Maria José Rocha Lima
O Papa Francisco, além de seu legado em defesa da igualdade, do diálogo inter-religioso e dos pobres, nos deixa uma marca singularíssima: o humor. Um humor leve, feito de piadas graciosas, capazes de desarmar até os espíritos mais empedernidos.
Logo no início de seu papado, Francisco esteve no Brasil, em julho de 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude. Numa entrevista, brincou sobre a eterna rivalidade sul-americana:
“Esse problema já estava resolvido. Porque negociamos bem: o Papa é argentino e Deus é brasileiro”, disse.
Mas a piada que mais cativou os brasileiros foi sua resposta bem-humorada a um fiel que lhe pediu enfaticamente:
– Papa, ore por nós, brasileiros.
Ao que Francisco respondeu:
– Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração!
Certa vez, declarou com seu já conhecido charme:
“Vocês são uns ladrões… roubaram meu coração. E roubaram bem!”
Repetiu a brincadeira em fevereiro de 2014, ao receber o cardeal brasileiro Dom Orani Tempesta no Vaticano:
“O Brasil tem meu carinho. Roubaram meu coração”, disse, diante dos cardeais. Depois, voltando-se a Dom Orani, completou rindo:
“E como sabem roubar bem!”
O intérprete do Papa durante a JMJ conta que ele também brincou sobre um atraso na correspondência:
“Sua carta demorou mais para chegar do que a carta de Cristóvão Colombo para a tia dele!”
Fez troça de seu próprio povo ao cumprimentar um tradutor e dizer:
“Finalmente conheci um argentino humilde!”
Numa reunião com judeus, narrou uma história com fina ironia, sobre um padre antissemita que nunca perdia a chance de atacar os judeus. Em certo sermão, disse:
“Jesus, ao descer da cruz, olha para a Virgem e lhe diz: ‘Mãe, vamos embora daqui. Parece que não gostam da gente por aqui’”, contou o Papa, arrancando risos até dos mais sérios.
O jornalista Ariel Palácios, da GloboNews, descreveu o humor de Francisco como “leve e surpreendente”. E, como dizia o escritor G.K. Chesterton, os anjos voam porque têm a alma leve – “não levam tudo tão a sério”.
O bom humor do Papa Francisco conquistou o mundo. Principalmente nós, que moramos do lado debaixo do Equador. Onde, como se diz, não existe pecado.
Maria José Rocha Lima (Zezé) é professora, mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Psicanálise. Foi deputada da ALBA de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.