Papa Francisco morre aos 88 anos após 12 anos de pontificado
O Vaticano anunciou na madrugada desta segunda-feira (21) a morte do papa Francisco, aos 88 anos. Nascido Jorge Mario Bergoglio, o pontífice liderou a Igreja Católica por 12 anos e entrou para a história como o primeiro papa latino-americano e jesuíta a ocupar o cargo máximo da instituição.
Da Argentina para o mundo
Filho de imigrantes italianos, Bergoglio nasceu em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936. Cresceu no bairro de Flores, apaixonado pelo San Lorenzo, clube do coração, e ingressou no seminário de Villa Devoto aos 21 anos, com o sonho de se tornar sacerdote. Em 1969, foi ordenado padre, iniciando uma trajetória marcada pelo equilíbrio entre fé e intelectualidade.
Estudou teologia no Colégio Máximo San José e concluiu doutorado na Universidade de Freiburg, na Alemanha. Durante o período acadêmico, foi diretor espiritual e confessor da Igreja da Companhia de Córdoba. Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires pelo então papa João Paulo II e, seis anos depois, assumiu o arcebispado da capital argentina. Em 2001, tornou-se cardeal, cargo que lhe deu projeção global e o inseriu no núcleo decisório da Igreja.
Voz firme e progressista
Ao longo da carreira eclesiástica, Francisco manteve posições firmes sobre temas como o aborto, a homossexualidade e o celibato clerical. Contudo, seu discurso se flexibilizou à medida que ganhou protagonismo na hierarquia católica. Conhecido pelo estilo simples e próximo aos mais pobres, chegou a pedir que seus conterrâneos não fossem ao Vaticano celebrar sua nomeação como cardeal, sugerindo que doassem o dinheiro a quem precisava.
Um pontificado marcado por mudanças
A eleição de Bergoglio ao papado, em 13 de março de 2013, foi histórica. Com maioria de cardeais europeus no conclave, a escolha de um argentino refletiu a mudança no mapa do catolicismo, que passou a ter maior representatividade na América Latina.
Durante o pontificado, Francisco promoveu uma série de reformas e defendeu causas sociais e ambientais. Criou comissões para o enfrentamento de abusos sexuais na Igreja, reduziu a concentração europeia no cardinalato e se posicionou com firmeza em defesa dos migrantes, refugiados e do meio ambiente. Em 2021, lançou o maior processo de consulta popular da história da Igreja, envolvendo 1,3 bilhão de católicos em discussões sobre o futuro da instituição.
Mesmo com visões conservadoras sobre temas como o aborto e o celibato, Francisco foi uma voz progressista em outras frentes, promovendo a inclusão de comunidades periféricas, minorias religiosas e lideranças de regiões antes esquecidas pelo Vaticano.
Diplomacia e humanidade
Na arena internacional, teve papel crucial na reaproximação diplomática entre Cuba e Estados Unidos e se posicionou, de forma contundente, em defesa dos refugiados palestinos, denunciando ações militares de Israel mesmo diante da resistência de setores tradicionais da Igreja.
Em junho de 2024, celebrou uma oração nos jardins do Vaticano pela paz em Gaza. Em tom emocionado, disse:
“Os nossos esforços foram em vão. Agora, Senhor, ajuda-nos. Concede-nos a paz, ensina-nos a paz, conduz-nos à paz. Abre os nossos olhos e os nossos corações e dá-nos a coragem de dizer ‘nunca mais’ à guerra. Com a guerra, tudo está destruído.”
O legado de Francisco é o de um líder espiritual que buscou unir tradição e renovação, escuta e ação, fé e humanidade — deixando um marco inesquecível na história da Igreja Católica e do mundo.