vem sendo criticada por usar o tema como pretexto para restringir a liberdade de expressão nas redes, e não para proteger as crianças, com a intenção de censurar posicionamentos políticos, especialmente os de direita.
Diante da mobilização, o presidente da Câmara, Hugo Motta, anunciou a criação de um grupo de trabalho com prazo de 30 dias para apresentar uma proposta voltada à segurança digital de crianças e adolescentes. Atualmente, tramitam mais de 60 projetos de lei sobre o tema. Os líderes partidários decidiram realizar, na próxima semana, uma comissão geral no Plenário para aprofundar a discussão.