Por Miguel Lucena
O sertão chorou.
Não foi só uma canção. Foi profecia.
Hoje, 24 de maio, a poesia perdeu uma de suas vozes mais profundas, mais autênticas, mais teimosamente vivas: Wilson Aragão, o menino sarará de Piritiba que cantava com bodoque e coração, partiu. Mas não foi embora. Poetas não partem — se transformam em canto.
Autor de pérolas como Capim Guiné, imortalizada na voz de Raul Seixas, e tantas outras como Guerra de Facão, Sertões, Sertões, Beira Mar e Canção do Mês de Abril, Aragão foi um guardião da alma nordestina. Seus versos nasceram do chão, da dor, da esperança e da resistência. Não escreveu para os salões. Escreveu para o mato, para o povo, para a terra. Escreveu para que o Brasil não esquecesse de onde veio.
No sítio onde plantou sonhos, enfrentou grileiros e colheu poesia. Preferia trocar bombas por facões, não por medo da luta, mas por amor à vida. E se emocionava com as canções que compunha como quem lavra o chão com lágrimas — como quando vi Vital Farias chorar ouvindo Canção do Mês de Abril.
Aragão era desses que transformam o mundo com palavras. Que mexem com a alma sem levantar a voz. Um poeta de mancheia, desses que não cabem nas prateleiras da história oficial, mas que ficam eternos nas estantes do coração do povo.